Teorema da função implícita

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Em matemática, mais especificamente no cálculo multi variável, o teorema da função implícita é uma ferramenta que permite estabelecer relações envolvendo funções de várias variáveis reais.

O teorema afirma que se a equação F(x1, ..., xn, y1, ..., ym) = F(x, y) = 0 satisfaz algumas condições de suavidade em suas derivadas parciais, em seguida, pode-se expressar as m variáveis yi em termos de n variáveis xj como yi = fi(x), pelo menos em uma vizinhança de (x1, ..., xn). Em seguida, cada uma dessas funções implícitas fi(x)[1] satisfaz F(x, y) = 0.


Versão bidimensional

Seja f:2, isto é, z=f(x,y) é uma função de duas variáveis independentes. Agora se fixamos z=c=f(x,y), onde c é uma constante, então as variáveis x e y deixam de ser independentes, livres. Agora só é possível alguns valores de x e y de modo que f(x,y) seja igual a c. Estamos fazendo a intersecção da superfície S=(x,y,f(x,y)) com o plano z=c, isto é, (x,y,f(x,y))=(x,y,c). No pior dos casos esta intersecção pode ser vazia ou apenas um ponto. Mas ela também pode ser uma curva(uma linha) chamada curva de nível pois ela está no nível(altura) c.

Neste caso esta curva f1(c)={(x,y)2:f(x,y)=c} pode representar localmente uma função entre x e y, a saber, y=g(x), g:𝕏,𝕏 e c=f(x,g(x)).

Por exemplo, se f(x,y)=yx2=c, para digamos, c=4, então está função define implicitamente a função y=g(x)=x24 , uma simples função de segundo grau, uma parábola.

Versão tridimensional

Da mesma forma podemos definir f:3, isto é, w=f(x,y,z) é agora uma função de três variáveis independentes. Se fizermos a intersecção da hiper superfície S=(x,y,z,f(x,y,z)) com o plano w=c (ambos na 4ª dimensão), isto é, c=f(x,y,z) , podemos ter dependendo de  S e c, uma superfície em 3. Neste caso esta superfície f1(c)={(x,y,z)3:f(x,y,z)=c} pode representar localmente uma função entre x,y e z , a saber, z=h(x,y), h:𝕏,𝕏2 e c=f(x,y,h(x,y)).

Por exemplo f(x,y,z)=x2+y2+z29=c, para digamos, c=0, temos x2+y2+z2=9 , uma esfera centrada na origem de raio 3. Já neste exemplo a esfera completa não define uma função, mas se escolhermos o hemisfério superior ou inferior temos uma função. Escolhendo o hemisfério inferior temos: z=h(x,y)=9x2y2.

Critérios, condições para existir a função implícita e sua derivada

Vejamos agora que características deve ter a função f. Digamos que w=f(x,y,z)=c=0. Neste caso a diferencial de f é df=fxdx+fydy+fzdz=0, pois f é constante. Vamos supor que esta restrição f=c define uma função implícita z=g(x,y).

Então, dz=fxfzdxfyfzdy=zxdx+zydy.

Onde o lado direito é o diferencial de z=g(x,y) e o lado esquerdo isolamos dz do diferencial df acima.

Comparando os dois lados da equação percebemos que se existe z=g(x,y) e se z0=g(x0,y0) então:

(1) fz(x0,y0,z0)0

(2) zx(x0,y0)=fx(x0,y0,z0)fz(x0,y0,z0) e zy(x0,y0)=fy(x0,y0,z0)fz(x0,y0,z0)

Ou seja, em (2) vemos que para existir a função implícita, a derivada da f em relação a z não pode ser nula, pois não existe divisão por zero.

E se a condição (1) é satisfeita então (2) mostra como deve ser o cálculo das derivadas parciais de z=g(x,y).

Também podemos observar o seguinte em (2), se queremos que as derivadas parciais de g sejam contínuas então as derivadas parciais de f também devem ser contínuas, pois a divisão de funções contínuas é também uma função contínua(desde que o denominador não se anule). Logo f deve ser no mínimo de classe C1 e nesse caso g também é no mínimo de classe C1.[2]

Para facilitar vamos agora enunciar o teorema da função implícita no caso mais simples possível.

Teorema da Função Implícita (Caso Especial parte A, f:2U )

Seja f:U uma função de classe C1, definida num aberto U2, e (x0,y0)U tal que f(x0,y0)=c, fy(x0,y0)0. Então existe um retângulo aberto I×J, de centro (x0,y0), tal que f1(c)(I×J) é o gráfico de uma função g:IJ, de classe C1. Isto é, para cada xI existe um único y=g(x)J tal que f(x,y)=f(x,g(x))=c. E para todo xI temos g(x)=df/dxdf/dy, onde estas derivadas são calculadas no ponto (x,g(x))=(x,y)(I×J)[3]

Demonstração

Sem perda de generalidade, podemos sempre supor que 0=c=f(x0,y0).

Também vimos nos critérios para existir a função implícita e novamente reforçado no enunciado do teorema que:

i) tanto f como g são funções contínuas e possuem derivadas contínuas, logo, ambos são no mínimo de classe C1 ,

ii) e fy(x0,y0)0.

Então vamos escolher uma região onde fy é sempre positivo ou é sempre negativo. Para fixar as ideias vamos supor que fy(x0,y0)=2M>0.

Como f é contínua existem:

a) Um retângulo centrado em (x0,y0), I=(x0a,x0+a) e J¯=[y0b,y0+b] sendo a>0 e b>0 tal que fyM em I×J¯.

b) E P>0 tal que o módulo(valor absoluto) da derivada parcial, |fx|<P em I×J¯.

Podemos agora escrever:

. f(x,y0+b)=f(x,y0+b)f(x0,y0)=[f(x,y0+b)f(x0,y0+b)]+[f(x0,y0+b)f(x0,y0)] (3)

.

Usando o teorema do valor médio podemos reescrever a parte direita de (3):

.

. f(x,y0+b)=fx(αx+(1α)x0,y0+b)(xx0)+fy(x0,β(y0+b)+(1β)y0)((y0+b)y0) (4)

.

onde α e β estão entre 0 e 1. Agora se definirmos δ=min{a,bMP} e |xx0|<δ temos que o primeiro termo do lado direito de (4) é em valor absoluto menor que PMbP=Mb e o segundo termo do lado esquerdo de (4) é maior ou igual a Mb>0. E portanto f(x,y0+b) é positivo. Repetindo o mesmo procedimento de (3) e (4) para f(x,y0b) chegaremos a conclusão que f(x,y0b) é negativo. Agora usando o Teorema do Valor Intermediário chegamos a conclusão que existe y entre y0b e y0+b tal que f(x,y)=0. E este ponto y é único pois para x fixado f é crescente pois fy>0 em I×J¯, e isto mostra que depois que f passa do zero ela continua crescendo(ela não retorna ao zero). Logo para cada x tal que |xx0|<δ existe um único y tal que f(x,y)=0 e esta relação de um para um, para cada x existe um único y, define uma função y=g(x). Assim a primeira parte do teorema está demonstrado.

.

Segunda parte:

.

Acabamos de mostrar para cada x que satisfaz |xx0|<δ e δ=min{a,bMP} existe um único y tal que f(x,y)=0 e isto define implicitamente a função y=g(x). Então para cada xque satisfaz f(x,y)=f(x,g(x))=0 podemos reescrever (3) e (4)

.

. 0=f(x,y)f(x0,y0)=[f(x,y)f(x0,y)]+[f(x0,y)f(x0,y0)] (3A)

.

. 0=fx(αx+(1α)x0,y)(xx0)+fy(x0,βy+(1β)y0)(g(x)g(x0)) (4A)

.

. Em (4A) usamos o fato que y=g(x) e y0=g(x0) e α e β variam, dependem de x e y , mas estão entre 0 e 1.

.

. De (4A) temos: g(x)g(x0)xx0=fx(αx+(1α)x0,y)fy(x0,βy+(1β)y0)

.

. Quando xx0, por continuidade tem-se y=g(x)y0=g(x0) e

.

. g(x0)=limx x0g(x)g(x0)xx0=fx(x0,y0)fy(x0,y0)(5)

.

. Também podemos escolher x0x e neste caso temos:

.

. g(x)=limx0 xg(x0)g(x)x0x=fx(x,y)fy(x,y).(5A)

Observe que f:U é uma função de classe C1(derivadas contínuas) e pela condição a) fyM em I×J¯, logo o denominador não se anula e portanto o lado direito de (5) e (5A) é uma função contínua, assim a função g(x)é contínua e portanto g:IJ, é uma função de classe ,no mínimo, C1.


Teorema da Função Implícita (Caso Especial parte B, f:n+1 )

Seja f:n+1 uma função de classe C1(possua derivadas parciais contínuas). Denote os pontos em n+1por (𝐱,z0), onde 𝐱ne z

Assuma que (𝐱,z0)satisfaz f(𝐱0,z0)=0 e fz(𝐱0,z0)0. Então existe uma bola Uque contem 𝐱𝟎em ne uma vizinhança Vde z0em tal que existe uma única função z=g(𝐱) definido para 𝐱em Ue zem Vque satisfaz f(𝐱,g(𝐱))=0.

Além disso, se 𝐱em Ue zem Vsatisfaz f(𝐱,z)=0, então z=g(𝐱). Finalmente, z=g(𝐱) é de classe C1(é uma função com derivadas contínuas), e suas derivadas parciais são calculadas por:

.

. gxi(𝐱)=fxi(𝐱,g(𝐱))fz(𝐱,g(𝐱)) para i=1,..,n


Demonstração

A demonstração é essencialmente a mesma da parte A (adaptado de Marsden e Tromba - Vector Calculus - 4ª edição) . Vamos mostrar para n=2, logo f:3. O caso geral para qualquer n é similar, apenas mudando a notação. Escrevemos 𝐱=(x,y)e 𝐱𝟎=(x0,y0). Por hipótese fz(x0,y0,z0)0, logo ou é positivo ou é negativo, para fixar as ideias vamos supor que fy(x0,y0,z0)=2M>0.

.

Como f é contínua existe:

c) Uma caixa(paralelepípedo) centrado em (x0,y0,z0), I=(x0a,x0+a)×(y0b,y0+b) e J¯=[z0c,z0+c] sendo a>0, b>0 e c>0 tal que fzM em I×J¯.

d) E P>0 tal que o módulo(valor absoluto) da derivada parcial, |fx|<P e |fy|<P em I×J¯.

.

Podemos agora escrever:

. f(𝐱,z0+c)=f(𝐱,z0+c)f(𝐱0,y0)=[f(𝐱,z0+c)f(𝐱0,z0+c)]+[f(𝐱0,z0+c)f(𝐱0,y0)] (6)


Considere a função h(t)=f(t𝐱+(1t)𝐱0,z0+c)para 𝐱e zfixos. Pelo teorema do valor médio existe um número θ entre 0 e 1 tal que

. h(1)h(0)=h(θ)(10)=h(θ), isto é,

.

. f(𝐱,z0+c)f(𝐱0,z0+c)=[Dxf(θ𝐱+(1θ)𝐱0,z0+c)](𝐱𝐱0)

.

Substituindo esta fórmula em (6) junto com uma fórmula similar ao segundo termo temos:

.

.f(𝐱,z0+c)=[Dxf(θ𝐱+(1θ)𝐱0,z0+c)](𝐱𝐱0)+[fz(𝐱0,ϕ(z0+c)+(1ϕ)z0)]((z0+c)z0)

ou

.

f(𝐱,z0+c)=

[fx(θ𝐱+(1θ)𝐱0,z0+c)](xx0)+[fy(θ𝐱+(1θ)𝐱0,z0+c)](yy0)+[fz(𝐱0+ϕz+(1ϕ)z0)]((z0+c)z0) (7)

Agora se definirmos δ=min{a,b,Mc2P} e ||𝐱𝐱0||<δ temos que o primeiro termo e o segundo termo do lado direito de (7) é em valor absoluto menor que PMc2P=Mc2 e o segundo termo do lado esquerdo de (7) é maior ou igual a Mc>0, portanto f(𝐱,z0+c)é positivo. Repetindo o mesmo procedimento de (6) e (7) para f(𝐱,z0c) chegaremos a conclusão que f(𝐱,z0c) é negativo. Agora usando o Teorema do Valor Intermediário chegamos a conclusão que existe z entre z0c e z0+c tal que f(x,y,z)=0. E este ponto z é único pois para cada 𝐱=(x,y) fixado f é crescente pois fz>0 em I×J¯, e isto mostra que depois que f passa do zero ela continua crescendo(ela não retorna ao zero). Logo para cada 𝐱 tal que ||𝐱𝐱0||<δ existe um único z tal que f(𝐱,z)=f(x,y,z)=0 e esta relação de um para um, para cada 𝐱=(x,y)existe um único z, define uma função z=g(x,y)=g(𝐱). Assim a primeira parte deste segundo teorema está demonstrado.

Notas

Referências

  • Marsden, Jerrold E. / Tromba, Anthony J., Vector Calculus 4° edição. - W.H.Freeman and Company, 1996. (226; 233 p.).
  • Lima, Elon Lages , Curso de Análise vol.2, - Projeto Euclides, IMPA, 1989, (159; 163 p.)
  • Spivak, Michael, Calculus, Third Edition, McGraw-Hill, Inc.
  • Rudin, Walter, Principles of Mathematical Analysis , Third Edition