Mostrar código-fonte de Aquecimento oceânico

[[File:Ocean Heat Content (2012).png|thumb|400px|right|Gráfico mostrando a elevação na quantidade de calor armazenado nos oceanos nas últimas décadas]]

O '''aquecimento oceânico''', também chamado de '''conteúdo de calor do oceano''' (OHC) ou '''absorção de calor do oceano''' (OHU), é a elevação da [[Temperatura do oceano|temperatura]] média dos oceanos através da energia absorvida e armazenada por eles. É um fenômeno que é observado no nosso passado geológico como ocorrendo por causas naturais, mas no presente vem sido intensificado em uma alta velocidade pela ação antrópica, como resultado do [[aquecimento global]]. 

O aquecimento oceânico desencadeia uma série de efeitos secundários de grande impacto por si mesmos, como a [[subida do nível do mar]], mudanças na [[salinidade]], [[desoxigenação oceânica|oxigenação]] e estratificação das [[Massa de água|massas de água]], prejuízos à [[biodiversidade]], interferência nos padrões de ventos e chuvas e intensificação dos episódios de clima extremo, como os [[tufão|tufões]], entre outras consequências. Essas mudanças atuam em combinação, potencializando seus efeitos, e afetam todo o planeta. Além de representarem um grave desequilíbrio ecológico, elas colocam sérios desafios para a sociedade em termos de [[segurança alimentar]], física, política, econômica e social, tendo consequências que se ramificam sobre todos os aspectos da vida humana. 

A água do oceano pode absorver muita [[Irradiação solar|energia solar]] porque a água tem uma [[Capacidade térmica|capacidade de aquecimento]] muito maior do que os gases [[Atmosfera da Terra|atmosféricos]].<ref name="OHC2020">{{cite web|url=https://www.climate.gov/news-features/understanding-climate/climate-change-ocean-heat-content|title=Climate Change: Ocean Heat Content|date=2020-08-17|publisher=[[National Oceanic and Atmospheric Administration]]|author=LuAnn Dahlman and Rebecca Lindsey}}</ref> Como resultado, os poucos metros superiores do oceano contêm mais energia do que toda a atmosfera da Terra.<ref name="nvsohc2">{{cite web|url=https://climate.nasa.gov/vital-signs/ocean-heat/|title=Vital Signs of the Plant: Ocean Heat Content|accessdate=2021-11-15|publisher=NASA}}</ref> Desde antes de 1960, navios e estações de pesquisa têm coletado amostras das t[[Temperatura da superfície do mar|emperaturas da superfície do mar]] e das [[Temperatura do oceano|temperaturas em maior profundidade]] em todo o mundo. Desde 2000, uma rede em expansão de quase 4.000 [[Argo (oceanografia)|flutuadores robóticos Argo]] mediu anomalias de temperatura ou a mudança no conteúdo de calor do oceano. Com o aprimoramento da observação nas últimas décadas, o conteúdo de calor da parte superior do oceano foi analisado como tendo aumentado em uma taxa acelerada.<ref>Li, Zhi; England, Matthew H.; Groeskamp, Sjoerd (2023). [https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10613216/ "Recent acceleration in global ocean heat accumulation by mode and intermediate waters"]. ''Nature Communications''. '''14''' (6888): 6888. [[Bibcode]]:[https://ui.adsabs.harvard.edu/abs/2023NatCo..14.6888L 2023NatCo..14.6888L]. [[Digital object identifier|doi]]:[https://www.nature.com/articles/s41467-023-42468-z 10.1038/s41467-023-42468-z]. [[PubMed Central|PMC]] [https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10613216/ 10613216]. [[PubMed|PMID]] [https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37898610/ 37898610].</ref><ref>Minière, Audrey; von Schuckmann, Karina; Sallée, Jean-baptiste; Vogt, Linus (2023). [https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10752897/ "Robust acceleration of Earth system heating observed over the past six decades"]. ''Scientific Reports''. '''13''' (1): 22975. [[Bibcode]]:[https://ui.adsabs.harvard.edu/abs/2023NatSR..1322975M 2023NatSR..1322975M]. [[Digital object identifier|doi]]:[https://www.nature.com/articles/s41598-023-49353-1 10.1038/s41598-023-49353-1]. [[PubMed Central|PMC]] [https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10752897/ 10752897]. [[PubMed|PMID]] [https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38151491/ 38151491].</ref><ref>Storto, Andrea; Yang, Chunxue (2024). [https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10791650 "Acceleration of the ocean warming from 1961 to 2022 unveiled by large-ensemble reanalyses"]. ''Nature Communications''. '''15''' (545): 545. [[Bibcode]]:[https://ui.adsabs.harvard.edu/abs/2024NatCo..15..545S 2024NatCo..15..545S]. [[Digital object identifier|doi]]:[https://www.nature.com/articles/s41467-024-44749-7 10.1038/s41467-024-44749-7]. [[PubMed Central|PMC]] [https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10791650/ 10791650]. [[PubMed|PMID]] [https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38228601/ 38228601].</ref> A taxa líquida de mudança nos 2.000 metros superiores de 2003 a 2018 foi de +0,58±0,08 W/m2 (ou ganho médio anual de energia de 9,3 {{Ill|en|Ordens de magnitude (energia)|Orders of magnitude (energy)|zettajoules}}). É difícil medir as temperaturas com precisão durante longos períodos e, ao mesmo tempo, cobrir áreas e profundidades suficientes. Isso explica a incerteza nos números.<ref name=":02">{{Cite journal |title=Improved Quantification of the Rate of Ocean Warming |date=2022 |journal=Journal of Climate |issue=14 |last2=Foster |first2=Grant |pages=4827–4840 |bibcode=2022JCli...35.4827C |doi=10.1175/JCLI-D-21-0895.1 |last3=Hausfather |first3=Zeke |last4=Trenberth |first4=Kevin E. |last5=Abraham |first5=John |volume=35 |doi-access=free |last1=Cheng |first1=Lijing}}</ref> 

==Origem==
O aquecimento oceânico é um produto direto do [[aquecimento global]]. Por uma reação física simples, o aquecimento atmosférico transmite [[energia térmica]] para as águas, elevando sua [[temperatura]]. O aquecimento global, um fenômeno inequívoco e de vastas proporções, por sua vez, tem origem claramente humana, sendo produto da continuada emissão de [[gases estufa]] na atmosfera, oriundos da queima de [[combustíveis fósseis]], [[desmatamento]], processos industriais, [[desperdício de alimentos]] e outros fatores de menor monta. O acúmulo desses gases na atmosfera impede que o calor da Terra se dissipe para o espaço, elevando os níveis globais de calor. A este processo se dá o nome de intensificação do [[efeito estufa]].<ref name="IPCC">IPCC. [http://www.climatechange2013.org/ ''Climate Change 2013: The Physical Science Basis'']. Working Group I — Contribution to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change, 2013</ref>

==Níveis de aquecimento já observados e projeções==
Desde 1990 o [[Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas]] ([[IPCC]]) tem sintetizado a bibliografia especializada sobre o aquecimento global, incluindo o efeito do aquecimento oceânico, entre os muitos que o fenômeno produz. De acordo com o mais recente relatório do IPCC (2013), a camada superficial dos oceanos (até 700 metros) seguramente aqueceu desde 1971, e provavelmente iniciou a esquentar na década de 1870. Não há muita segurança sobre os níveis de elevação térmica antes da década de 1970 devido à escassez de dados confiáveis, mas daquela data em diante as medições se multiplicaram, com métodos e equipamentos cada vez mais aprimorados, dando grande solidez aos achados.<ref name="IPCC"/>
[[Ficheiro:Ocean_heat_anomaly_map_2020.jpg|alt=Ocean heat anomaly map 2020.jpg|miniaturadaimagem|300x300px|Mapa da anomalia de calor do oceano nos 700 metros superiores para o ano de 2020 em comparação com a média de 1993-2020.<ref>{{cite web|url=https://www.climate.gov/news-features/understanding-climate/reporting-state-climate-2020|title=Reporting on the State of the Climate in 2020|date=25 de Agosto de 2021|website=Climate.gov|publisher=National Oceanic and Atmospheric Administration|author=Jessica Blunden}}</ref> Algumas regiões acumularam mais energia do que outras devido a fatores de transporte, como ventos e correntes.]]
Como a transmissão de calor para as águas se dá através do ar, na camada mais superficial do oceano, até 75 metros, ocorre o aquecimento mais importante, cujos níveis entre 1971 e 2010 foram de 0,11ºC por década, com uma variabilidade de 0,09 a 0,13ºC, enquanto dos 75 m até os 700 m o aquecimento tem sido menos intenso, mas ainda perceptível, com uma elevação de cerca de 0,015ºC por década. É provável que tenha ocorrido aquecimento também entre os 700 m e os 2 mil metros a partir da década de 1950, e entre os 3 mil metros até o fundo a partir da década de 1990, mas estas camadas mais profundas ainda têm estimativas mais incertas. Os oceanos são grandes armazenadores de calor, e respondem por cerca de 93% de todo o acréscimo de energia térmica acumulado na Terra entre 1971 e 2010, com a camada até os 700 metros estocando cerca de 64% do total. Leva muito tempo para que as camadas mais profundas equalizem suas temperaturas com as camadas superficiais, e devido ao constante aumento da temperatura atmosférica, o descompasso permanece. O aquecimento apresenta variações regionais significativas devido a múltiplos fatores, como a geografia, padrões climáticos, correntes marinhas e outros. No geral, as águas do [[Hemisfério Norte]] estão se aquecendo mais, em particular a região norte do [[Oceano Atlântico]].<ref name="IPCC" />

O aquecimento oceânico deve continuar ao longo do século XXI, mas os níveis que deve atingir são incertos, dependendo diretamente da evolução das temperaturas atmosféricas. Em 2013 o IPCC previu que as regiões mais aquecidas na superfície devem ser as tropicais e, no Hemisfério Norte, também as subtropicais. Em regiões mais profundas o aquecimento deve ser maior no sul do [[Hemisfério sul|Hemisfério Sul]]. As estimativas mais confiáveis para até 100 metros de profundidade preveem um aquecimento de até 2ºC até o fim do século XXI, e para profundidade até mil metros, até 0,6°C.<ref name="IPCC" /> Múltiplos estudos posteriores ao último relatório do IPCC indicam que o aquecimento está acelerando em torno de 40% além do previsto.<ref>Harvey, Chelsea. [https://www.scientificamerican.com/article/oceans-are-warming-faster-than-predicted/ "Oceans Are Warming Faster Than Predicted"]. ''Scientific American'', 11/01/2019</ref>

=== Medições ===
{{VT|Argo (oceanografia)|Temperatura do oceano}} 
[[Ficheiro:Argo floats in Feb. 2018 colour coded by country.png|alt=Argo floats in Feb. 2018 colour coded by country.png|miniaturadaimagem|300x300px|A distribuição global de flutuadores ativos na matriz Argo.<ref name="argosd">{{cite web|url=https://argo.ucsd.edu/about/|title=About Argo|accessdate=27 de Janeiro de 2023|publisher=Scripps Institute of Oceanography, UC San Diego}}</ref>|esquerda]]
As medições do conteúdo de calor do oceano apresentam dificuldades, especialmente antes da implantação dos flutuadores de perfil [[Argo (oceanografia)|Argo]].<ref name=":3" /> Devido à baixa cobertura espacial e à baixa qualidade dos dados, nem sempre foi fácil distinguir entre as tendências de [[Mudança do clima|aquecimento global]] de longo prazo e a [[Variabilidade e mudança climática|variabilidade climática]]. Exemplos desses fatores complicadores são as variações causadas pelo [[El Niño-Oscilação do Sul|El Niño-Oscilação Sul]] ou as mudanças no conteúdo de calor do oceano causadas por grandes [[Erupção vulcânica|erupções vulcânicas]].<ref name=":0" />

O Argo é um programa internacional de {{Ill|en|Flutuador (oceanografia)|Float (oceanography)|flutuadores robóticos de perfilamento}} implantados globalmente desde o início do século XXI.<ref>{{cite journal |title=Argo Begins Systematic Global Probing of the Upper Oceans |journal=Physics Today |issue=7 |author=Toni Feder |year=2000 |page=50 |bibcode=2000PhT....53g..50F |doi=10.1063/1.1292477 |volume=53}}</ref> As 3.000 unidades iniciais do programa foram ampliadas para quase 4.000 unidades até o ano de 2020. No início de cada ciclo de medição de 10 dias, um flutuador desce a uma profundidade de 1.000 metros e flutua com a corrente por nove dias. Em seguida, desce a 2.000 metros e mede a temperatura, a salinidade (condutividade) e a profundidade (pressão) em um último dia de subida à superfície. Na superfície, o flutuador transmite o perfil de profundidade e os dados de posição horizontal por meio de {{Ill|en|Sistema de satélites (Argos)|Argos (satellite system)|retransmissores de satélite}} antes de repetir o ciclo.<ref>{{cite web|url=https://www.climate.gov/news-features/features/argo-revolution|title=The Argo revolution|date=5 de Dezembro de 2014|website=climate.gov|author=Dale C.S. Destin}}</ref>

A partir de 1992, o [[TOPEX/Poseidon]] e os [[Altímetro|altímetros]] subsequentes da {{Ill|en|Série de satélites Jason|Jason satellite series|série de satélites Jason}} observaram a OHC integrada verticalmente, que é um componente importante do aumento do nível do mar.<ref>{{cite web|url=https://sealevel.jpl.nasa.gov/resources/85/ocean-warming-estimates-from-jason/|title=Ocean Surface Topography from Space: Ocean warming estimates from Jason|date=29 de Janeiro de 2020|publisher=NASA Jet Propulsion Laboratory}}</ref> Desde 2002, o [[Gravity Recovery and Climate Experiment|GRACE e o GRACE-FO]] monitoram remotamente as mudanças oceânicas usando [[gravimetria]].<ref>{{cite journal |title=Monitoring the ocean heat content change and the Earth energy imbalance from space altimetry and space gravimetry |journal=Earth System Science Data |last2=Blazquez |first2=Alejandro |year=2021 |doi=10.5194/essd-2021-220 |last3=Meyssignac |first3=Benoit |last4=Ablain |first4=Michaël |last5=Barnoud |first5=Anne |last6=Fraudeau |first6=Robin |last7=Jugier |first7=Rémi |last8=Chenal |first8=Jonathan |last9=Larnicol |first9=Gilles |display-authors=5 |doi-access=free |last1=Marti |first1=Florence |last10=Pfeffer |first10=Julia |last11=Restano |first11=Marco |last12=Benveniste |first12=Jérôme}}</ref> A parceria entre o Argo e as medições por satélite produziu, portanto, melhorias contínuas nas estimativas da OHC e de outras propriedades oceânicas globais.<ref name="argosd" />

==Relação com politicas públicas==

Baseando-se em dados do Climate Action Tracker (CAT), foram estimados 5 possíveis cenários futuros para o aumento da temperatura oceânica. No caso de não serem criadas politicas públicas de diminuição das emissões de gases, a resultante seria um acréscimo de entre 4,1 e 4,8°C na temperatura do oceano até 2100 (valores de acréscimo de temperatura em relação a valores pré [[Revolução Industrial|revolução industrial]]. No caso das atuais politicas implantadas serem seguidas a risca, se estima um acréscimo entre 3,1-3,7°C até 2100. No cenário dos países assinantes do [[Acordo de Paris (2015)|Acordo de Paris]] seguirem os objetivos propostos se estima um aumento até 2100 entre 2,6-3,2°C. Também foram realizadas projeções para reduções abaixo de 2ºC, para isso seriam necessárias reduções nas emissões de gases do efeito estufa muito maiores dos que já propostos no Acordo de Paris.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Roser|primeiro=Max|ultimo2=Ritchie|primeiro2=Hannah|data=2017-05-11|titulo=CO₂ and other Greenhouse Gas Emissions|url=https://ourworldindata.org/co2-and-other-greenhouse-gas-emissions|jornal=Our World in Data}}</ref>
[[Ficheiro:Globalghg.jpg|miniaturadaimagem|350px|Custos relacionados a redução de diversas fontes de gases do efeito estufa até 2030 (valores em euros).]]

Realizar essas modificações na emissão dos gases do efeito estufa acarreta um custo econômico global, e para se estimar esses custos são realizadas curvas de abatimentos de custos marginais. Nessas curvas são levadas em consideração duas variáveis, o potencial de redução e o custo dessa redução. Ao lado apresenta-se a curva de abatimento apresentada por McKinsey & Company: no eixo '''x''' temos os fatores de diminuição — quanto mais larga a coluna, maior efeito esse fator vai ter na diminuição da emissão de gases do efeito estufa. No eixo '''y''' temos o custo econômico da redução na emissão dessa fonte de 1 tonelada até 2030. Se utilizássemos todas as possibilidades de redução mais eficientes em todo seu potencial, McKinsey estima que o custo total global seja de 200-350 bilhões de euros por ano até 2030. Isso é menos de 1% do [[PIB]] global previsto em 2030. Sendo um custo econômico extremamente pequeno para o benefício ambiental que seria conseguido globalmente, se estima ainda que os custos econômicos, se nenhuma medida for tomada, seriam muito maiores.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Inc.|primeiro=McKinsey & Company,|data=1982-11-20|titulo=McKinsey-rapporten|url=http://dx.doi.org/10.7146/masmed.v2i6.5055|jornal=Massekultur & Medier|volume=2|numero=6|paginas=9|doi=10.7146/masmed.v2i6.5055|issn=0107-3753}}</ref>

== Cálculo ==

=== Definição ===
[[Ficheiro:ThermoclineSeasonDepth.png|alt=ThermoclineSeasonDepth.png|miniaturadaimagem|308x308px|Gráfico de diferentes termoclinas (profundidade versus [[temperatura do oceano]]) com base nas estações e na latitude.]]
Para calcular o conteúdo de calor do oceano, é necessário medir a [[temperatura do oceano]] em muitos locais e profundidades diferentes, sendo a [[Integral|integração da densidade de área]] de uma mudança na [[Entalpia|energia entálpica]] em uma bacia oceânica ou em todo o oceano que fornece a absorção total de calor do oceano.<ref name=":12">{{cite book|title=Dynamical oceanography|last=Dijkstra|first=Henk A.|publisher=Springer Verlag|isbn=9783540763758|year=2008|location=Berlin|page=276|edition=[Corr. 2nd print.]}}</ref>

O conteúdo de calor do oceano é um termo usado na [[oceanografia física]] para descrever um tipo de energia {{Ill|en|Potencial termodinâmica|Thermodynamic potential|potencial termodinâmica}} que é armazenada no oceano. Ele é definido em coordenação com a [[equação de estado]] da água do mar. O {{Ill|en|TEOS-10|TEOS-10|TEOS-10}} é um [[padrão internacional]] aprovado em 2010 pela [[Comissão Oceanográfica Intergovernamental]].<ref>{{cite web|url=https://www.teos-10.org/|title=TEOS-10: Thermodynamic Equation of Seawater - 2010|access-date=12 de Fevereiro de 2024|publisher=Joint Committee on the Properties of Seawater}}</ref>

O cálculo do conteúdo de calor do oceano segue o da [[entalpia]] referenciada à superfície do oceano, também chamada de {{Ill|en|Temperatura conservadora|Conservative temperature|entalpia potencial}}. Assim, as mudanças na CCE são mais facilmente comparáveis às trocas de calor da água do mar com o gelo, a água doce e o ar úmido.<ref>{{cite journal |title=Potential Enthalpy: A Conservative Oceanic Variable for Evaluating Heat Content and Heat Fluxes |date=2003 |journal=Journal of Physical Oceanography |issue=5 |pages=945–963 |bibcode=2003JPO....33..945M |doi=10.1175/1520-0485(2003)033<0945:PEACOV>2.0.CO;2 |volume=33 |doi-access=free |last1=McDougall |first1=Trevor J.}}</ref><ref>{{Cite journal |title=Quantifying the Nonconservative Production of Conservative Temperature, Potential Temperature, and Entropy |date=2013-05-01 |journal=Journal of Physical Oceanography |issue=5 |last2=McDougall |first2=Trevor J. |pages=838–862 |lingua=en |bibcode=2013JPO....43..838G |doi=10.1175/jpo-d-11-0188.1 |issn=0022-3670 |volume=43 |doi-access=free |last1=Graham |first1=Felicity S.}}</ref> A CCE é sempre relatada como uma mudança ou como uma “anomalia” em relação a uma linha de base. Os valores positivos também quantificam a absorção de calor do oceano (OHU) e são úteis para diagnosticar para onde está indo a maior parte dos ganhos de energia planetária do aquecimento global.

Para calcular o conteúdo de calor do oceano, são necessárias medições da [[temperatura do oceano]] a partir de amostras de água do mar coletadas em muitos locais e profundidades diferentes.<ref>{{Cite web|last=US EPA|first=OAR|url=https://www.epa.gov/climate-indicators/climate-change-indicators-ocean-heat|title=Climate Change Indicators: Ocean Heat|date=2016-06-27|access-date=2023-02-28|website=www.epa.gov|lingua=en}}</ref> A [[Integral|integração da densidade de área]] do calor do oceano em uma bacia oceânica, ou em todo o oceano, fornece o conteúdo total de calor do oceano. Assim, o conteúdo total de calor do oceano é uma [[integral de volume]] do produto de temperatura, densidade e capacidade de calor sobre a região tridimensional do oceano para a qual os dados estão disponíveis. A maior parte das medições foi realizada em profundidades menores que cerca de 2000 m (1,25 milhas).<ref name=":3">Abraham; et al. (2013). "A review of global ocean temperature observations: Implications for ocean heat content estimates and climate change". ''Reviews of Geophysics''. '''51''' (3): 450–483. [[Bibcode]]:[[bibcode:2013RvGeo..51..450A|2013RvGeo..51..450A]]. [[CiteSeerX]] [https://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/summary?doi=10.1.1.594.3698 10.1.1.594.3698]. [[Digital object identifier|doi]]:[https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/rog.20022 10.1002/rog.20022]. [[Semantic Scholar|S2CID]] [https://www.semanticscholar.org/paper/A-review-of-global-ocean-temperature-observations%3A-Abraham-Baringer/68f3f6c0eadbbf14ddecefc4f1f677fb93e942b2 53350907].</ref>

A densidade de área do conteúdo de calor do oceano entre duas profundidades é calculada como uma integral definida:<ref name=":1" /><ref>{{Cite journal |url=https://gmd.copernicus.org/articles/14/6445/2021/gmd-14-6445-2021.html |title=The interpretation of temperature and salinity variables in numerical ocean model output, and the calculation of heat fluxes and heat content |date=2021-01-19 |journal=Geoscientific Model Development Discussions |issue=10 |last2=Barker |first2=Paul M. |pages=6445–6466 |lingua=en |doi=10.5194/gmd-2020-426 |issn=1991-959X |last3=Holmes |first3=Ryan M. |last4=Pawlowicz |first4=Rich |last5=Griffies |first5=Stephen M. |last6=Durack |first6=Paul J. |volume=14 |doi-access=free |last1=McDougall |first1=Trevor J. |s2cid=234212726}}</ref>

<math>H= c_p \int_{h2}^{h1} \rho(z) \Theta(z) dz</math>

Onde <math>c_p </math> é a [[Calor específico|capacidade de calor específica]] da [[água do mar]], h2 é a profundidade inferior, h1 é a profundidade superior, <math>\rho(z)</math> é o perfil de [[Propriedades físico-químicas da água|densidade da água do mar]] in-situ, e <math>\Theta(z)</math> é o perfil de {{Ill|en|Temperatura conservadora|Conservative temperature|temperatura conservadora}}. <math>c_p </math> é definido em uma única profundidade h0, geralmente escolhida como a superfície do oceano. Em [[Sistema Internacional de Unidades|unidades SI]], <math>H</math> tem unidades de Joules por metro quadrado (J-m-2). Na prática, a integral pode ser aproximada por [[Somatório|soma]] usando uma sequência suave e bem comportada de dados in situ, incluindo temperatura (t), pressão (p), [[salinidade]] (s) e sua densidade correspondente (ρ). {{Ill|en|Temperatura conservadora|Conservative temperature|Temperaturas conservadoras}} <math>\Theta(z)</math> são valores traduzidos em relação à pressão de referência (p0) em h0. Um substituto conhecido como [[temperatura potencial]] foi usado em cálculos anteriores.<ref>{{citation|url=https://www.teos-10.org/pubs/gsw/pdf/Getting_Started.pdf|title=Getting started with TEOS-10 and the Gibbs Seawater (GSW) Oceanographic Toolbox|version=VERSION 3.06.12|date=10 de Julho de 2020|website=teos-10.org}}</ref>

As medições de temperatura versus profundidade do oceano geralmente mostram uma {{Ill|en|Camada mista|Mixed layer|camada mista superior}} (0-200 m), uma [[termoclina]] (200-1500 m) e uma camada [[Regiões abissais|oceânica profunda]] (>1500 m). Essas profundidades de limite são apenas aproximações grosseiras. A luz solar penetra em uma profundidade máxima de cerca de 200 m, sendo que os 80 m superiores constituem a [[Zona eufótica|zona habitável]] para a vida marinha fotossintética, cobrindo mais de 70% da superfície da Terra.<ref>{{cite web|url=https://www.britannica.com/EBchecked/topic/457662/photic-zone|title=photic zone (oceanography)|access-date=2021-12-15|publisher=Encyclopædia Britannica Online}}</ref> A ação das ondas e outras [[Turbulência|turbulências]] na superfície ajudam a equalizar as temperaturas em toda a camada superior.

Ao contrário das [[Temperatura da superfície do mar|temperaturas da superfície]], que diminuem com a latitude, as temperaturas do oceano profundo são relativamente frias e uniformes na maioria das regiões do mundo.<ref>{{Cite web|last=MarineBio|url=https://marinebio.org/oceans/deep-sea/|title=The Deep Sea|date=2018-06-17|access-date=2020-08-07|website=MarineBio Conservation Society|lingua=en-US}}</ref> Cerca de 50% de todo o volume do oceano está em profundidades abaixo de 3000 m (1,85 milhas), sendo o [[Oceano Pacífico]] o maior e mais profundo das cinco divisões oceânicas. A termoclina é a transição entre as camadas superiores e profundas em termos de temperatura, fluxos de nutrientes, abundância de vida e outras propriedades. Ela é semipermanente nos trópicos, variável nas [[Clima temperado|regiões temperadas]] (geralmente mais profunda durante o verão) e rasa ou inexistente nas regiões polares.<ref>{{Cite web|url=https://oceanservice.noaa.gov/facts/thermocline.html|title=What is a thermocline?|access-date=2021-12-23|publisher=National Oceanic and Atmospheric Administration|lingua=en}}</ref>

== Causas da absorção de calor ==
{{VT|Causas do aquecimento global}}
[[Ficheiro:Oceans of Climate Change.ogv|miniaturadaimagem|300x300px|O oceanógrafo {{Ill|en|Josh Willis|Josh Willis|Josh Willis}} discute a [[Propriedades físico-químicas da água|capacidade de aquecimento da água]], realiza um experimento para demonstrar a [[Capacidade térmica|capacidade de aquecimento]] usando um {{Ill|en|Balão de água|Water balloon|balão de água}} e descreve como a capacidade da água de armazenar calor afeta o clima da Terra.]]
A absorção de calor do oceano é responsável por mais de 90% da absorção total de calor planetário, principalmente como consequência das mudanças na composição da atmosfera da Terra causadas pelo homem.<ref name="Trenberth2022">{{Cite journal |title=A perspective on climate change from Earth's energy imbalance |date=2022-09-01 |journal=Environmental Research: Climate |issue=1 |last2=Cheng |first2=Lijing |pages=013001 |doi=10.1088/2752-5295/ac6f74 |issn=2752-5295 |volume=1 |doi-access=free |last1=Trenberth |first1=Kevin E}}</ref> Essa alta porcentagem se deve ao fato de que as águas na superfície do oceano e abaixo dela - especialmente a camada mista superior turbulenta - apresentam uma [[inércia térmica]] muito maior do que a crosta continental exposta do planeta, as regiões polares cobertas de gelo ou os próprios componentes atmosféricos. Um corpo com grande inércia térmica armazena uma grande quantidade de energia devido à sua [[Capacidade térmica|capacidade de térmica]] e transmite energia de forma eficaz de acordo com seu [[Coeficiente de transferência térmica|coeficiente de transferência de calor]]. A maior parte da energia extra que entra no planeta pela atmosfera é absorvida e retida pelo oceano.<ref name="Scott06">{{cite web|url=https://earthobservatory.nasa.gov/features/HeatBucket/heatbucket.php|title=Earth's Big Heat Bucket|date=24 de Abril de 2006|publisher=NASA Earth Observatory|author=Michon Scott}}</ref><ref>{{cite web|url=https://scied.ucar.edu/learning-zone/earth-system/climate-system/transfer-and-storage-heat-oceans|title=Transfer and Storage of Heat in the Oceans|access-date=17 de Novembro de 2023|publisher=UCAR Center for Science Education}}</ref><ref name="JEH1985">{{cite journal |url=https://pubs.giss.nasa.gov/docs/1985/1985_Hansen_ha09600g.pdf |title=Climate response times: Dependence on climate sensitivity and ocean mixing |journal=Science |issue=4716 |last2=Russell |first2=G. |year=1985 |pages=857–850 |bibcode=1985Sci...229..857H |doi=10.1126/science.229.4716.857 |pmid=17777925 |last3=Lacis |first3=A. |last4=Fung |first4=I. |last5=Rind |first5=D. |last6=Stone |first6=P. |volume=229 |last1=Hansen |first1=J.}}</ref>
[[Ficheiro:Earth's Heat Accumulation.png|alt=Earth's Heat Accumulation.png|esquerda|miniaturadaimagem|300x300px|Inventário de calor da Terra (acúmulo de energia) em ZJ para os componentes do sistema climático da Terra em relação a 1960 e de 1960 a 2018. O oceano superior (0-300 m, linha azul clara, e 0-700 m, sombreado azul claro) é responsável pela maior quantidade de ganho de calor.]]
A absorção de calor planetário ou o conteúdo de calor é responsável por toda a energia adicionada ou removida do sistema climático.<ref>{{cite web|url=https://ceres.larc.nasa.gov/science/|title=CERES Science|access-date=17 de Novembro de 2023|publisher=NASA}}</ref> Ele pode ser calculado como um acúmulo ao longo do tempo das diferenças observadas (ou {{Ill|en|Orçamento de energia da Terra|Earth's energy budget|desequilíbrios}}) entre a radiação total de entrada e de saída. As alterações no desequilíbrio foram estimadas a partir da órbita da Terra pelo [[Clouds and the Earth's Radiant Energy System|CERES]] e outros instrumentos [[Sensoriamento remoto|remotos]], e comparadas com pesquisas in situ de alterações no inventário de calor nos oceanos, na terra, no gelo e na atmosfera.<ref name="Loeb2021">{{cite journal |title=Satellite and Ocean Data Reveal Marked Increase in Earth's Heating Rate |date=15 de Junho de 2021 |journal=Geophysical Research Letters |issue=13 |last2=Johnson |first2=Gregory C. |bibcode=2021GeoRL..4893047L |doi=10.1029/2021GL093047 |last3=Thorsen |first3=Tyler J. |last4=Lyman |first4=John M. |last5=Rose |first5=Fred G. |last6=Kato |first6=Seiji |display-authors=4 |volume=48 |doi-access= |last1=Loeb |first1=Norman G.}}</ref><ref>{{cite journal |title=Earth's Energy Imbalance From the Ocean Perspective (2005–2019) |date=28 de Agosto de 2021 |journal=Geophysical Research Letters |issue=16 |last2=Frederikse |first2=T. |bibcode=2021GeoRL..4893624H |doi=10.1029/2021GL093624 |last3=Landerer |first3=F.W. |volume=48 |doi-access= |last1=Hakuba |first1=M.Z.}}</ref> A obtenção de resultados completos e precisos de qualquer um dos métodos de contabilização é um desafio, mas de maneiras diferentes que são vistas pelos pesquisadores como sendo, em sua maioria, independentes uma da outra.<ref name="Loeb2021" /> Acredita-se que os aumentos no conteúdo de calor planetário para o período bem observado de 2005-2019 excedam as incertezas de medição.<ref name="Trenberth2022" />

Do ponto de vista do oceano, a [[irradiação solar]] equatorial mais abundante é {{Ill|en|Absorção eletromagnética da água|Electromagnetic absorption by water|absorvida diretamente pelas águas}} da superfície tropical da Terra e impulsiona a propagação geral do calor em direção ao polo. A superfície também troca energia que foi absorvida pela [[troposfera]] inferior por meio do vento e da ação das ondas. Ao longo do tempo, um desequilíbrio sustentado no {{Ill|en|Orçamento de energia da Terra|Earth's energy budget|orçamento de energia da Terra}} permite um fluxo líquido de calor para dentro ou para fora da maior profundidade do oceano por meio de [[condução térmica]], [[Subsidência (oceanografia)|subsidência]] e [[Afloramento (oceanografia)|afloramento]].<ref>{{cite web|url=https://www.ametsoc.org/ams/index.cfm/education-careers/education-program/k-12-teachers/project-atmosphere/training-opportunities/project-atmosphere-peer-led-training/project-atmosphere-peer-training-resources/air-sea/|title=Air-Sea interaction: Teacher's guide|access-date=2022-02-22|publisher=[[American Meteorological Society]]|year=2012}}</ref><ref>{{cite web|url=http://oceanmotion.org/html/background/upwelling-and-downwelling.htm|title=Ocean Motion : Definition : Wind Driven Surface Currents - Upwelling and Downwelling|access-date=2022-02-22}}</ref> As liberações de OHC para a atmosfera ocorrem principalmente por meio da [[evaporação]] e possibilitam o [[Ciclo hidrológico|ciclo planetário da água]].<ref>{{cite web|url=https://gpm.nasa.gov/education/articles/nasa-earth-science-water-cycle|title=NASA Earth Science: Water Cycle|access-date=2021-10-27|publisher=NASA}}</ref> As liberações concentradas em associação com as altas [[Temperatura da superfície do mar|temperaturas da superfície do mar]] ajudam a impulsionar [[Ciclone tropical|ciclones tropicais]], [[Rio atmosférico|rios atmosféricos]], [[Onda de calor|ondas de calor atmosféricas]] e outros [[Condições meteorológicas extremas|eventos climáticos extremos]] que podem penetrar muito no interior.<ref>{{cite web|url=https://news.ucar.edu/132773/2020-was-record-breaking-year-ocean-heat|title=2020 was a record-breaking year for ocean heat - Warmer ocean waters contribute to sea level rise and strengthen storms|date=2021-01-13|publisher=[[National Center for Atmospheric Research]]|author=Laura Snider}}</ref> Juntos, esses processos permitem que o oceano seja o maior [[Banho térmico|reservatório térmico]] da Terra, que funciona para regular o clima do planeta, atuando tanto como um [[Dissipador de energia térmica|dissipador]] quanto como uma fonte de energia.<ref name="Scott06" />
[[Ficheiro:20230706 Excess heat absorbed through ocean's surface - global warming.svg|alt=20230706 Excess heat absorbed through ocean's surface - global warming.svg|miniaturadaimagem|300x300px|As temperaturas do ar na superfície das massas de terra têm aumentado mais rapidamente do que a [[temperatura da superfície do mar]].]]
Do ponto de vista das regiões cobertas por terra e gelo, sua parcela de absorção de calor é reduzida e {{Ill|en|Inércia climática|Climate inertia|retardada}} pela inércia térmica dominante do oceano. Embora o aumento médio da temperatura da superfície terrestre tenha excedido o da superfície oceânica devido à menor inércia (menor coeficiente de transferência de calor) da terra firme e do gelo, as temperaturas subiriam mais rapidamente e em maior quantidade sem o oceano completo.<ref name="Scott06" /> Medições da rapidez com que o calor se mistura ao oceano profundo também estão em andamento para fechar melhor os orçamentos de energia oceânica e planetária.<ref>{{cite web|url=https://argo.ucsd.edu/expansion/deep-argo-mission/|title=Deep Argo Mission|access-date=17 de Novembro de 2023|publisher=Scripps Institution of Oceanography, UC San Diego}}</ref>

==Efeitos==
===Subida do nível do mar===
[[File:Land loss in coastal Louisiana since 1932 NOAA2013.jpg|thumb|300px|Perda de terra firme pelo avanço das águas marinhas na costa da [[Louisiana]] entre 1932 e 2011.]]

Um dos efeitos mais diretos, evidentes e importantes do aquecimento oceânico é a [[subida do nível do mar]], o que se deve à [[expansão térmica]], uma reação física pela qual o volume dos corpos aquecidos se expande. Mesmo com notadas variações regionais, o nível médio das águas tem se elevado em todo o mundo, mas esta elevação ocorre em significativo descompasso em relação ao aquecimento atmosférico, uma vez que a água tem uma grande [[inércia térmica]], ou seja, ela demora para aquecer e expandir quando exposta a uma fonte de calor. Não obstante, como o aquecimento atmosférico já se verifica há muitas décadas, o mar já está respondendo às mudanças visivelmente, expandindo o seu volume.<ref name="IPCC"/> 

Entre 1901 e 2010 o nível médio dos oceanos se elevou 19 centímetros, com uma variação de 17 a 21 cm e uma taxa média de elevação de 1,7 milímetros por ano, acelerando-se para 3,2 mm ao ano entre 1993 e 2010, com uma variação de 2,8 a 3,6 mm. Efeitos desta elevação para as regiões litorâneas incluem [[maré alta|marés altas]] mais intensas, [[erosão costeira]], destruição de estruturas construídas pelo homem, perda de terreno habitável e cultivável e bens materiais, maior vulnerabilidade a tempestades, e salgamento e contaminação dos [[lençol freático|lençóis freáticos]].<ref name="IPCC"/><ref name="Nicholls"/> 

As previsões sobre o nível máximo a que chegará o oceano são muito divergentes. O IPCC indica uma faixa entre 26 e 98 centímetros em 2100,<ref name="IPCC"/> mas vários estudos vêm afirmando que as suas estimativas são conservadoras e que a elevação poderá chegar a 2 metros no final do século.<ref name="UNESCO">UNESCO. [http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001893/189369e.pdf ''Sea-level Rise and Variability: A summary for policy makers''], 2010</ref><ref>Grinsted, A., J. C. Moore, & S. Jevrejeva. [https://b24ef414-a-6233b4b2-s-sites.googlegroups.com/a/glaciology.net/grinsted/Home/PDFs/grinstedclimdyn09sealevel200to2100ad.pdf?attachauth=ANoY7cpmcjWuaC8EnMpMNNzPRU9v_egIelbnGxj1_U_XRti6PrflBJkXakjEa0SgP4H3UEdGSgEAV642Syhw0o67HC-Zn6SsvEzVemSOfAC5okaaf4BDhnBaGafQlCE_pyLQTEO5yUBJqN8hiBzcMj6RvxzQVDaY4nWd1xrgLYc6LefjYiT6IfXXGySYQtqHys-GkzD28jb6r6GKPo0U1F_-KjlfldPG_8rxeezQkpr8RM6CckV5ezozEJ8dyxgA5JnzTTttV52h&attredirects=0 "Reconstructing sea level from paleo and projected temperatures 200 to 2100 AD"]. In: ''Climate Dymamics'', 2010, 34 (4):461-472</ref><ref>Rignot, E. et alii. "Acceleration of the contribution of the Greenland and Antarctic ice sheets to sea level rise". In: ''Geophysical Research Letters'', 2011; 38(5)</ref><ref>Board on Atmospheric Sciences and Climate, Division on Earth and Life Studies, National Research Council of the National Academies. "7 Sea Level Rise and the Coastal Environment". In: ''America’s Climate Choices: Panel on Advancing the Science of Climate Change''. The National Academies Press. 2010, p. 245</ref><ref>Gillis, Justin. [http://www.nytimes.com/2010/11/14/science/earth/14ice.html?_r=2&ref=global-home& "As Glaciers Melt, Science Seeks Data on Rising Seas"]. ''The New York Times'', 13/11/2010</ref> O IPCC afirma ainda que se as tendências atuais de emissão de gases estufa permanecerem inalteradas a velocidade da elevação aumentará em relação ao período de 1971-2010.<ref name="IPCC"/> 
[[File:Sturmflut in Bremerhaven 2007-11-09.jpg|thumb|left|300px|A zona beira-mar de [[Bremerhaven]] inundada por uma maré de tempestade.]]

A diferença entre as previsões se deve à incerteza sobre como a sociedade reagirá ao longo deste século, cessando ou não as emissões de carbono e outros gases, o que pode minimizar ou agravar a dimensão da elevação final. Porém, devido à grande inércia térmica da água, quando cessa a fonte de calor, a água demora para deixar de se expandir. Isso significa que mesmo se as emissões de gases estufa cessarem imediatamente, a água do mar continuará a se expandir e seu nível continuará a se elevar por centenas ou milhares de anos, especialmente devido ao lento aquecimento das águas profundas, que em certas regiões podem levar mais de mil anos para serem expostas ao contato com as camadas mais superficiais já aquecidas, o que demonstra a gravidade do problema, o peso da herança que esta geração deixará para suas sucessoras, e a necessidade de redução das emissões o quanto antes.<ref name="IPCC"/><ref name="UNESCO"/>

Grande parte da população humana vive hoje nos litorais, cujas cidades em sua maioria expõem as pessoas a um elevado risco devido ao seu pouco preparo para enfrentar os desafios colocados pela elevação do nível do mar e os outros impactos derivados do aquecimento global. Na maioria dos casos, especialmente se as previsões mais pessimistas se concretizarem, será imperativa uma mudança em massa das populações para zonas mais altas, pois os custos do muralhamento costeiro em larga escala são altos demais.<ref>De Sherbinin, A., Schiller, A. & Pulsipher, A. [http://eau.sagepub.com/content/19/1/39.full.pdf+html "The vulnerability of global cities to climate hazards"]. In: ''Environ Urban'', 2007; (19):39–64</ref><ref name="Arendal">Nellemann, C. ''et al.'' (Eds). [http://www.grida.no/files/publications/FoodCrisis_lores.pdf ''The environmental food crisis – The environment’s role in averting future food crises''] {{Wayback|url=http://www.grida.no/files/publications/FoodCrisis_lores.pdf |date=20131004212910 }}. UNEP Rapid Response Assessment Series. United Nations Environment Programme, GRID-Arendal</ref><ref name="Nicholls">Nicholls, Robert J. & Tol, Richard S. J. [http://rsta.royalsocietypublishing.org/content/364/1841/1073.full.pdf+html "Impacts and responses to sea-level rise: a global analysis of the SRES scenarios over the twenty-first century"]. In: ''Philosophical Transactions of The Royal Society A'', 2006; 364 (1841):1073-1095</ref><ref>Titus, James G. et alii. "Greenhouse effect and sea level rise: The cost of holding back the sea". In: ''Coastal Management'', 1991; 19 (2)</ref><ref>Bosello, Francesco et alii. "Economy-Wide Estimates of the Implications of Climate Change: Sea Level Rise". In: ''Environmental and Resource Economics'', 2007; 37 (3):549-571</ref>

O avanço das águas sobre a terra firme também provoca mudanças nos [[ecossistema]]s costeiros e em sua [[biodiversidade]].<ref name="IPCC"/><ref name="Nicholls"/> Populações costeiras de animais terrestres que já estão ameaçadas mostram alta vulnerabilidade e baixa capacidade adaptativa à elevação do nível do mar devido à progressiva fragmentação do seu [[habitat]], ocupação de seus nichos ecológicos por [[espécies invasoras]] e maior susceptibilidade a doenças, entre outros fatores, aumentando sensivelmente o risco de [[extinção]].<ref name="IPCCsum"/><ref>Benscoter, A. M. ''et al''. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0070647 "Threatened and Endangered Subspecies with Vulnerable Ecological Traits Also Have High Susceptibility to Sea Level Rise and Habitat Fragmentation"]. In: ''[[PLOS ONE]]'', 2013; 8 (8):e70647. </ref><ref>Bittencourt-Silva, G. B. & Silva, H. R . [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0103522 "Effects of Fragmentation and Sea-Level Changes upon Frog Communities of Land-Bridge Islands off the Southeastern Coast of Brazil"]. In: ''PLoS ONE'', 2014; 9 (7):e103522</ref> Além disso, como é esperada uma crescente interferência humana nas costas na tentativa de conter as águas, projeta-se grandes prejuízos adicionais a ecossistemas localizados nessas regiões. Mesmo seres marinhos podem ser afetados negativamente pela subida das águas, já que a erosão costeira modifica a estrutura dos seus habitats e aumenta os níveis de turbulência da água.<ref>Yamanaka, T., Raffaelli, D. & White, P. C. L. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0068160 "Non-Linear Interactions Determine the Impact of Sea-Level Rise on Estuarine Benthic Biodiversity and Ecosystem Processes"]. In: ''PLoS ONE'', 2013; 8 (7):e68160</ref>

===Evaporação, precipitação, salinidade, ventos, ondas===
[[File:Projected change in annual average precipitation for the 21st century, based on the SRES A1B emissions scenario, and simulated by the GFDL CM2.1 model.png|thumb|300px|left|Mudanças projetadas na média anual de precipitação no final do século XXI. As zonas mais amarelas ficam mais secas e as mais azuis, mais úmidas.]]

Mais de 3/4 de todas as trocas de água entre a atmosfera e a superfície da Terra através de evaporação e precipitação ocorrem sobre os oceanos, determinando uma grande parte das características do clima geral do planeta. O aumento do calor do oceano e da atmosfera está levando a uma maior [[evaporação]] de água. Por conseguinte, aumenta o nível de umidade atmosférica, disponibilizando mais água para retornar à superfície sob forma de chuva.<ref name="IPCC"/><ref name="IPCCsum"/>

Assim, o aquecimento oceânico tem como efeitos secundários provocar mudanças na [[salinidade]] do mar devido a mudanças na evaporação e nas precipitações; uma tendência de chuvas mais intensas em várias regiões do globo, e uma tendência de intensificar também os episódios climáticos extremos, como os [[tufão|tufões]] e [[furacão|furacões]], cuja força destrutiva está na dependência direta do calor da água superficial e do nível de umidade do ar. Com a intensificação desses eventos, a população humana, especialmente a que vive no litoral, fica exposta a riscos mais elevados.<ref name="IPCC"/><ref name="IPCCsum"/>

Ao mesmo tempo, o vapor d'água é um gás estufa, e de todos é o que tem maior impacto no conjunto devido à sua presença em grande quantidade na atmosfera. Disso deriva que um aumento na concentração de vapor d'água no ar, oriundo da evaporação do oceano, inevitavelmente amplifica o aquecimento global em um ciclo de reforço mútuo. Além disso, um ar mais quente e mais úmido se comporta de maneira diferente do que um ar seco e frio, o que significa que os padrões de ventos também sofrem modificações com o aquecimento e umidificação da atmosfera.<ref name="IPCC"/>

O aquecimento também potencializa a força de impacto das ondas do mar, que vêm aumentando sua energia em torno de 0,4% por ano desde 1948, com previsões de continuarem aumentando. Isso tem consequências diretas sobre a erosão costeira e se combina à elevação do nível do mar e ao aumento da força das tempestades e precipitação para produzir estragos intensificados nas costas. A ação das ondas é um dos principais fatores no modelamento das regiões costeiras e na definição da gravidade e alcance das suas inundações.<ref>[https://www.sciencedaily.com/releases/2019/01/190114082847.htm "Upper-ocean warming is changing the global wave climate, making waves stronger"]. ''Science Daily'', 14/01/2019</ref>

===Liberação de metano===

Um efeito que até há pouco era desconhecido é a liberação de [[metano]] estocado em sedimentos depositados no fundo do oceano sob a forma de [[Hidrato de metano|hidratos de metano]] (ou clatratos), que resultam da sua combinação com as moléculas de água em condições de baixa temperatura e/ou alta pressão, como as que ocorrem nas regiões frias ou em águas profundas. O metano é um dos principais [[gases estufa]], mas nesta combinação ele não representa ameaça. Porém a elevação da temperatura do oceano possibilita que a combinação seja desfeita e o metano escape para a atmosfera, circunstância que tem sido chamada de "[[Hipótese da arma de clatratos|detonação da bomba de clatratos]]".<ref name="Ruppel"/><ref name="Archer"/><ref>UNEP. [http://www.unep.org/yearbook/2014/PDF/chapt5.pdf "Methane from Hydrates"]. In: ''UNEP Year Book 2014 emerging issues update''.</ref><ref name="Hickey2">Hickey, Hannah. [http://www.washington.edu/news/2014/12/09/warmer-pacific-ocean-could-release-millions-of-tons-of-seafloor-methane/ "Warmer Pacific Ocean could release millions of tons of seafloor methane"]. ''University of Washington Today'', 09/12/2014</ref><ref>Hautala, Susan L. ''et al''. [http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2014GL061606/abstract "Dissociation of Cascadia margin gas hydrates in response to contemporary ocean warming"]. In: ''Geophysical Research Letters'', 2014; 41 (23): 8486–8494</ref> O elevado risco que isso representa deriva da imensa quantidade de gás estocado como clatrato, em torno de dez mil gigatoneladas.<ref name="Gaskill">Gaskill, Alvia. [http://www.physics.rutgers.edu/~karin/140/articles/MethaneHydrates.pdf "Catastrophic Methane Hydrate Release Mitigation"]. In: The State University of New Jersey. ''DOE Meeting Summary''. </ref> A liberação de apenas uma pequena fração desse metano faria com que os níveis atmosféricos aumentassem em até mil vezes em relação aos níveis pré-industriais. Além disso, o metano é de 20 a 60 vezes mais potente do que o gás carbônico em sua capacidade de aumentar o efeito estufa. Em condições normais, cerca de 90% do metano liberado de águas profundas é oxidado em seu caminho até a superfície e perde seu potencial de ameaça térmica, mas por outro lado contribui para a maior [[Acidificação oceânica|acidificação]] e [[Desoxigenação oceânica|desoxigenação]] da água. No [[Ártico]], que tem grande parte do seu oceano composto de águas rasas, a estabilidade dos clatratos depende em essência da baixa temperatura, e assim a emergência de metano do leito marinho não sofre bloqueio significativo. Várias zonas com grandes depósitos são sujeitas a [[terremoto]]s, aumentando a possibilidade de exposição direta do metano.<ref name="Ruppel">Ruppel, C. D. [http://www.nature.com/scitable/knowledge/library/methane-hydrates-and-contemporary-climate-change-24314790 "Methane Hydrates and Contemporary Climate Change"]. In: ''Nature Education Knowledge'', 2011; 3 (10):29</ref><ref name="Archer">Archer, D. [http://geosci.uchicago.edu/~archer/reprints/archer.2007.hydrate_rev.pdf "Methane hydrate stability and anthropogenic climate change"]. In: ''Biogeosciences'', 2007; (4):521–544</ref><ref name="Gaskill"/><ref>NOAA Climate Monitoring and Diagnostics Lab. [http://www.nurp.noaa.gov/Docs/Role%20of%20ocean%20hydrates%20and%20climate-%20final%20rpt-%20050505.pdf ''Role of Ocean Methane and Gas Hydrates in Global Climate Change Workshop''] {{Wayback|url=http://www.nurp.noaa.gov/Docs/Role%20of%20ocean%20hydrates%20and%20climate-%20final%20rpt-%20050505.pdf |date=20160303192123 }}. Final Report, 2005</ref><ref>Kretschmer, Kerstin ''et al''. [http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2014GB005011/abstract "Modeling the fate of methane hydrates under global warming"]. In: ''Global Biogeochemical Cycles'', 2015; 29 (5):610–625</ref><ref name="Hickey2"/> O entendimento desses mecanismos ainda é incompleto, mas segundo Archer, "existe na Terra tanto metano na forma de hidratos que parece o ingrediente perfeito para um cenário apocalíptico. [...] O reservatório de hidratos de metano tem o potencial de aquecer o clima da Terra até um estado semelhante ao da '[[Máximo térmico do Paleoceno-Eoceno|estufa do Eoceno]]' dentro de poucos anos. O potencial para uma devastação planetária colocado pelo reservatório de hidratos de metano parece, portanto, comparável à destrutividade de um [[inverno nuclear]] ou de um impacto de um [[meteorito]]".<ref name="Archer"/>

===Derretimento de gelo===
[[File:Arctic sea ice loss animation.gif|thumb|O declínio do gelo flutuante do Ártico é um dos sinais mais evidentes do aquecimento. A animação mostra a redução entre 1979 e 2010.]]
[[Ficheiro:Larsen B Collapse.jpg|thumb|Colapso da plataforma de gelo Larsen B na [[Antártida]]. Esta plataforma de gelo tinha uma área equivalente à do estado americano de [[Rhode Island]].]]

Também é importante o efeito do aquecimento das águas sobre o gelo marinho, interferindo em sua dinâmica e acelerando as taxas de derretimento, que sofrem influência também do aquecimento da atmosfera. Os gelos flutuantes do [[Oceano Ártico]] são os que têm sido mais intensamente afetados, verificando-se uma redução de grande magnitude em sua espessura e área desde pelo menos a década de 1950, acelerando-se nas décadas mais recentes.<ref name="IPCC"/> 

Isso tem graves implicações para os ecossistemas polares, pois várias espécies dependem da existência do gelo para sobreviver, como as [[foca]]s e [[ursos polares]], que descansam sobre placas flutuantes entre seus mergulhos, ou certas algas unicelulares, que estão na base da cadeia alimentar, e que se fixam nas placas de gelo, ou certos tipos de [[krill]], que ali encontram abrigo, e afetam outras populações de muitas maneiras distintas.<ref>Hamilton, S. G. ''et al.'' [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0113746 "Projected Polar Bear Sea Ice Habitat in the Canadian Arctic Archipelago"]. In: ''PLoS ONE'', 2014; 9 (11):e113746</ref><ref>Assmy, P. ''et al''. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0076599 "Floating Ice-Algal Aggregates below Melting Arctic Sea Ice"]. In: ''PLoS ONE'', 2013; 8 (10):e76599</ref><ref>Fernández-Méndez, M. ''et al.'' [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0107452 "Composition, Buoyancy Regulation and Fate of Ice Algal Aggregates in the Central Arctic Ocean"]. In: ''PLoS ONE'', 2014; 9 (9):e107452 </ref><ref>Flores, H. ''et al''. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0031775 "The Association of Antarctic Krill ''Euphausia superba'' with the Under-Ice Habitat"]. In: ''PLoS ONE'', 2012; 7 (2):e31775</ref> 

Além disso, a redução das brancas superfícies geladas significa uma redução do [[albedo]] terrestre, a capacidade da Terra de devolver radiação recebida para o espaço, já que os objetos brancos são os maiores refletores de radiação, o que intensifica o ciclo de aquecimento global.<ref name="IPCC"/> Por outro lado, o derretimento dos gelos polares exerce um impacto significativo nos padrões de salinidade e temperatura da água e no sistema de correntes marinhas.<ref name="Puzzle"/> 

No Oceano Ártico a taxa de redução no gelo flutuante tem sido de 3,5 a 4,1% por década desde 1979, o que representa uma perda de 45 mil a 51 mil km<sup>2</sup> por década. A redução na espessura das placas invernais entre 1980 e 2008 foi de 1,3 a 2,3 metros. Há grande dose de certeza de que a velocidade de dispersão das placas também aumentou, e o período anual de derretimento provavelmente também aumentou. O período em que o trecho entre [[Mar Siberiano Oriental|Mar da Sibéria]] e o [[Mar de Beaufort]] ficou inteiramente livre de gelo flutuante aumentou sua duração em cerca de três meses desde 1979.<ref name="IPCC"/> 

O caso da [[Antártida]] é diferente, devido ao fato de que a maior parte de seu gelo se localiza sobre massas de terra, e suas características são menos conhecidas do que as do Ártico. As observações indicam que tem ocorrido em certas áreas uma expansão na área de oceano coberta por gelo, e em outras uma redução. Paralelamente, há indícios de que a estrutura do gelo tem sofrido mudanças, com provável diminuição de sua espessura em algumas áreas. As plataformas de gelo em torno da [[Península Antártica]] e no [[Mar de Weddell]], porém, há décadas têm experimentado uma nítida retração geral. Os gelos flutuantes dos mares de [[Mar de Bellingshausen|Bellingshausen]] e [[Mar de Amundsen|Amundsen]] também tem mostrado uma tendência de retração.<ref name="IPCC"/>

===Correntes marinhas e estratificação===

A temperatura é um dos fatores que influenciam a formação e a intensidade das [[corrente marinha|correntes marinhas]]. Modificações no padrão dos ventos, na precipitação, na umidade e na temperatura atmosférica, bem como na salinidade e densidade da água, também têm um impacto, mas o conhecimento de sua influência sobre a circulação marinha ainda é pobre.<ref name="IPCC"/> No entanto, evidências paleográficas apontam que em períodos geológicos anteriores em que houve um aquecimento global importante a circulação marinha foi drasticamente modificada.<ref name="Puzzle">The National Science Foundation. [http://www.nsf.gov/news/nsf09202/nsf09202.pdf ''Solving the Puzzle: Researching the Impacts of Climate Change Around the World'']. The National Science Foundation. Office of Legislative and Public Affairs, 2009, pp. 27-43</ref> Várias evidências vêm se acumulando indicando mudanças recentes em alguns sistemas de correntes. Os giros subtropicais do norte e sul do [[Oceano Pacífico]], por exemplo, provavelmente ficaram maiores e mais intensos desde 1993, e a [[Corrente Circumpolar Antártica]] moveu-se em direção ao sul, mas não é claro até que ponto isso se deve ao aquecimento da água ou a outros efeitos do aquecimento global, como a mudança no padrão dos ventos. Provavelmente uma combinação de efeitos é o fator determinante nas mudanças observadas. Ao mesmo tempo em que as correntes são afetadas pelas forças externas, elas também influem nos ventos, na umidade atmosférica e na temperatura do ar, entre outros fatores, sendo com efeito um dos mais poderosos meios naturais de transporte de calor entre as várias regiões do mundo, o que acaba por colocar todo o sistema de trocas ar-mar em desequilíbrio.<ref name="IPCC"/><ref name="Puzzle"/> Por outro lado, o aquecimento mais rápido da camada superficial das águas tem causado uma estratificação mais acentuada entre as camadas, o que pode intensificar episódios de [[desoxigenação oceânica|desoxigenação]] em virtude de dificultar as trocas gasosas entre as camadas profundas e as superficiais, que são mais oxigenadas.<ref name="IPCC"/> 

Mudanças nas correntes marinhas e na estratificação também afetam a biodiversidade de várias maneiras importantes, alterando rotas de migração e os ciclos reprodutivos e interferindo na oferta de alimento, fatores que por fim levam ao declínio das populações ou sua redistribuição geográfica, com impactos sobre a economia, a política e a segurança alimentar das nações.<ref>Hove, Sybille van den & Moreau, Vincent. ''Deep-sea Biodiversity and Ecosystems: A Scoping Report on Their Socio-economy, Management and Governanace''. UNEP/Earthprint, 2007, p. 52 </ref><ref name="Puzzle"/><ref>Institute for European Environmental Policy. [http://www.ieep.eu/assets/1292/Final_report_EP_CC_impacts_on_islands_FINAL_clean.pdf ''Impacts of climate change on all European islands''] {{Wayback|url=http://www.ieep.eu/assets/1292/Final_report_EP_CC_impacts_on_islands_FINAL_clean.pdf |date=20160605084437 }}, 2013, p. 22</ref>  

===Biodiversidade e sociedade===
{{AP|[[Declínio das populações de peixes marinhos]]}}
As espécies marinhas evoluíram ao longo de milênios acostumadas a determinados parâmetros químicos e físicos da água, onde se inclui a temperatura, e a mudança coloca sua sobrevivência em grave risco. Para vasto número de espécies, a velocidade em que essas mudanças estão acontecendo é demasiada para que se efetive uma adaptação. Se não são capazes de migrar para regiões mais favoráveis, sua morte é certa. Mas se a [[migração]] é salvadora para uns, é prejudicial para outros, cujos territórios são ocupados por espécies que chegaram de longe e se tornaram [[espécie invasora|invasoras]], [[competição|competindo]] por espaços de nidificação e abrigo e por alimento.<ref name="IPCC"/><ref name="Markets"/><ref name="IPCCsum"/> A migração de populações valiosas para o homem também deve prejudicar as atividades pesqueiras de muitas regiões.<ref name="IPCCsum"/> Essa migração já é observada para diversos, como alguns [[Copépode|Copépodes]], em que foi observada nos últimos anos a diminuição na área ocupada por espécies mais características de águas mais frias e a expansão de espécies de ambientes mais quentes, isso ao longo prazo irá gerar uma grande perda de biodiversidade no globo, pelo desaparecimento de habitats favoráveis para um grande número de organismos <ref>{{Citar periódico|ultimo=Richardson|primeiro=A. J.|data=2008-03-11|titulo=In hot water: zooplankton and climate change|url=http://dx.doi.org/10.1093/icesjms/fsn028|jornal=ICES Journal of Marine Science|volume=65|numero=3|paginas=279–295|doi=10.1093/icesjms/fsn028|issn=1054-3139}}</ref>. 
[[Ficheiro:Anoxie dead zone.jpg|thumb|300px|Animais mortos por desoxigenação no fundo do [[mar Báltico]], 2006.]]

As reações químicas do [[metabolismo]] animal e vegetal são diretamente influenciadas pela temperatura, o que se torna ainda mais importante no caso dos seres marinhos, que em sua maioria têm uma temperatura corporal em equivalência direta à temperatura da água circundante. O aquecimento das águas provoca também um maior consumo de oxigênio, torna as espécies mais vulneráveis a malformações congênitas e doenças, altera os padrões e ritmos de crescimento, interfere na oferta de alimentos e altera os ciclos de reprodução.<ref> Rivest, E. B. & Hofmann, G. E. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0096172 "Responses of the Metabolism of the Larvae of Pocillopora damicornis to Ocean Acidification and Warming"]. In: ''PLoS ONE'', 2014; 9 (4):e96172 </ref><ref>Rosa, R. ''et al''. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0038282 "Ocean Warming Enhances Malformations, Premature Hatching, Metabolic Suppression and Oxidative Stress in the Early Life Stages of a Keystone Squid"]. In: ''PLoS ONE'', 2012; 7( 6):e38282</ref><ref>Strobel, A. ''et al''. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0068865 "Mitochondrial Acclimation Capacities to Ocean Warming and Acidification Are Limited in the Antarctic Nototheniid Fish, ''Notothenia rossii'' and ''Lepidonotothen squamifrons''"]. In: ''PLoS ONE'', 2013; 8 (7):e68865</ref><ref>William, W. L. ''et al''. [http://www.nature.com/nclimate/journal/v3/n3/full/nclimate1691.html "Shrinking of fishes exacerbates impacts of global ocean changes on marine ecosystems"]. In: ''Nature Climate Change'', 2013; (3):254–258</ref><ref> Mackenzie C. L. et al. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0099712 "Future Oceanic Warming and Acidification Alter Immune Response and Disease Status in a Commercial Shellfish Species, Mytilus edulis L."]. In: ''PLoS ONE'', 2014; 9 (6):e99712</ref>

A elevação da temperatura atua em combinação com outros estressantes ambientais provocados pelo aquecimento global, como a [[desoxigenação oceânica|desoxigenação]] e [[acidificação oceânica|acidificação da água]], e fatores adicionais, como a [[poluição]] química de [[fertilizantes]] e efluentes industriais, o [[lixo marinho]] e a [[pesca predatória]], multiplicando os efeitos adversos sobre a vida nos oceanos. Com a projetada continuidade das agressões ao meio ambiente, a [[biodiversidade]] marinha, que já dá mostras de estar em empobrecimento acelerado, [[declínio contemporâneo da biodiversidade mundial|deve declinar ainda mais]], colocando um imenso desafio diante das nações do mundo, que dependem em elevada proporção dos recursos naturais que retiram do mar.<ref name="IPCCsum">IPCC. [http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/wg2/ar5_wgII_spm_en.pdf "Summary for policymakers"]. In: ''Climate Change 2014: Impacts,Adaptation, and Vulnerability. Part A: Global and Sectoral Aspects''. Contribution of Working Group II to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change, 2014 </ref><ref>Chen, C.-S. ''et al''. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0118300 "Ocean Warming–Acidification Synergism Undermines Dissolved Organic Matter Assembly"]. In: ''PLoS ONE'', 2015; 10 (2):e0118300</ref><ref name="IPCC"/><ref name="Markets">United Nations Development Programme. [https://www.thegef.org/gef/sites/thegef.org/files/publication/Catalysing%20Ocean%20Finance%20Vol%20I%20Final%20Oct1_1.pdf ''Catalysing Ocean Finance. Volume I: Transforming Markets to Restore and Protect the Global Ocean''] {{Wayback|url=https://www.thegef.org/gef/sites/thegef.org/files/publication/Catalysing%20Ocean%20Finance%20Vol%20I%20Final%20Oct1_1.pdf |date=20160303185100 }}, 2012</ref><ref>Smale, D. A. ''et al''. [http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0016050 "Turning on the Heat: Ecological Response to Simulated Warming in the Sea"]. In: ''PLoS ONE'', 2011; 6 (1):e16050</ref>  

Mais de 500 milhões de pessoas em todo o planeta têm suas vidas de alguma forma ligadas ao mar, e 14 milhões encontram emprego apenas na atividade pesqueira. Mais de 3 trilhões de dólares que circulam na economia mundial anualmente vêm de produtos marítimos diretos, e 21 trilhões de dólares derivam de [[serviços ambientais]] indiretos.<ref name="Markets"/> Disso se percebe a enorme importância da conservação dos mares em uma condição saudável. O esgotamento dos estoques de peixes, moluscos, crustáceos e algas comestíveis sem dúvida afetará a estabilidade política, social e cultural de muitas nações, especialmente as mais pobres e as que mais dependem do mar, e acentuará o problema da fome crônica e pobreza generalizada que hoje aflige mais de 800 milhões de pessoas.<ref name="IPCCsum"/><ref name="Markets"/><ref>Technical Expert Group on Biological Diversity and Climate Change. [http://unfccc.int/files/meetings/workshops/other_meetings/application/pdf/execsum.pdf ''Interlinkages between Biological Diversity and Climate Change: Advice on the integration of biodiversity considerations into the implementation of the United Nations Framework Convention on Climate Change and its Kyoto Protocol'']. Secretariat of the Convention on Biological Diversity, 2003</ref><ref name="Arendal"/> 

===Influência no plâncton===

Os organismos do plâncton apresentam grande importância para o ambiente marinho, sendo a base da cadeia trófica como um todo, apesar de não se poder ter uma certeza de como esses organismos reagiriam a um aumento contínuo no oceano se podem realizar estimativas. Alguns trabalhos estimam que apesar de um aumento inicial da temperatura do oceano gerar um aumento na produção, a longo prazo isso causa uma queda direta na produção desses organismos <ref name="Não-nomeado-xYZK-1">{{Citar periódico|ultimo=Behrenfeld|primeiro=Michael J.|ultimo2=O’Malley|primeiro2=Robert T.|ultimo3=Siegel|primeiro3=David A.|ultimo4=McClain|primeiro4=Charles R.|ultimo5=Sarmiento|primeiro5=Jorge L.|ultimo6=Feldman|primeiro6=Gene C.|ultimo7=Milligan|primeiro7=Allen J.|ultimo8=Falkowski|primeiro8=Paul G.|ultimo9=Letelier|primeiro9=Ricardo M.|data=2006-12|titulo=Climate-driven trends in contemporary ocean productivity|url=http://dx.doi.org/10.1038/nature05317|jornal=Nature|volume=444|numero=7120|paginas=752–755|doi=10.1038/nature05317|issn=0028-0836}}</ref>. Além disso uma outra teoria existente que aponta para uma redução na produção primária correlacionado com o aumento da temperatura do oceano é a do oceano oligotrófico. No oceano global picos de produção primária acontecem em momentos do ano em que ocorre a quebra da estratificação da coluna d’água, transportando para a camada de mistura nutrientes que antes estavam indisponíveis na camada fótica do ambiente, estimasse que com um aumento da temperatura nas partes mais superficiais do oceano acabariam gerando uma intensificação na estratificação o que diminuiria a disponibilidade de nutrientes e assim a produção primária<ref name="Não-nomeado-xYZK-1"/>. Uma diminuição global na produção primária iria acarretar em não apenas uma redução na produtividade pesqueira, como também a diminuição do oxigênio atmosférico<ref>{{Citar periódico|ultimo=Mauzerall|primeiro=D.|data=1972-06-01|titulo=Light-Induced Fluorescence Changes in Chlorella, and the Primary Photoreactions for the Production of Oxygen|url=http://dx.doi.org/10.1073/pnas.69.6.1358|jornal=Proceedings of the National Academy of Sciences|volume=69|numero=6|paginas=1358–1362|doi=10.1073/pnas.69.6.1358|issn=0027-8424}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Chassot|primeiro=Emmanuel|ultimo2=Bonhommeau|primeiro2=Sylvain|ultimo3=Dulvy|primeiro3=Nicholas K.|ultimo4=Mélin|primeiro4=Frédéric|ultimo5=Watson|primeiro5=Reg|ultimo6=Gascuel|primeiro6=Didier|ultimo7=Le Pape|primeiro7=Olivier|data=2010-04|titulo=Global marine primary production constrains fisheries catches|url=http://dx.doi.org/10.1111/j.1461-0248.2010.01443.x|jornal=Ecology Letters|volume=13|numero=4|paginas=495–505|doi=10.1111/j.1461-0248.2010.01443.x|issn=1461-023X}}</ref>.

===Influência do aquecimento dos oceanos na saúde humana===

44% da população global vive na região litoral, sendo assim o aumento da temperatura do oceano pode impactar a saúde e bem-estar humanos de diversas maneiras.<ref name=":0">{{Citar periódico|data=2016-09-02|editor-sobrenome=Laffoley|editor-nome=D.|editor-sobrenome2=Baxter|editor-nome2=J.M.|titulo=Explaining Ocean Warming: Causes, scale, effects and consequences|url=http://dx.doi.org/10.2305/iucn.ch.2016.08.en|doi=10.2305/iucn.ch.2016.08.en}}</ref> <ref name=":1">{{Citar periódico|data=2016-09-02|editor-sobrenome=Laffoley|editor-nome=D.|editor-sobrenome2=Baxter|editor-nome2=J.M.|titulo=Explaining Ocean Warming: Causes, scale, effects and consequences|url=http://dx.doi.org/10.2305/iucn.ch.2016.08.en|doi=10.2305/iucn.ch.2016.08.en}}</ref> Diretamente, com o aumento dos tufões e furacões, grandes danos a cidades costeiras tendem a ser mais comuns; além disso, com o aumento do nível do mar várias cidades costeiras tendem a sofrer inundações com uma maior frequência, e no longo prazo diversas cidades e ilhas irão ser completamente submersas pelo avanço dos oceanos.<ref name=":1" />

Diversos estudos apontam a ligação entre o aumento global das temperaturas com a maior difusão de doenças.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Lloret|primeiro=Josep|ultimo2=Rätz|primeiro2=Hans-Joachim|ultimo3=Lleonart|primeiro3=Jordi|ultimo4=Demestre|primeiro4=Montserrat|data=2015-12-17|titulo=Challenging the links between seafood and human health in the context of global change|url=http://dx.doi.org/10.1017/s0025315415001988|jornal=Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom|volume=96|numero=1|paginas=29–42|doi=10.1017/s0025315415001988|issn=0025-3154}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Romanelli|primeiro=Cristina|ultimo2=Tirado|primeiro2=Cristina|data=2017-10-03|titulo=Harvesting Common Ground|url=http://dx.doi.org/10.4324/9781317753285-22|local=New York, NY : Routledge, 2017.|publicado=Routledge|paginas=345–363|isbn=9781315797359}}</ref> <ref>{{Citar periódico|ultimo=Ford|primeiro=Timothy E.|data=2009-09|titulo=Using Satellite Images of Environmental Changes to Predict Infectious Disease Outbreaks|url=http://dx.doi.org/10.3201/eid1509.081334|jornal=Emerging Infectious Diseases|paginas=1341–1346|doi=10.3201/eid1509.081334|issn=1080-6040}}</ref> Apesar disso, boa parte desses estudos estão ligados a sistemas terrestres ou de água doce relacionados a vetores como mosquitos, ratos e caramujos,<ref>{{Citar periódico|ultimo=Andersen|primeiro=Louise K.|ultimo2=Davis|primeiro2=Mark D. P.|data=2015-10-15|titulo=The effects of the El Niño Southern Oscillation on skin and skin-related diseases: a message from the International Society of Dermatology Climate Change Task Force|url=http://dx.doi.org/10.1111/ijd.12941|jornal=International Journal of Dermatology|volume=54|numero=12|paginas=1343–1351|doi=10.1111/ijd.12941|issn=0011-9059}}</ref> ainda não se sabe muito sobre como o aumento na temperatura dos oceanos irá influenciar a disseminação de doenças humanas pelo ambiente marinho, mas visto a importância do oceano na manutenção da temperatura global, com o aquecimento do mesmo ocorrerá o aumento na temperatura de regiões tropicais, e assim espera-se a expansão de doenças dos trópicos adaptadas a essa temperatura climática como a malária para esses ambientes. Se tendo uma perspectiva apenas do ambiente marinho, as principais fontes de aumento de doenças tendem a ser duas: a primeira de organismos que fazem parte da dieta dos seres humanos, transmitindo diretamente os patógenos ou toxinas; a segunda, as presentes em ambientes recreativos entrariam no corpo das pessoas através do contato de feridas com a água. Existem duas fontes principais de doença humana relacionadas com o mar: espécies de bactérias no gênero ''Vibrio'' e toxinas produzidas por algas. Embora seja também possível contrair vírus e outros parasitas a partir de alimentos como frutos do mar, as bactérias ''Vibrio'' e as toxinas de algas são as fontes mais comuns de doenças.<ref name=":0" /> 

Assim estudos apontam para um aumento da proliferação das bactérias do gênero ''Vibrio'' com o aumento da temperatura do oceano, como por exemplo no Golfo do México, em que já se apontou a relação entre o aumento da concentração dessas bactérias em ostras e a crescente temperatura da superfície do oceano.<ref>{{Citar periódico|ultimo=MURRAY|primeiro=MARIA C.|ultimo2=HARE|primeiro2=MATTHEW P.|data=2006-08-24|titulo=A genomic scan for divergent selection in a secondary contact zone between Atlantic and Gulf of Mexico oysters,Crassostrea virginica|url=http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-294x.2006.03060.x|jornal=Molecular Ecology|volume=15|numero=13|paginas=4229–4242|doi=10.1111/j.1365-294x.2006.03060.x|issn=0962-1083}}</ref><ref name=":2">{{Citar periódico|ultimo=Shapiro|primeiro=R. L.|ultimo2=Altekruse|primeiro2=S.|ultimo3=Hutwagner|primeiro3=L.|ultimo4=Bishop|primeiro4=R.|ultimo5=Hammond|primeiro5=R.|ultimo6=Wilson|primeiro6=S.|ultimo7=Ray|primeiro7=B.|ultimo8=Thompson|primeiro8=S.|ultimo9=Tauxe|primeiro9=R. V.|data=1998-09|titulo=The Role of Gulf Coast Oysters Harvested in Warmer Months inVibrio vulnificusInfections in the United States, 1988–1996|url=http://dx.doi.org/10.1086/515367|jornal=The Journal of Infectious Diseases|volume=178|numero=3|paginas=752–759|doi=10.1086/515367|issn=0022-1899}}</ref> Essa bactéria se apresenta de grande interesse para a saúde pública, visto que entre 30 e 40% das pessoas que a contraem acabam morrendo.<ref name=":2" /> Além disso, infecções por essa bactéria não precisam do consumo direto de alimentos infectados, sendo que o contato de água contaminada com feridas abertas já é o suficiente para gerar a contaminação.<ref name=":0" /> 

A segunda fonte principal são as multiplicações explosivas de algas marinhas como [[dinoflagelado]]s e [[diatomácea]]s que produzem toxinas que se acumulam em peixes e frutos do mar, que podem causar danos neurológicos e aos demais órgãos, além de diarreia e paralisia. Estudos já apontam para uma correlação entre essas as multiplicações de microalgas com o aumento da temperatura,<ref>{{Citar periódico|ultimo=O’Neil|primeiro=J.M.|ultimo2=Davis|primeiro2=T.W.|ultimo3=Burford|primeiro3=M.A.|ultimo4=Gobler|primeiro4=C.J.|data=2012-02|titulo=The rise of harmful cyanobacteria blooms: The potential roles of eutrophication and climate change|url=http://dx.doi.org/10.1016/j.hal.2011.10.027|jornal=Harmful Algae|volume=14|paginas=313–334|doi=10.1016/j.hal.2011.10.027|issn=1568-9883}}</ref> tornando mais provável a ingestão dessas toxinas ao longo do tempo. Além disso, a proliferação de algas nocivas podem ser estimuladas por uma complexidade de processos além da temperatura superficial do oceano, que também estão sendo alteradas por mudanças climáticas antropogênicas, incluindo mudanças na ressurgência, gradientes de temperatura (estratificação) e ciclos sazonais das várias espécies de algas envolvidas.<ref name=":0" />

==Ver também==
*[[Aquecimento global]]
*[[Declínio contemporâneo da biodiversidade mundial]]
* [[Declínio das populações de peixes marinhos]]
*[[Ambientalismo]]
*[[Lixo marinho]]
*[[Subida do nível do mar]]
*[[Acidificação oceânica]]
*[[Desoxigenação oceânica]]
*[[Temperatura da superfície global]]
*[[Variabilidade e mudança climática]]
*[[Onda de calor marinha]]
*[[Mudanças climáticas e pesca]]
* [[Acidificação oceânica]] - Diminuição dos níveis de pH no oceano
* {{Ill|en|Estratificação oceânica|Ocean stratification|Estratificação oceânica}} - Camadas de água oceânica devido a diferenças de densidade
* {{Ill|en|Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Clima em Mudança|Special Report on the Ocean and Cryosphere in a Changing Climate|Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Clima em Mudança}} - Relatório do IPCC 2019
* {{Ill|en|Ciclones tropicais e mudanças climáticas|Tropical cyclones and climate change|Ciclones tropicais e mudanças climáticas}} - Impacto das mudanças climáticas nos ciclones tropicais

== Referências ==
<references />
{{Mudança do clima}}{{Terra}}
[[Categoria:Aquecimento global]]
[[Categoria:Desastres ambientais]]
[[Categoria:Oceanos]]
[[Categoria:Conservação marinha]]
[[Categoria:Ciências da Terra]]
[[Categoria:Clima]]
[[Categoria:Mudanças climáticas]]