Limites iterados

Fonte: testwiki
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa

Em cálculo com múltiplas variáveis, os limites iterados são apresentados como expressões do tipo limxa(limybf(x,y)).

Temos, assim, uma expressão cujo valor depende de, ao menos, duas variáveis. Tomando o limite em relação a uma dessas variáveis, ou seja, tomando g(x):=limybf(x,y), nos aproximamos de uma expressão cujo valor depende apenas da outra e, então, tomando o limite em relação a essa outra variável, limxag(x), nos aproximamos de um número, que representa um dos limites iterados para essas variáveis. O outro limite iterado é dado por limyb(limxaf(x,y)).

Essa definição difere da expressão lim(x,y)(a,b)f(x,y), que não é um limite iterado, mas sim um Limite Duplo. Nesse caso, o significado da expressão é que o limite da função de mais de uma variável f(x,y) se aproxima tanto de um determinado número L tanto quanto aproximamos (x,y) do ponto (a,b). Ou seja, não envolve tomar um limite e, então, o outro, mas sim analisar o comportamento da função em torno do ponto desejado por vários caminhos.

Deve-se considerar que, em geral, os três limites acima (os dois iterados e o duplo) não levam a resultados comuns, ou seja, em geral

limxa(limybf(x,y))limyb(limxaf(x,y))lim(x,y)(a,b)f(x,y).

Exemplos e condições nos quais as trocas de ordem dos operadores de limite são aceitas serão analisados nas seções seguintes.

Definição formal

Suponha A,BM, onde M é um espaço métrico completo e, ainda aA e bB, onde A e B são os conjuntos de pontos de acumulação de A e B, respectivamente. Sejam, então, g(x):=limybf(x,y) e h(y):=limxaf(x,y), chamamos de limites iterados as expressões limxag(x)=limxa(limybf(x,y)) e limybh(y)=limyb(limxaf(x,y)). Chamamos, ainda, de limite duplo a expressão lim(x,y)(a,b)f(x,y).

Exemplos

Acima atentamos para o fato de que os limites iterados e duplo nem sempre tem resultados iguais. Aliás, pode-se adicionar o fato de que os limites iterados nem sempre existem. Abaixo seguem alguns exemplos de funções e o cálculo dos limites iterados relacionados a essas funções.

Sejam as funções abaixo definidas de forma que, f,g,h:A×B=(0,+)×(0,+),

(1) f(x,y)=xy+x2+y2x+y

Temos limx0f(x,y)=y1 e limy0f(x,y)=x+1, de onde segue

limy0(limx0f(x,y))=1 e limx0(limy0f(x,y))=1, ou seja

limy0(limx0f(x,y))limx0(limy0f(x,y)).

.

(2) g(x,y)=xsin1x+yx+y

limx0f(x,y)=1, de onde limy0%(limx0g(x,y))=1.

Mas, limy0g(x,y)=sin1x e, portanto, limx0(limy0g(x,y)).

.

(3) h(x,y)=xsin1y, 0|xsin1y||x|

Temos lim(x,y)(0,0)h(x,y)=limy0(limx0h(x,y))=0, mas limx0(limy0y(x,y)).

Deve-se atentar ao fato de que os limites iterados nem sempre são iguais e, mesmo que sejam, isso não é condição suficiente para garantir que o limite duplo também o seja. Tomemos o seguinte exemplo,

(4) f(x,y)=xyx2+y2,[1]

Oras, limy0xyx2+y2=limx0xyx2+y2=0, logo limx0(limy0xyx2+y2)=limy0(limx0xyx2+y2)=0

Mas o limite duplo em torno do caminho y=x é dado por,

lim((x,y)(0,0):y=x)xyx2+y2=limx0x2x2+x2=12.

Troca da ordem dos operadores de limite

Já vimos que a operação de limites não é comutativa. Existem, contato, algumas condições que permitem a troca de operadores de limites.[2]

Proposição

Seja f:A×BM uma função de um subconjunto A×BM1×M2 em M e (a,b)A×B, onde M1,M2,M são espaços métricos. Se

(i) lim(a,b)f(x,y)=α

(ii) para cada yB,limxaf(x,y)=g(y)

então limybg(y)=α.

Predefinição:Collapse top Como lim(a,b)f(x,y)=α, então, da definição,

ε>0,δ>0,(x,y)A×B, (x,y)Bδ(a)×Bδ(b){(a,b)}d(f(x,y),α)=|f(x,y)α|<ε2.

Usando o fato de que limxaf(x,y)=g(y) e a continuidade da função norma, então limxad(f(x,y),α)=d(g(y),α)ε2.

Segue que ε>0,δ>0,yB,yBδ(b){b}d(g(y),α)<ε, de modo que limybg(y)=α. Predefinição:Collapse bottom

Teorema do intercâmbio de limites

Seja f:A×BM uma função em um espaço métrico completo, onde A e B são subconjuntos dos espaços métricos M1 e M2, respectivamente, e seja aAA,bBB. Se

(i) limxaf(x,y)=g(y),yB

(ii) limybf(x,y)=h(x) existe uniformemente em xA

então os três limites limxalimybf(x,y), limyblimxaf(x,y),lim(a,b)f(x,y) existem e são iguais. Predefinição:Collapse top Seja ε>0 arbitrário.

De (ii) temos, pela definição

(1) δ>0,yB:0<d2(y,b)<δxA:d(f(x,y),h(x))<ε6.

Seja yBδ(b){b}, usando (i), segue

(2) δ>0,xA:0<d1(x,a)<δd(f(x,y),g(y))<ε6.

Seja a vizinhança do ponto (a,b) dada na forma

V=Bδ(a)×Bδ(b) e sejam os pontos (x1,y1),(x2,y2)V{(a,b)}.

Da desigualdade triangular segue

d(f(x1,y1),f(x2,y2))d(f(x1,y1),h(x1))+d(h(x1),f(x1,y))+d(f(x1,y),g(y))+d(g(y),f(x2,y))+d(f(x2,y),h(x2))+d(h(x2),f(x2,y2))

Por (1) e (2), cada termo do lado direito da desigualdade são menores que ε6.

Decorre disso que

(x1,y1)A×B,(x2,y2)A×B: (x1,y1),(x2,y2)V{(a,b)}d(f(x1,y1),f(x2,y2))<ε. Assim, a função satisfaz o critério de Cauchy no ponto (a,b) e, como M é um espaço métrico completo, existe lim(a,b)f(x,y)=α.

Da proposição anterior, junto com (i), segue limybg(y)=α=limyb(limxaf(x,y)) e, com (ii) que limxah(x)=α=limxa(limybf(x,y)) . O que conclui a demonstração. Predefinição:Collapse bottom

Predefinição:Referências