Convergência uniforme

Fonte: testwiki
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa

Em matemática, em particular na análise funcional, a convergência uniforme é um conceito mais forte que a convergência pontual, para definir se o limite de uma sequência de funções existe.

Definição

Como comparação, uma sequência de funções fn(x):S converge pontualmente para uma função f:S se, e somente se:

ε>0 e xS  N tal que n>N temos que |fn(x)f(x)|<ε.

A sequência converge uniformemente quando:

ε>0 N tal que xS e n>N temos que |fn(x)f(x)|<ε

Essa diferença é importante: para provar a convergência pontual, basta escolher um N para cada ε e cada x. Para provar a convergência uniforme, é preciso escolher, para cada ε um N que se aplica a todo x.

É fácil ver que a convergência uniforme é equivalente à convergência na norma do supremo. Mais precisamente, consideremos o conjunto das funções ϕ:S que são limitadas, que designaremos por (𝒮,). Munido das operações de soma de funções e de produto de um escalar real por uma função, este conjunto torna-se num espaço vetorial real (que é, aliás, subespaço do espaço vetorial das funções reais (S,)). Através da relação ϕ=sup{|ϕ(x)|:xS} definimos uma aplicação ϕϕ de (𝒮,) em que constitui uma norma em (𝒮,) e que é chamada norma do supremo. É conhecido que para esta norma, (𝒮,) é um espaço de Banach[1][2] (p.170).

De notar que se fn é uma sucessão de funções em (𝒮,) que converge uniformemente para f, então também f(𝒮,). Basta ter em conta que para cada xS e cada k, |f(x)||f(x)fk(x)|+|fk(x)|. Fixando k arbitrariamente, resulta então, para qualquer xS que |f(x)|ffk+fk. Logo f é limitada em S.

Continuidade

Tomemos agora S, não como um simples conjunto mas como um espaço topológico qualquer.

  • Seja fn:S uma sucessão de funções contínuas em cS que converge uniformemente para f em S. Então f é contínua em c[2] (p 132).
  • A convergência uniforme preserva a continuidade, ou seja, o limite uniforme de uma seqüência de funções contínuas é uma função contínua.

Se S for um espaço métrico compacto, como por exemplo um intervalo limitado e fechado [a,b], uma relação mais específica entre continuidade e convergência uniforme foi estabelecida por Ulisse Dini no teorema seguinte o qual é apresentado com maior detalhe por E. L. Lima em[2] (p.211).

Teorema (de Dini)

Se fn:S uma sucessão de funções contínuas em S que em cada ponto de xS cresce (ou decresce) para f(x) e f é também contínua em S, então fn converge unformemente para f em S.

Para o caso de ser S=[a,b], uma demonstração diferente é apresentada D. G. Figueiredo[3].

Diferenciabilidade

Seja S=I um intervalo da reta real.

  • Pode acontecer de uma seqüência de funções suaves convergir uniformemente mas a seqüência das derivadas não convergir em nenhum ponto, eis um exemplo:
fn(x)=sinnxn

cujas derivadas são:

fn(x)=ncosnx

Que fn(x) converge uniformemente para zero é fácil ver pois |fn(x)|<1n. Podemos provar que não existe um x tal que fn(x) é limitado. Para tal, suponha que exista tal x, como n, cos(nx)0 e portanto existe um N>0 com a propriedade:

n>N|cos(nx)|<12, mas então:
|cos(2nx)|=|2cos2nx1|=12cos2nx>12, o que contradiz a convergência.
  • Pode acontecer de fn(x) convergir uniformemente e fn(x) pontualmente mas o limites das derivadas ser diferente da derivado do limite. Exemplo:
fn(x)=x1+n2x2,x[1,1]

Como |fn(x)|12n, fn converge uniformemente para zero. A derivado do limite é, portanto, zero. Mas o limites das derivadas é:

limnfn(x)=limn1n2x2(1+n2x2)2={1,x=00,x0
  • Para preservar a diferenciabilidade, precisamos de mais hipóteses sobre a convergência das derivadas, tal como convergência uniforme. Veja espaço de Hölder.

Convergência uniforme e integrais

Coloquemo-nos agora perante a norma do supremo em ([𝒶,𝒷],)e atentemos previamente nos três exemplos seguintes.

Exemplo 1

Designemos por q1,q2,...,qn,..., a sucessões dos racionais no intervalo [0,1] e consideremos a sucessão de funções neste intervalo definida através de:

fn(x)={1,se x{q1,...,qn}0,se x[0,1]{q1,...,qn}.

Trata-se de uma sucessão de funções limitadas, cada uma apenas com um número finito de descontinuidades, logo integráveis à Riemann. Para cada x[0,1], a correspondente função limite f(x)=limnfn(x) é a função de Dirichlet

f(x)={1,se x0,se x[0,1],

a qual como é conhecido não é integrável à Riemann.

Por outro lado, fnf=sup{|fn(x)f(x)|:x[a,b]}=1, qualquer que seja n. Logo a convergência não é uniforme, mas apenas pontual.

Exemplo 2

Seja

fn(x)={1+x+...+xn,se x[0,1[,0,se x=1.

Trata-se de uma sucessão de funções limitadas em [0,1] (0fn(x)n, para cada x[0,1]) com apenas uma descontinuidade em x=1, consequentemente integráveis. Contudo, a função limite é dada por

fn(x)={1/(1x),se x[0,1[,0,se x=1,

a qual nem sequer é limitada, não podendo portanto haver convergência uniforme.

Exemplo 3

Mas para fn(x)=x/n, com x em [0,1], temos uma sucessão de funções contínuas, em que a função limite é a função identicamente nula, obviamente integrável, sendo

limn01xndx=limn12n=0.

Observe-se que neste caso a convergência é uniforme pois

fnf=sup{xn:x[0,1]}=1n0.

Isto é, apenas neste último exemplo, a função limite é integrável e tem-se a validade da seguinte fórmula

ab(limnfn)(x)dx=limnabfn(x)dx.

Precisamente, o que sucede neste exemplo e não sucede nos outros, é que há convergência uniforme da sucessão de funções fn para a função limite f. Na verdade, é válido o teorema seguinte.

Teorema 1 (da Convergência Uniforme)

Seja fn(x) uma sucessão de funções integráveis em [a,b], convergindo uniformemente para f(x). Isto é, fn é uma sucessão em ([𝒶,𝒷],) tal que fnf0. Então f é integrável em [a,b] e:

abfn(x)dxabf(x)dx.

Este resultado é válido tanto para a integral de Riemann como para a integral de Lebesgue.

No caso do integral de Lebesgue a simples convergência pontual é suficiente para garantir a integrabilidade à Lebesgue.

Para o integral de Rieman temos de mostrar que o conjunto D, das descontinuidades de f, tem medida de Lebesgue nula. Observemos que se Dn for o conjunto das descontinuidades de fn, como a convergência uniforme conserva a continuidade, temos que n=1([a,b]Dn)[a,b]D. Logo Dn=1Dn. Tendo o conjunto da direita, por via da integrabilidade à Riemann de cada função fn, medida de Lebesgue nula, o mesmo sucede a D. Logo f é integrável à Riemann.

Por outro lado, a diferença

|abfn(x)dxabf(x)dx|ab|fn(x)f(x)|dxfnf(ba)

pelo que

limnabfn(x)dx=abf(x)dx.

Este argumento é válido para os dois integrais.

Ver também

Predefinição:Esboço-matemática