Teorema de Dirichlet sobre progressões aritméticas

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Johann Peter Gustav Lejeune Dirichlet.

O teorema de Dirichlet sobre progressões aritméticas é um resultado da teoria analítica dos números demonstrado pelo matemático Johann Dirichlet.

Este teorema sobre a distribuição dos números primos em , foi conjecturado por Gauss e finalmente demonstrado em 1837 por Dirichlet, nome pelo qual é atualmente conhecido.

O primeiro teorema de convergência de séries de Fourier, devido a Dirichlet, apareceu em 1829 e se refere à funções monótonas em trechos. Por ele começamos primeiro com uns comentários sobre estas funções. Uma função monótona e cotada em um intervalo [a, b] é integrável e tem limites laterais finitos em cada ponto. Se estes limites não coincidem a função terá uma descontinuidade com um salto finito. A soma dos saltos não pode ser maior que a diferença dos valores da função nos extremos do intervalo, de modo que o conjunto de descontinuidades com salto maior que 1/n é finito e, portanto, o conjunto de descontinuidades é no máximo numerável. As mesmas propriedades serão certas para uma função monótona em trechos, ou seja, aquela que é monótona em uma quantidade finita de intervalos que unidos dão o intervalo original.

Enunciado

Seja a1,b/mdc(a1,b)=1 então a progressão aritmética an=a1+b(n1) contém infinitos números primos. (conforme Dirichlet)

Demonstração

A demonstração do teorema utiliza as propriedades de certas funções multiplicativas (conhecidas como funções L de Dirichlet) e vários resultados sobre aritmética de números complexos e é suficientemente complexa para que alguns textos clássicos de teoria dos números decidam excluí-la de seu repertório de demonstrações. Para evitar fazer uma leitura demasiado densa, neste artigo se excluiu da demostração alguns corolários intermediários que aparecem marcados como [AD]. A demostração completa, junto com os corolários excluídos aqui, podem ser encontrados no artigo de González de la Hoz.[1]

Seja G um grupo comutativo finito de ordem h e elemento unitário e.

Um caráter sobre G é uma função χ/χ0,χ(uv)=χ(u)χ(v)u,vG Um caráter sobre G tem uma série de propriedades importantes para nossa demonstração:

  1. Dado que tanto a inversa de um caráter sobre G como o produto dos caráteres sobre G é também um caráter sobre G, o conjunto de caráteres sobre G forma um grupo comutativo com a multiplicação.
    Isto permite definir o caráter principal do grupo G que se define como a função χ0/χ0(u)=1uG. O caráter principal é portanto o elemento unidade do grupo definido pelo conjunto de caráteres sobre G.
  2. Como χ(e)=1 e dado que a ordem de um elemento divide a ordem do grupo, então uG(χ(u))h=χ(uh)=χ(e)=1, o que implica que χ(u)=1.
    Dado que o número de raizes do elemento unitário de ordem h é como máximo h, o número de carateres c é finito, sendo o valor hh uma cota superior de c.
    Por outra parte uG,ue existe um caráter χ/χ(u)1 ([AD]). Por ele, e se representa mediante Gaχ a soma do valor aχ associado a cada um dos diferentes caráteres do grupo G, se tem estas propriedades adicionais ([AD]):
  3. uG se tem que:  Gχ(u)={csiu=e0siue onde c=G1
  4. uG se tem que:  uGχ(u)={hsiχ=χ00siχχ0 onde h é a ordem de G sendo c=h
  5. u,vG determina que:  1hχχ(u)χ(v)={1siu=v0siuv
  6. χ1,χ2G determina que:  1huGχ1(u)χ2(u)={1siχ1=χ20siχ1χ2
    Dado um q, se definem os carateres χ do grupo G=Zq* definido como as classes de congruência módulo q de números coprimos com q.
    O grupo G tem ϕ(q) elementos, e o podemos representar por G={a1,a2,a3,...,aϕ(q)} onde os diferentes ai são os representantes da classe de congruência que obedecem a condição 0<aj<q, e neste contexto se definem as funções estendidas dos caracteres χ de G da seguinte maneira:
    χ(n)={χ(ai)sinai(modq)0simcd(n,q)>1
    Estas funções se denominam caracteres de Dirichlet módulo q e são completamente multiplicativas. Existem ϕ(q) funções deste tipo e uma delas: χ0(n)={1sinai(modq)0simcd(n,q)>1 se denomina caráter principal de Dirichlet.
    Estes carateres tem algumas propriedades significativas (derivadas das propriedades dos carateres de um grupo que vimos antes):
  7. n(modq)χ(n)={ϕ(q)siχ=χ00siχχ0
  8. n(modq)χ(u)={ϕ(q)siu1(modq)0siu≢1(modq)
  9. a/mcd(a,q)=1 se tem que:  n(modq)χ(u)χ(a)={ϕ(q)siu=a0siua

Neste ponto se deve introduzir o seguinte definição:

Uma função-L de Dirichlet é uma função da forma

L(s,χ)=n=1χ(n)ns onde s e χ é um caráter de Dirichlet.

Os valores de χ são periódicos, o que implica que a série L(s,χ) converge absolutamente para (s)>1 e uniformemente para (s)>1+ε,ε>0. Além disso, como os coeficientes são completamente multiplicativos, a série admite a seguinte expressão: L(s,χ)=p(1χ(p)ps)1 Quando (s)>1 A função-L de Dirichlet tem as seguintes propriedades ([AD]):

  1. L(s,χ)0
  2. L(s,χ0)=ζ(s)pq(11ps)
  3. L(s,χ)L(s,χ)=n=1χ(n)Λ(n)ns
  4. ln(L(s,χ))=pm=11m(χ(p))mpms

Da igualdade L(s,χ0)=ζ(s)pq(11ps) e as propriedades da função ζ se deduz que a função L(s,χ0) é analítica no semiplano complexo (s)>0 a exceção de um polo em s=1, cujo resíduo é pq(11p)=ϕ(q)q. Como consequência disto, podemos afirmar que L(s,χ0)=f(s)+ϕ(q)/qs1, onde f é analítica e não tem singularidades em (s)>0, de modo que a função expressa por L(s,χ)L(s,χ)=f(s)ϕ(q)/q(s1)2f(s)+ϕ(q)/qs1=(s1)2f(s)ϕ(q)/q(s1)f(s)ϕ(q)/q1s1 tem também um polo em s=1 com resíduo 1. Por outra parte, toda função-L de Dirichlet L(s,χ) com χχ0 é analítica e não apresenta singularidades na zona (s)>0 ([AD]). E para k>0 se tem ([AD]) que p=a(modq)ln(p)pk=n=a(modq)Λ(n)nkO(1) o qual também se pode expressar como:

p=a(modq)ln(p)pk=1ϕ(q)L(k,χ0)L(k,χ0)1ϕ(q)χ(a)χ(modq)χχ0L(k,χ)L(k,χ)O(1)

Esta expressão é chave para a demonstração do teorema de Dirichlet, pois podemos concluir que o teorema é correto se o primeiro termo do segundo membro diverge quando os restantes termos permanecem dentro de uns limites. Como se obedece que L(1,χ)0 quando χχ0 a seguinte expressão:

limk1+1ϕ(q)χ(a)χ(modq)χχ0L(k,χ)L(k,χ)=1ϕ(q)χ(1)χ(modq)χχ0L(1,χ)L(1,χ)=O(2)

obtem um valor finito e, como vimos, dado que 1χ0(a)L(k,χ0)L(k,χ0)=L(k,χ0)L(k,χ0) tem um polo em s=1 com resíduo 1 resulta que limk1+L(k,χ0)L(k,χ0)= o que implica que:

p=a(modq)ln(p)p=limk1+p=a(modq)ln(p)pk=1ϕ(q)(limk1+L(k,χ0)L(k,χ0)+O(2))+O(1)=

o que prova o teorema.

Ver também

Referências

  1. Gonzalez de la Hoz, F.A., Demostración del teorema de Dirichlet, web de la UNED. Predefinição:Es