Teorema da compacidade

Fonte: testwiki
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O Teorema da Compacidade assegura que um conjunto Γ qualquer formado por fórmulas bem formadas de um cálculo de predicados de primeira ordem é satisfazível se, e somente se, todo subconjunto finito Γ0 de Γ também é satisfazível. Ou seja, se Γα, então, qualquer que seja Γ0={α1,...,αn}, com Γ0Γ, tem-se que Γ0α; reciprocamente, se, qualquer que seja Γ0Γ, tem-se que Γ0α, então Γα.

Este teorema denota uma importante propriedade para a lógica de predicados, pois garante que toda e qualquer fórmula é derivável (ou logicamente implicada, no caso semântico) a partir de um conjunto finito de premissas.

No caso proposicional, a propriedade da compacidade é consequência do Teorema de Tychonoff (que assegura que o produto de espaços compactos também é compacto) aplicado a espaços de Stone compactos, e daí segue o nome do teorema.

Definição

Seja Γ um conjunto de fórmulas da lógica proposicional. Γ é satisfazível se e somente se todo subconjunto finito de Γ é satisfazível. O teorema é válido mesmo que Γ seja infinito. Prova:

1. IDA Assuma que Γ seja satisfazível. Então existe uma valoração v que satisfaz Γ. Tome S como sendo um subconjunto qualquer de Γ. Tome v como valoração. Como v satisfaz ao conjunto todo (ou seja, satisfaz a Γ ), v satisfaz cada uma das partes. Logo v satisfaz S. Portanto, S é satisfazível.

2. VOLTA Assuma que todo subconjunto finito de Γ é satisfazível (nesse caso dizemos que Γ é FINITAMENTE SATISFAZÍVEL). Temos que provar que Γ é satisfazível, ou seja, que existe uma valoração v que satisfaz Γ.

Vamos aumentar Γ de forma consistente até quando esse processo chegue em um CONJUNTO MAXIMALMENTE CONSISTENTE, isto é, um conjunto ∆ tal que:

1. Para toda fórmula θ , θ ∈ ∆ ou ¬θ ∈ ∆ . 2. Para nenhuma fórmula δ , δ ∈ ∆ e ¬δ ∈ ∆ . Seja α0, α1, α2,... uma enumeração do conjunto de fórmulas PROP. Agora tome:

  • ∆0 = Γ.
  • ∆n+1 = {αn} U ∆n se {αn} é consistente com ∆n. caso contrário, ∆n+1 = Γ.

Faça ∆ = a união de todos os ∆i começando com i = 0.

Podemos afirmar que ∆ é FINITAMENTE SATISFAZÍVEL. A prova é por indução sobre n, mostrando que para todo n o ∆n é finitamente satisfazível.

Seja a seguinte valoração: v(x) = 1 se e somente se x ∈ ∆. Claramente v satisfaz a todas as fórmulas atômicas em ∆. Ou seja, precisamos provar que PARA TODA α ∈ PROP ^v(α) = 1 se e somente se α ∈ ∆.

Prova: por indução sobre a complexidade de α .

1. CASO BASE: α é atômica.

  • Trivial, pois a própria definição de v atesta que v satisfaz α quando α é atômica e pertence a ∆.

2. CASOS INDUTIVOS: I) α é da forma ¬β. II) α é da forma (ρ∧θ). III) α é da forma (ρ∨θ ). IV) α é da forma (ρ→θ).

Demonstraremos apenas o caso da negação:

I) Hipótese Indutiva: ^v(β ) = 1 se e somente se β ∈ ∆ Tese: ^v(¬β ) = 1 se e somente se ¬β ∈ ∆

IDA: Se ^ v(¬β) = 1 então ¬β ∈ ∆ . Suponha que ¬β ∉ ∆. Como ∆ é maximalmente consistente então β ∈ ∆ .Logo, pela HI, ^v(β ) = 1. Daí, ^v(¬β ) = 0. Portanto, ^v(¬β ) ≠ 0.

VOLTA: Se ¬β ∈ ∆ , então ^ v(¬β ) = 1. Assuma que ¬β ∈ ∆. Como ∆ é maximalmente consistente, β ∉ ∆ . Da HI, ^ v(β ) = 0. Daí, ^ v(¬β ) = 1.

Demonstração

Suponha ={F1,F2,F3,...} um conjunto de fórmulas e que todo subconjunto finito de é satisfazível. Seja A1,A2,A3,... uma lista, sem repetições, das fórmulas atômicas que ocorrem em F1, seguida das fórmulas atômicas que ocorrem em F2 (e não em F1), e assim por diante.

Uma vez que cada subconjuto finito de é satisfazível, para cada n existe uma valoração 𝒜n tal que 𝒜ni=1nFn. Então, cada Fi em é válido para todas estas valorações finitas. Assumimos que 𝒜n é definido somente nas fórmulas atômicas que ocorrem em F1,F2,F3,.... Para cada n, os valores de verdade que 𝒜n atribui para A1,A2,A3,... formam uma sequência finita de 0's e 1's. Então X={𝒜n|n=1,2,...} é um conjunto infinito de sequências binárias finitas.

Neste ponto, utilizaremos o seguinte lema para mostar que existe uma sequência binária finita ω¯ na qual cada prefixo de ω¯ será também um prefixo de infitas sentenças de X.

Lema: Seja X um conjunto infinito de strings binárias finitas. Existe uma string binária ω¯ infinita tal que qualquer prefixo de ω¯ é também prefixo de uma quantidade infinita de x¯ em X
Demonstração: Uma string binária é uma sequência de 0's e 1's como 1001. As strings 1, 10, 101, 1011 são os prefixos de 1011. Temos um conjunto infinito X de strings de tamanho finito como estas. Queremos construir uma string infinta ω¯ de 0's e 1's tal que cada prefixo de ω¯ é também prefixo de uma quantidade infinita de strings em X
Nós construiremos ω¯ passo a passo da esquerda para a direita. Ao n-ésimo passo, não só saberemos qual será o n-ésimo dígito de ω¯ como também excluiremos strings indesejáveis de X.
Para determinarmos qual deverá ser o primeiro dígito de ω¯, olhamos para os primeiros dígitos de todas as strings em X (obviamente existe uma quantidade infinita de strings, assumeremos que se possa verificar todas). Se, ao verificar todas as strings, houver um número infinito de strings que começam com 1, então o primeiro dígito de ω¯ será 1 e excluiremos de X todas as strings que começam com 0 (Note que ainda continuaremos com um conjunto infinito de strings). De outra forma, ser houver apenas um número finito de strings que começam com 1, então excluiremos estas e o primeiro dígito de ω¯ será 0.
Este mesmo procedimento pode ser repetido até obtermos n dígitos de ω¯. Neste n-ésimo passo, também teremos excluído de X todas as strings que não começam com estes n dígitos, ficando apenas com um subconjunto X, também infinito, de X. Para obter o (n+1)-ésimo, podemos repetir o mesmo procedimento: Uma vez que X é infinito, possuirá uma quantidade infinita de strings de comprimento n+1 ou maior, logo se houver uma quantidade infinita de strings cujo (n+1)-ésimo dígito é 1, então o (n+1)-ésimo dígito de ω¯ também o será. Caso contrário, será 0 (em ambos os casos, também se exclui as strings indesejadas). Este conjunto resultante ainda será infinito.
Desta forma, continuando o procedimento, teremos uma sequência ω¯ infinita na qual os primeiros n dígitos de ω¯ são iguais aos primeiros n dígitos de uma quanitade infinita de strings em X, finalizando a demonstração de nosso lema.

Por fim, definimos uma valoração 𝒜 sobre todas as 𝒜n's como se segue: Seja 𝒜(An) o n-ésimo dígito de ω¯. Devemos demonstrar agora que toda fórmula F em vale em 𝒜, o que segue do fato que F vale em todas as finitas valorações em X. Seja m tal que F não contém nenuhuma fórmula atômica após Am, então existe um 𝒜n em X tal que 𝒜nF e as primeiras m entradas de 𝒜n são as mesmas de 𝒜, donde segue que 𝒜F

Assim, temos que toda fórmula no conjunto vale sob a valoração 𝒜, o que conclui nossa demonstração.

Aplicações

O Teorema da Compacidade pode ser usado para estabelecer que toda ordenação parcial de um conjunto infinito (porém contável) pode ser estendida a uma ordenação total. Usa-se o fato de que toda ordenação parcial de um conjunto finito pode ser estendida a uma ordenação total; isto pode ser demonstrado por indução sobre o tamanho do conjunto.

Ver também

Referências

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