Ciclo Miller

Fonte: testwiki
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Em engenharia, o ciclo Miller é um processo de combustão usado em um tipo de motor de combustão interna de quatro tempos. O ciclo Miller foi patenteado por Ralph Miller, um engenheiro estadunidense, nos anos 1940.

O ciclo Miller é baseado no ciclo Otto, mas a fase de expansão é mais prolongada que a fase de compressão, permitindo uma sobre-expansão (por isso chamado de um ciclo sobre-expandido) dos gases queimados que, de outro modo, seriam perdidos pelo escape.[1]

Este ciclo é também chamado de 5 tempos, além dos tradicionais (admissão, compressão, combustão e escape) há o quinto tempo, que seria a compressão com a válvula de admissão aberta.

Nos motores de ciclo Otto, o curso entre P.M.I. (ponto morto inferior) e P.M.S. (ponto morto superior) é feito com as válvulas de admissão e escape fechadas, permitindo maior compressão no sistema. No ciclo Miller esse mesmo trajeto é feito com as válvulas de admissão abertas por algum período de tempo. Isso permite que o pistão encontre menos resistência para a compressão dos gases, diminuindo os esforços necessários.

É correto afirmar que isso diminui a potência específica do conjunto, porém o ciclo Miller conta com turbo compressor ou compressor mecânico para compensar essa perda. Assim, os gases de admissão possuem maior pressão, otimizando a combustão.

Sem o compressor, esse ciclo tem o nome de Atkinson, e devido à menor potência, é comum sua utilização apenas em veículos híbridos.

Descrição do ciclo Miller

Descrição mecânica

O ciclo Miller é aplicado a motores de combustão interna, desenvolvido com o intuito de melhor aproveitamento da energia produzida pela combustão. Assim como o ciclo Otto, o ciclo Miller é um motor constituído por um bloco que contém todos os elementos necessários para que o motor possa funcionar perfeitamente: eixo virabrequim, bielas, pistões, cabeçote, etc.[2]

Funcionamento de um motor de 4 tempos convencional. No ciclo Miller o primeiro tempo é caracterizado pelo fechamento precoce da válvula de admissão.

No ciclo Miller, a válvula de admissão é deixada aberta mais tempo do que seria em um motor de ciclo Otto. Sendo assim, o curso de compressão é de dois ciclos discretos: inicialmente quando a válvula de admissão está aberta, e a porção final quando a válvula de admissão está fechada. Este curso de admissão de dois estágios cria o chamado "quinto" tempo. Na compressão, a carga é parcialmente expelida para fora através da válvula de admissão ainda aberta. Tipicamente, esta perda de ar de carga resultaria numa perda de energia. No entanto, no ciclo Miller, isto é compensado pela utilização de um compressor. [3]

No ciclo Miller, o pistão começa a comprimir a mistura de combustível-ar somente após a válvula de admissão se fechar. Em seguida, a válvula de admissão se fecha logo após o pistão percorrer certa distância acima da sua posição mais baixa: cerca de 20 a 30% do curso total do pistão deste curso ascendente. Assim, no motor de ciclo Miller, o pistão realmente comprime a mistura de combustível-ar somente durante os últimos 70% a 80% do curso de compressão. Durante a parte inicial do curso de compressão, o êmbolo empurra parte da mistura combustível-ar através da válvula de admissão ainda aberta e volta para dentro do coletor de admissão.[4]

Todo esse processo permite que os gases queimados sejam expandidos novamente, evitando que sejam expelidos pelo escape. Essa sobre expansão dos gases pode se dar pelos seguintes métodos:[5]

  • Uso de um sistema biela-manivela capaz de fazer com que o tempo de admissão/compressão seja menor que o tempo de expansão/escape;
  • Fechando a válvula de admissão antes do PMI (ponto morto inferior), reduzindo o tempo de admissão/compressão;
  • Fechando a válvula de admissão depois do PMI, mantendo a extensão da expansão.[5]

Além desses métodos, deve-se ressaltar que a taxa de compressão também deve ser controlável para que assim, crie-se um motor a gasolina de alto rendimento. Esse controle é possível por meio de um motor que possua sistemas de abertura de válvulas e da taxa de compressão. Apesar de serem essenciais, estes sistemas de variação de taxa de compressão ainda não atingiram o mercado.[5]

Descrição termodinâmica

Diagrama pressão-volume para o ciclo Miller

Em um motor de combustão interna de geometria fixa, a eficiência térmica aumenta se a taxa de expansão for maior do que a de compressão. [5]

Devido às diferentes maneiras possíveis de se idealizar o ciclo Miller com a manipulação da abertura e o fechamento de válvulas, é necessário que a taxa de compressão desse ciclo seja diferenciada em relação ao ciclo Otto, pois diferente deste, a fase de compressão não se dá do PMI ao PMS, mas sim entre uma fração do percurso.[6]

Com isso é possível dar origem ao conceito de compressão retida, definida por:[6]

εret=V1V2          (1)

Como uma cilindrada de um motor é a diferença entre um volume maior e outro menor, podemos definir o volume máximo admitido num cilindro no ciclo completo de um pistão:[6]

Vcil=V5V2          (2)

Sendo assim, em um motor de combustão interna de geometria fixa, é possível definir a taxa de compressão geométrica pela equação (3):[6]

εg=VPmiVPms=V5V2          (3)

Em seguida, é necessário encontrar a relação entre a taxa de expansão e compressão. Para o ciclo Miller, que quanto o maior o valor da relação de expansão, maior é o seu rendimento, a relação de expansão pode ser definida pela seguinte equação:[6]

σ=V5V2σ=εgεret          (4)

A eficiência de um ciclo termodinâmico é definida por:[6]

η=WQq          (5)

Onde W é o trabalho realizado no ciclo e Qq é o calor absorvido pela fonte quente. Pela primeira lei da termodinâmica, o trabalho de um ciclo é a diferença entre o calor da fonte quente e da fonte fria, sendo assim:[6]

W=QqQf          (6)

Para a determinação da eficiência do ciclo Miller, será necessário calcular a temperatura em diferentes pontos do ciclo. No ponto 1 será considerado o valor de uma temperatura T1 e uma pressão P1 (pressão atmosférica). O ponto 2 é onde a compressão acaba no qual é iniciado em 1. Para calcularmos o valor de T2 será utilizado as condições de um processo isentrópico de um gás ideal:[7]

T2=T1(V1V2)γ1=T1εretγ1=T1(εgσ)γ1          (7)

O caminho de 2 para 3 corresponde á uma combustão interna de ar e combustível, como a pressão e a temperatura aumentam proporcionalmente e o volume se mantém constante, o processo é definido com uma transformação isovolumétrica. Assim se pode calcular o calor do processo pela seguinte relação:[7]

Q=M.Cv.(T3T2)=Mc.Qmpc          (8)

Onde:

M = é a massa de ar e combustível na combustão interna;

Cv = é o calor específico a volume constante;

Mc = a massa do combustível;

Qmpc = o menor poder calorífico do combustível.[7]

Então:

T3T2=1+(Mc.QmM.Cv.T1.εγ1)=1+((γ1).M.Qm((AF)+1εretγ1.p1.ΔV))          (9)

Onde (AF) é a razão ar-combustível.

Considerando:[7]

B=(M.Qmpcp1.ΔV.(1+(AF)))          (10)

Substituindo a temperatura T2 pela equação (7), podemos reescrever a equação (9):[7]

T3T1=(εgσ)γ1+(γ1).B          (11)

De 3 até 4 ocorre uma expansão isentrópica durante todo o percurso dentro pistão. Sendo uma transformação isentrópica, analogamente a equação (7), temos que:[7]

T4T3=(1εg)γ1          (12)

Substituindo a temperatura T3 pela equação (11):[7]

T4T1=(1σγ1)+( (γ1).Bσγ1.εretγ1)          (13)

No diagrama PV, a pressão nos pontos 5 e 1 são iguais, isso permite obter a relação:[7]

T5T1=σ          (14)

Com a expressão da eficiência térmica de um ciclo obtida pela primeira lei, é possível desenvolver a relação do rendimento do ciclo Miller:[7]

ηM=1Q45+Q51Q23=1T4T5+γ.(T5T1)T3T2          (15)

Substituindo T1, T2, T3, T4 e T5, respectivamente, o rendimento do ciclo Miller é expressado como:[7]

ηM=11εgγ1σγ(γ1)γ.σγ1+1(γ1).σγ1.B          (16)

No qual

B=(M.Qmpcp1.ΔV.(1+(AF)))

Comparação do Ciclo Miller com outros ciclos

Funcionamento de um motor operando com ciclo Atkinson

Os motores de ciclo termodinâmico alternativos ao Otto, como o Atkinson e o Miller existem porque, nos carros híbridos, não é suficiente introduzir um motor elétrico para auxiliar o motor a combustão. Isso se explica pelo fato de que em estradas, quando o motor elétrico entra menos em ação, o motor a combustão precisa atuar de forma mais eficaz a fim de conseguir bons números de consumo.O ciclo Atkinson possui uma menor perda interna por bombeamento comparado ao ciclo Otto, o que possibilita um fluxo reverso de mistura para dentro do sistema de admissão, sem queima, reduzindo de maneira significativa o deslocamento do motor. Desta forma, o motor passa a ter “cinco tempos”, ou seja, admissão, fluxo reverso, compressão, potência e escape.[8]

Diagrama pressão-volume do sistema Atkinson

O ciclo Miller, com restrições, é o ciclo Atkinson atribuído de um sistema forçado de admissão com supercompressor. Basicamente o tempo de acionamento das válvulas de admissão muda, isto é, durante parte do tempo de compressão, as válvulas de admissão ficam abertas, com o motor comprimindo contra o supercompressor em vez de contra a pressão nas paredes dos cilindros. A fase de expansão é mais prolongada que a fase de compressão.[8]

Essa abertura poderia resultar em menos potência, já que haveria menos combustível na câmara de combustão para queimar, não fosse o fato de que todo motor de ciclo Miller conta com sobre alimentação, ou seja, um turbo, que continua a empurrar combustível e ar para dentro do motor.[8]

Aplicações do ciclo Miller

Um motor que opera sobre o ciclo Miller, apresenta um rendimento superior aos motores que trabalham sobre o ciclo Otto devido ao aproveitamento de elevada entalpia proveniente nos gases de escape, que em outros ciclos não são reutilizados. Apesar do alto rendimento, não é comum encontrar motores que se utilizem do ciclo Miller, sendo mais provável ver esse ciclo operando em protótipos ou em motores fabricados em baixos volumes de produção.[6]

Um dos poucos casos de produção em série foi o motor KJ-ZEM fabricado pela Mazda® em 1995 no modelo Millenia.[6]

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