Sequência de números reais

Fonte: testwiki
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa

Em análise matemática, uma sequência de números reais é uma função real cujo domínio é o conjunto dos números naturais. O estudo destas sequências traz resultados importantes na análise matemática de funções reais. Livros de análise matemática de função reais de uma variável real, usualmente, tratam sobre sequências. [1][2] Ao decorrer deste artigo iremos nos referir a estas sequências somente usando o termo sequência.

Definição

Uma sequência de números reais é uma função real x: definida no conjunto dos números naturais . Notações usuais são: (xn)n , (xn)n, (xn) ou, ainda, por extenso (x1,x2,x3,,xn,). Ao escrever xn estamos denotando apenas o termo da sequência de índice n, chamado de n-ésimo termo da sequência (xn)n.

Exemplos

a) (1n)n=(1,12,13,,1n,)

b) (2n4)n=(2,0,2,,2n4,)

c) (1,1,1,,(1)n,)

Subsequência

Diretamente relacionado a sequência temos o conceito de subsequência. Uma subsequência de (xn)n é sua restrição a um subconjunto infinito . Denotamos tal subsequência por (xnm)nm ou, simplesmente, (xnm) no caso do conjunto estar subentendido. Note que toda subsequência (xnm)nm de uma sequência (xn)n é uma sequência, já que está definida para m, isto é, para cada m, temos um nm.

Exemplo

(1m)m=(12,14,16,,12n,) onde, aqui, denota o conjunto dos números naturais pares, é uma subsequência da sequência (1n)n.

Classificação

Dizemos que uma sequência de números reais (xn) é limitada quando existe um intervalo [a,b] tal que xn[a,b] para todo n. Caso contrário, ela é dita ser ilimitada. Além disso, dizemos que uma sequência (xn) é limitada superiormente quando existe um número b tal que xnb para todo n. Analogamente, dizemos que uma sequência (xn) é limitada inferiormente quando existe a tal que xnan. Equivalentemente, dizemos que uma sequência de números reais é limitada se, ela for limitada superiormente e inferiormente. Isto é, quando existe um número k>0tal que |xn|k,n.

Exemplos

(a) (1n)n é uma sequência limitada, pois 1n[0,1]n.

(b) (2n4)n é uma sequência ilimitada, mas limitada inferiormente. Com efeito, 2n4[2,+)n.


Sequências de números reais também são classificadas conforme o comportamento de seus termos. Uma sequência (xn)n é dita ser (monotonamente) não decrescente quando xnxn+1n. Ela é dita ser (monotonamente) crescente quando xn<xn+1n. Analogamente, dizemos que (xn)n é uma sequência (monotonamente) não crescente quando xnxn+1n. E, dizemos que ela é (monotonamente) decrescente quando xn>xn+1n. Em qualquer um destes casos, dizemos que a sequência é monótona.

Exemplos

(a) (1n)né uma sequência limitada e decrescente.

(b) (2n4)n é uma sequência ilimitada e crescente.

(c) (1,1,1,,(1)n,) é uma sequência limitada não monótona.


Uma sequência também é classificada conforme a convergência de seus termos. Definimos a convergência de uma sequência ao tratar da definição de limite de uma sequência.

Limite de uma sequência

A noção de limite se refere à tendencia dos termos de um sequência dada quando tomamos índices grandes. Por exemplo, ao tomarmos índices grandes, vemos que os termos da sequência (1/n)n são números muito próximos de zero. Isto nos dá a noção de que esta sequência de números tende para o número zero quando fazemos n tender para o infinito. Livros de Cálculo[3][4] costumam explorar a noção de limite de sequências de forma intuitiva. Aqui, apresentamos um abordagem mais formal, típica de textos de análise matemática.

Definição de limite de uma sequência

Diz-se que L é o limite da sequência de números reais (xn)n quando para todo número real ϵ>0, existe N tal que se para todo índice n>N, tem-se Lϵ<xn<L+ϵ.

Convergência

Quando existe um número L que é limite de uma sequência (xn)n, dizemos que esta é uma sequência convergente. Neste caso, escrevemos L=limnxn

que lê-se L é o limite da sequência xn quando n tende ao infinito. Escreve-se também, xnL quando n que lê-se xn tende a L quando n tende ao infinito. Ainda, é comum dizer simplesmente que o limite da sequência xn é L, tomando-se por entendido que n. Neste contexto, escreve-se limxn=L.

Caso não exista um tal L com a propriedade mencionada acima, dizemos que a sequência é divergente. Isto é, (xn)n é uma sequência divergente quando, para todo L, existe um número real ϵ>0 tal que para todo N existe um índice n>N tal que xnLϵ ou xnL+ϵ.

Exemplo

(a) (1n)n é uma sequência convergente. Com efeito, tomando L=0, vemos que para cada ϵ>0 podemos escolher um N tal que ϵ>1N. Logo, para todo índice n>N tem-se ϵ<1n<ϵ.

(b) (1,1,1,,(1)n,) é uma sequência divergente. Com efeito, seja L1 e 0<ϵ<|L1|. Daí, temos que para todo N temos, por exemplo, que todo índice ímpar n>N implica xnLϵ ou xnL+ϵ. O raciocínio é análogo caso tentarmos L1. Se, tomarmos L=1 e ϵ=1, então para todo N temos que os índices pares n>N são tais que xnLϵ. Análogo para L=1. Assim, temos demonstrado que a sequência dada diverge.

Observação

Toda sequência convergente é limitada. De fato, Se limnxn=L, então dado qualquer ϵ>0 existe Ntal que n>NLϵ<xn<L+ϵ. Isto significa que partir de um certo índice n=N+1, a sequência é limitada inferiormente por Lϵe limitada superiormente por L+ϵ.

Agora, considerando M=max{|a1|,|a2|,...,|aN|,|Lϵ|,|L+ϵ|}, temos que |an|M, n.

Deve-se ter cuidado, pois nem toda sequência limitada é também convergente. Por exemplo, a sequência (1,1,1,,(1)n,)é limitada, mas como visto no exemplo anterior, ela não é convergente.

Propriedades do limite

Limites de sequências têm uma série de propriedades. Aqui, enunciamos algumas das mais importantes (veja, por exemplo, os livros de análise matemática indicados nas referências deste artigo).

Unicidade

Se uma sequência tem um limite, ele é único. Predefinição:Collapse top A prova deste enunciado pode ser feita por contradição. Com efeito, seja (xn)n uma sequência de números reais. Suponhamos que L1,L2 sejam limites de (xn)n, com L1L2. Tomemos l=|L1L2| e ϵ=l2>0. Como L1 é limite de (xn)n, existe N1 tal que xn(L1ϵ,L1+ϵ), para todo n>N1. Analogamente, como L2 é limite de (xn)n, existe N2 tal que xn(L2ϵ,L2+ϵ), para todo n>N2. Logo, tomando N=max{N1,N2} temos que xn(L1ϵ,L1+ϵ)(L2ϵ,L2+ϵ) para todo n>N. Mas, isso é um absurdo, pois (L1ϵ,L1+ϵ)(L2ϵ,L2+ϵ)=. Logo, L1=L2. Predefinição:Collapse bottom


Observamos que se L é o limite de uma sequência dada (xn), então toda subsequência (xnm) também converge para L. De fato, como xnLsabe-se que dado ϵ>0, Ntal que n>N |anL|<ϵ. Basta tomar nm0>N. Então sendo nm>nm0nm>N|xnmL|<ϵ.

Exemplo

(1n) converge para zero, assim como a subsequência (12,14,16,,12m,) formada apenas pelos índices pares da sequência (1n).

Convergência de sequências monótonas

Toda sequência limitada e monótona é convergente:

Considere (xn) uma sequência não crescente. Como (xn)é limitada, então ela é limitada superiormente por x1e existe um limite inferior para os termos xn. Seja I=inf{xn:n}, mostraremos que limxn=I. Dado ϵ>0, note que I+ϵ não é o ínfimo do xn. Daí, temos que existe Ntal que IxN<I+ϵ. Assim, para todo nN temos que Iϵ<IxnxN<I+ϵ, pois (xn)é não crescente e, as desigualdades anteriores provam o resultado.

Propriedades Aritméticas

Se limxn=0 e (yn)n é uma sequência limitada, então limxnyn=0. Predefinição:Collapse top Seja C tal que |yn|<C para todo n. Seja, também, ε>0. Como limxn=0, existe N tal que n>N|xn|<εC. Então: n>N|xnyn||xn||yn|<ε. Predefinição:Collapse bottom

Sejam (xn)n e (yn)n sequências de números reais convergentes, então:

  1. lim(xn+yn)=limxn+limyn
  2. lim(xnyn)=limxnlimyn
  3. lim(xnyn)=limxnlimyn se limyn0

Predefinição:Collapse top Sejam L1=limxn e L2=limyn.

  1. Seja ϵ>0. Existem n1,n2 tais que n>n1|xnL1|<ϵ2 e n>n2|ynL2|<ϵ2. Tomando n0=max{n1,n2}, temos que n>n0|(xn+yn)(L1+L2)||xnL1|+|ynL2|<ϵ.
  2. Basta notar que xnynL1L2=xn(ynL2)+(xnL1)yn, sendo que estes dois termos são sequências convergentes (veja resultado anterior). Segue de 1. que lim(xnynL1L2)=limxn(ynL2)+lim(xnL1)yn=0.
  3. Como L20, vemos que (1ynL2)né limitada. Notemos, também, que xnynL1L2=(L2xnL1yn)1ynL2 e, por 2., sabemos que (L2xnL1yn)0. Utilizando o resultado anterior, novamente, temos xnynL1L20.

Predefinição:Collapse bottom

Teorema de Bolzano-Weierstrass

Toda sequência (xn)limitada possui uma subsequência (xnm)convergente.

Considere (xn)uma sequência limitada de números reais. Se o conjunto X={xn;n}dos termos da sequência for finito, existe pelo menos um termo x0que se repete indefinidamente. Isto é, podemos tomar x0=xn1=xn2=xn3= ... de modo que n1<n2<n3< ...e limxnj=x0.

Suponha então que Xnão é finito. Como (xn)é limitada, podemos supor que X[a,b], com a<b. Divida [a,b]em dois intervalos de comprimento ba2. Em, pelo menos, um destes subintervalos existem infinitos termos xn.

Seja I1o intervalo com esta propriedade. Divida I1em dois subintervalos de comprimento ba22. Como antes, considere I2o intervalo que contém infinitos termos xn.

Continuando com este procedimento, teremos uma sequência de intervalos (In)ntais que:

1) I1I2I3 ... In.

2) O comprimento de cada Iné ba2n.

Usando o teorema dos intervalos encaixados (consultar referência[1] para prova), existe xn=1In. Tome xn1I1, xn2I2, ..., xnkIkde modo que n1<n2<n3< ... <nk< .... Isso pode ser feito pois existem infinitos termos xnem cada In.

Dado ϵ>0, considere k0tal que ba2k0<ϵ. Daí, kk0ba2kba2k0 IkIk0xnkIk0.

Como o comprimento de Ik0é ba2k0<ϵ e xIk0, temos que Ik0(xϵ, x+ϵ).

Portanto, considerando nk>k, temos nk>kk0xnk(xϵ, x+ϵ). Ou seja, limxnk=x.Como queríamos demonstrar.

Sequências de Cauchy

Uma sequência (xn)é dita de Cauchy quando, dado um ϵ>0, existir um Ntal que para todo m,ncom m>Ne n>N, implicar que |xmxn|<ϵ.

Toda sequência convergente é de Cauchy.

Como (xn)é uma sequência convergente, existe Ltal que limxn=L. isto é, dado ϵ=ϵ2>0, existe Ntal que para m,n,m>N|xmL|<ϵ2 e n>N|xnL|<ϵ2.

Daí, m,n>N|xmxn||xmL|+|xnL|<ϵ2+ϵ2=ϵ, ou seja, (xn)é uma sequência de Cauchy.

Toda Sequência de Cauchy é convergente

Para mostrar este segundo resultado das sequências de Cauchy, é necessário apresentar dois lemas:

1) Toda sequência de Cauchy (xn) é limitada.

Como (xn)é de Cauchy, tome um ϵ>0fixo. Daí existirá Ntal que m,nN|xmxn|<ϵ. Em particular, se considerarmos nN, teremos que |xNxn|<ϵ, isto é, nNxn(xNϵ,xN+ϵ). Seja M=max{|x1|,|x2|,...,|xNϵ|,|xN+ϵ|}. Então, |xn|M, n, ou seja, (xn)é limitada.

2) Se uma sequência de Cauchy (xn)possui uma subsequência(xnk)tal que xnmL, então xnL, L.

Sendo (xn)de Cauchy, dado ϵ2>0, existe Ntal que m,n>N|xmxn|<ϵ2. Como limxnk=L, existe nk0tal que nknk0|xnkL|<ϵ2. Seja N1=max{N,Nk0}, tomando nk1N1, temos:

nN1|xnL||xnxnk1|+|xnk1L|<ϵ2+ϵ2=ϵlimxn=L.

Agora provaremos que toda sequência de Cauchy converge.

Seja (xn)uma sequência de Cauchy. Pelo lema 1) ela é limitada e, pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, ela possui uma subsequência (xnk)convergente. Portanto, segue do lema 2) que (xn)converge.

Ver também

Predefinição:Referências