Mostrar código-fonte de Farinha de falha

{{Short description|Rocha esmagada encontrada perto de falhas}}
{{Info/Rocha
| nome = Kakirito<br>(farinha de falha, goiva de falha)
| tipo = rocha metamórfica
| imagem  = Fault gouge on Bailey Island, Maine.jpg
| imagem-tamanho = 250px
| legenda = Farinha de falha azulada num [[xisto]] da [[ilha de Bailey]], [[Maine]].
| classe = [[Rocha metamórfica|Metamórfica]] (cataclástica)
| cor = variável (cinzento escuro, cinza, esbranquiçada)
| textura = Rocha granular friável de grão fino
| série_ígnea = 
| protolito = várias rochas
| min_essenciais = 
| min_acessórios = 
}}
[[File:Canones_fault.jpg|thumb|260px|A [[falha de Canones]], que separa o [[rift do Rio Grande]] (à esquerda) do [[Planalto do Colorado]] (à direita). A falha é marcada por uma espessa camada de farinha de falha vermelha entre arenitos jurássicos e leitos de gesso.]] 
[[File:FaultGouge.JPG|thumb|260px|Superfície de fractura vertical (acima da mochila) com kakirito cor de salmão.]]
'''Kakirito''', '''goiva de falha''', '''farinha de falha''', '''farinha de rocha''' ou '''''gouge''''', é a designação dada em [[geologia]] à [[rocha]] moída em [[Plano de falha|planos de falha]] que se apresenta friável (incoesa) e pulverulenta, com menos de 30% de [[clasto]]s >&nbsp;2&nbsp;mm de diâmetro,<ref name="Wood_2008"/> cuja presença indica condições termodinâmicas pouco profundas da [[crusta]], sem as recristalizações dinâmicas que originam rochas como os [[milonito]]s e [[cataclasito]]s.<ref>[https://sigep.eco.br/glossario/verbete/gouge.htm Glossário Geológico: «gouge»].</ref><ref>[https://www.mineralatlas.eu/lexikon/index.php/RockData?rock=Kakirit Mineralatlas.eu: «kakirit»].</ref> Esta rocha ocorre quando a [[cataclase]] é tão intensa que ocorre a moagem da rocha original até uma [[granulometria]] muito fina.

A designação «''kakirito''» (nome derivado do [[lago Kakir]], do [[Suécia|norte da Suécia]]) foi introduzido por [[Fredrik Svenonius]], em 1900,<ref>Fredrik Svenonius: ''Öfversikt af Stora Sjöfallets och angränsande fjälltrakters geologi.'' Geologiska Föreningen i Stockholm Förhandlingar, Bd.&nbsp;22, Nr.&nbsp;4, 1900, pp.&nbsp;273–322, {{DOI|10.1080/11035890009446896}}</ref> para designar [[rochas não consolidadas]] primárias com uma [[textura (geologia)|textura]] caótica não direcional, que se formam por deformação fracturada em resultado de tensões tectónicas. Os kakiritos e as rochas geneticamente semelhantes são resumidos sob a designação genérica de «rochas com uma estrutura de deformação» ou «[[rochas cataclásticas]]».

==Descrição==
A goiva de falha é um tipo de rocha de falha melhor definida pela sua [[granulometria]]. É encontrado como rocha de falha incoesa (rocha que pode ser quebrada nos seus grânulos componentes no afloramento atual, apenas com a ajuda dos dedos), com menos de 30% de [[clasto]]s >&nbsp;2&nbsp;mm de diâmetro.<ref name="Wood_2008">{{cite journal |last1=Woodcock |first1=NH |last2=Mort |first2=K |date=2008 |title=Classification of fault breccias and related fault rocks |journal=Geological Magazine |volume=145 |issue=3 |page=435-440|doi=10.1017/S0016756808004883 |s2cid=55133319 |url=https://www.gt-crust.ru/jour/article/view/620 }}</ref> A goiva de falha forma-se em zonas de falha próximas da superfície com mecanismos de [[deformação frágil]]. Existem várias propriedades da goiva de falha que influenciam a sua resistência, incluindo a composição, o teor de água, a espessura, a temperatura e as condições de taxa de deformação da falha.<ref name="Engeld_1974">{{cite journal |last1=Engelder |first1=J |date=1974 |title=Cataclasis and the Generation of Fault Gouge |journal=Geological Society of America Bulletin |volume=85 |issue=10 |page=1515-1522|doi=10.1130/0016-7606(1974)85<1515:CATGOF>2.0.CO;2 }}</ref><ref name=":2">{{Cite journal |last1=Brock |first1=William |last2=Engelder |first2=Terry |date=1977 |title=Deformation associated with the movement of the Muddy Mountain overthrust in the Buffington window, southeastern Nevada |journal=Geol. Soc. Of America Bulletin |volume=88 |issue=11 |pages=1667–1677|doi=10.1130/0016-7606(1977)88<1667:DAWTMO>2.0.CO;2 }}</ref><ref>{{Cite journal |last1=Coffey |first1=Genevieve |last2=Savage |first2=Heather |last3=Polissar |first3=Pratigya |last4=Rowe |first4=Christie |last5=Rabinowitz |first5=Hannah |date=2019 |title=Hot on the trail: Coseismic heating on a localized structure along the Muddy Mountain fault, Nevada |journal=Journal of Structural Geology |volume=120 |pages=67–79|doi=10.1016/j.jsg.2018.12.012 |s2cid=135357969 }}</ref>

===Propriedades===
A resistência à rotura de uma goiva de falha depende da sua composição, do seu [[teor em água]], da sua espessura, da sua temperatura e pode ser facilmente afetada por quaisquer alterações na [[tensão normal]] efectiva e na taxa de deslizamento. Todos estes parâmetros têm um significativo efeito sobre o [[coeficiente de atrito]].<ref name="Lockner_2011">{{Cite journal|last1=Lockner|first1=David A.|last2=Morrow|first2=Carolyn|last3=Moore|first3=Diane|last4=Hickman|first4=Stephen|date=Abril 2011|title=Low strength of deep San Andreas fault gouge from SAFOD core|url=https://www.nature.com/articles/nature09927|journal=Nature|language=en|volume=472|issue=7341|pages=82–85|doi=10.1038/nature09927|pmid=21441903|s2cid=4413916|issn=1476-4687}}</ref>

Tal como nas restantes rochas, a [[lei de Byerlee]] (proposta pelo gofísico australiano [[James Douglas Byerlee]]) é utilizada para descrever a sua força de atrito.<ref>{{Cite journal |last=Byerlee |first=J |date=1978 |title=Friction of Rocks |journal=Pure and Applied Geophysics |volume=116 |issue=4–5 |pages=615–626|doi=10.1007/BF00876528 |s2cid=128666327 }}</ref> O seu teor é o seguinte:<big><math display="block">\tau = \mu* \sigma{\scriptstyle\text{n}}</math></big>onde:

* <math>\tau</math> = [[tensão de cisalhamento|tensão de corte]]
* <math>\mu</math> = [[coeficiente de atrito]]
* <math>\sigma{\scriptstyle\text{n}}</math> = [[tensão normal]]

Como o valor tende a ser muito inferior ao das rochas encaixantes, as camadas de goiva de falha tendem a facilitar o deslizamento das falhas onde ocorrem. Contudo, a composição terá um forte impacto no comportamento de deslizamento da falha. Uma elevada resistência à fricção está associada a uma composição rica em minerais resitentes à [[abrasão]], como o [[quartzo]] e os [[feldspato]]s.<ref name="Ikari_2009">{{cite journal |last1=Ikari |first1=M |last2=Saffer |first2=D |last3=Marone |first3=C |date=2009 |title=Frictional and hydrologic properties of clay-rich fault gouge |journal=Journal of Geophysical Research: Solid Earth |volume=114 |issue=B5|doi=10.1029/2008JB006089 |doi-access=free }}</ref>

A composição e a concentração de minerais argilosos afectam o comportamento da falha na crosta frágil.  As falhas dominadas por minerais de argila ([[montmorilonite]], [[ilite]] e [[clorite]]) são consistentemente mais fracas. Aquelas com alta concentração de montmorilonite são significativamente mais fracas do que as que apresentam uma composição rica em clorite ou ilite.<ref name="Ikari_2009" />

A composição também afecta a permeabilidade de uma goiva de falha, sendo um parâmetro importante no controlo da mecânica das falhas e da estabilidade por fricção. A presença de água reduz a resistência à fricção entre os grãos de minerais do grupo dos [[filossilicato]]s,<ref>{{Cite journal |last1=Morrow |first1=C.A. |last2=Moore |first2=D.E |last3=Lockner |first3=D.A. |date=2000 |title=The effect of mineral bond strength and adsorbed water on fault gouge frictional strength |journal=Geophysical Research Letters |volume=27 |issue=6 |pages=815–818|doi=10.1029/1999GL008401 |s2cid=53516185 |doi-access=free }}</ref> a que acresce que a permeabilidade antes do cisalhamento é geralmente maior do que após a deformação.

No entanto, a influência do cisalhamento varia de acordo com a composição.<ref name="Ikari_2009" /> Por exemplo, com montmorilonite ou ilite, uma diminuição acentuada é visível na [[permeabilidade (geologia)|permeabilidade]] pós-cisalhamento. No entanto, com minerais como a clorite, a maior permeabilidade será mantida mesmo após o cisalhamento.<ref name="Ikari_2009" /> Como os cristais de clorite se formam a pressão e temperatura mais altas, é mais provável que permaneçam como agregados maiores nas zonas de cisalhamento em comparação com o tamanho menor dos grãos de montmorilonite ou ilite, o que explica por que a permeabilidade é menos afetada.<ref name="Ikari_2009" /> As goivas de falha ricas em clorite e quartzo mantêm a sua elevada permeabilidade até uma profundidade significativa.<ref name="Ikari_2009" />

Por outro lado, as falhas com baixa permeabilidade, tais como as falhas com alto teor de minerais argilosos, são mais susceptíveis de desenvolver altas pressões nos poros porque o fluxo de fluido é incapaz de se difundir.

A espessura da camada de farinha de falha aumenta ao longo do tempo com a acumulação de eventos de deslizamento ao longo de uma falha. Uma maior espessura de goiva de falha está associada a graus mais elevados de pressão de fluido de poros.<ref name=":1" />

Como já foi referido, a resistência ao atrito de uma goiva de falha pode alterar-se com a variação da temperatura. No entanto, o seu efeito difere consoante a composição mineral. Por exemplo, no caso das rochas de quartzo, um aumento da temperatura irá provavelmente diminuir o coeficiente de atrito, enquanto uma diminuição da temperatura leva a um aumento do coeficiente de atrito.<ref>{{Cite journal |last=Chester |first=F.M. |date=1994 |title=Effects of temperature on friction: constitutive equations and experiments with quartz gouge |journal=Journal of Geophysical Research |volume=99 |pages=7247–7261|doi=10.1029/93JB03110 }}</ref>
=== Formação ===
A formação de goivas de falha resulta da localização de tensão nas zonas de falha em condições de fragilidade (ruptilidade) perto da superfície da Terra.<ref name=":0">{{cite journal |last1=Sibson |first1=Richard. |date=1977 |title=Fault rocks and fault mechanisms |url=https://www.researchgate.net/publication/313511064 |journal=Geol. Soc. Lond. |volume=133 |issue=3 |pages=191–213|doi=10.1144/gsjgs.133.3.0191 |s2cid=131446805 }}</ref> A trituração e a [[Ciminuição|moagem]] dos dois lados da [[Falha (geologia)|falha]] movendo-se um ao longo do outro resulta na redução e fragmentação do tamanho do grão. Primeiro, forma-se uma [[brecha de falha]] com mais material fragmentado e, com a trituração contínua, a rocha transforma-se numa goiva de falha com menos fragmentos e mais pequenos, aumentando a interação fluido-rocha para alterar alguns [[Mineral|minerais]] e produzir [[argila]]. Tanto a taxa como a forma de deslizamento numa zona de falha, bem como os fluidos disponíveis, podem determinar a formação de diferentes variedades de rocha de falha.<ref name=":0" /> 

Os fluidos dos poros desempenham um importante papel na formação destas rochas. A formação de falhas é determinada pelas condições de tensão na crosta terrestre. A pressão do fluido nos poros da rocha pode reduzir significativamente a tensão necessária para induzir a formação de falhas, reduzindo a tensão normal efectiva.<ref name=":1">{{cite journal |last1=Faulkner |first1=D. R. |last2=Sanchez-Roa |first2=C. |last3=Boulton |first3=C. |last4=den Hartog |first4=S. A. M. |date=28 dezembro 2017 |title=Pore Fluid Pressure Development in Compacting Fault Gouge in Theory, Experiments, and Nature |journal=Journal of Geophysical Research: Solid Earth |volume=123 |issue=1 |pages=226–241 |doi=10.1002/2017JB015130|s2cid=133793135 |doi-access=free }}</ref> A formação de goivas de falha pode diminuir a permeabilidade da rocha através da criação de [[Mineral de argila|minerais de argila]], levando a pressões mais altas dos fluido dos poros numa zona localizada e à concentração do deslizamento dentro da camada de farinha de falha.<ref name=":1" /> 

A [[deformação cataclástica]] é um dos principais modos de formação de falhas, pois a falha é um produto comum da [[cataclase]] em condições de baixa pressão e temperatura.<ref name="Engeld_1974" /> Depende do atrito e é considerado um mecanismo de [[deformação rúptil]]. <ref name="Engeld_1974" /> A cataclase envolve a granulação de grãos devido tanto à fratura frágil quanto à rotação rígida do corpo - onde a rotação rígida do corpo ocorre quando os grãos minerais exibem rotação de acordo com o sentido do [[cisalhamento|corte]] do plano de falha.<ref name="Engeld_1974" /> A intensidade da cataclase correspondente é exibida por uma diminuição no tamanho médio dos grãos.<ref name="Engeld_1974" /> Além disso, o desenvolvimento de falhas também pode ser acompanhado por uma degradação na uniformidade granulométrica.<ref name="Engeld_1974" />
=== Classificação===
As rochas de falha podem ser classificadas em termos das suas texturas, embora as divisões sejam frequentemente graduais. De acordo com o esquema de classificação proposto por [[Richard H. Sibson]] em 1977, a goiva de falha é definida como uma rocha incoesa, com tecido orientado aleatoriamente, contendo menos de 30% de fragmentos visíveis à vista desarmada ([[clasto]]s >&nbsp;2&nbsp;mm de diâmetro).<ref name=":0" /> Uma rocha de falha incoesa com mais de 30% de fragmentos visíveis é considerada uma [[brecha de falha]] e as rochas de falha coesivas integram a série dos [[cataclasito]]s (não foliada) ou do [[milonito]] (foliada).<ref name=":0" /> A classificação foi posteriormente modificado para incluir cataclasitos foliados.<ref>{{Cite journal |last1=Chester | first1=F. M. | last2=Friedman | first2=M.| last3=Logan | first3=J. | date= 1985 | title =Foliated Cataclasites | journal=Tectonophysics | volume=111 | issue=1–2 | pages=139–146| doi=10.1016/0040-1951(85)90071-X }}</ref> 

Este esquema de classificação foi ainda mais simplificado para facilitar a classificação no campo. Definiu a goiva de falha como uma rocha com menos de 30% de clastos >&nbsp;2&nbsp;mm encontrada como rocha de falha incoesa no afloramento atual.<ref name="Wood_2008" /> Com base neste esquema de classificação, as brechas de falha podem sofrer subdivisão (como brechas caóticas, de mosaico e de crepitação). Esta subdivisão permite que as brechas de falha sejam foliadas ou não foliadas, coesivas ou incoesivas, bem como conter ou não uma matriz de granulação fina, pequenos clastos e até mesmo cimento cristalino em proporções variáveis.<ref name="Wood_2008" /> 

==Referências==
{{Reflist}}
== Bibliografia ==
* {{Literatur | autor=Peter Heitzmann | título=Kakirite, Kataklasite, Mylonite - Zur Nomenklatur der Metamorphite mit Verformungsgefügen | obra=Eclogae Geologicae Helvetiae | volume=Bd.&nbsp;78 | número=2| página=273–286 | ano=1985 | DOI=10.5169/seals-165656}}
* {{Literatur | autor=Wolfhard Wimmenauer | título=Petrographie der magmatischen und metamorphen Gesteine | páginas=311&nbsp;ff. | ano=1985 | editora=Enke | ISBN=3-432-94671-6 | local=Stuttgart }}

==Ver também==
* [[Brecha de falha]]
* [[Falha geológica]]

{{Controlo de autoridade}}
{{Tipos de rocha}}

[[Categoria:Rochas]]
[[Categoria:Tectónica]]