Método das transformadas de Laplace para resolver equações diferencais

Fonte: testwiki
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa

Uma equação diferencial ordinária é uma equação que envolve uma função de uma variável e suas derivadas f˙(x), f¨(x), ... f(n)(x). Equações diferenciais são geralmente complementadas com condições iniciais e são assim chamada problemas de valor inicial. A transformada de Laplace fornece uma metodologia para resolver e analisar problemas envolvendo equações diferenciais ordinárias. O método consiste em utilizar a transformada de Laplace para converter a equação diferencial em um problema de menor complexidade, através das propriedades da transformada de Laplace. Tipicamente, uma equação linear de coeficientes constantes é transformada em equação algébrica, na qual deve-se basicamente isolar a incógnita obtida e recuperar a solução da equação original via transformada inversa de Laplace.

Deve-se ter em mente que, para a aplicação da transformada de Laplace em equações diferenciais, é necessário que exista sensibilidade, ou conhecimento, sobre suas diversas propriedades.

Equações diferenciais ordinárias

A transformada de Laplace é é definida como:[1] {f(t)} =deflim  α0+αf(t) est dt Assim definida, a transformada de Laplace tem várias propriedades, em especial, a propriedade da derivada e da integral, essas propriedades podem ser descritas como:[2]

A transformada da equação diferencial será outra equação diferencial para a função Y, de ordem igual ao maior grau dos coeficientes da equação original. Em alguns casos a equação diferencial obtida resulta ser mais fácil de resolver do que a equação original. A transformada de Laplace Y e as suas derivadas deverão ser funções assimptoticamente decrescentes; esta propriedade das transformadas de Laplace impõe condições fronteira para a equação diferencial obtida.

Equações diferenciais ordinárias com coeficientes constantes

  1. Consideremos a equação 3y¨12y˙+12y=4e2xsen (2x).
  2. Transformando os dois lados da equação e usando a propriedade de linearidade, obtém-se 3{y¨}12{y˙}+12{y}=4{e2xsen(2x)}.
  3. Cada um dos termos pode ser calculado usando as propriedades da transformada de Laplace, {y}=Y(s){y˙}=sY(s)y(0){y¨}=s2Y(s)sy(0)y˙(0){e2xsen(2x)}=2(s2)2+4.
  4. A transformada da equação diferencial é 3(s2Yy(0)sy˙(0))12(sYy(0))+12Y=8(s2)2+4.
  5. Esta equação é uma equação algébrica que pode ser facilmente simplificada, conduzindo à função Y: Y(s)=3y(0)s+3y˙(0)3y(0)3s212s+12+8((s2)2+4)(3s212s+12)
  6. A solução da EDO é a transformada inversa da função Y.
  7. Usando a expansão em frações parciais: Y=As2+B(s2)2+2C(s2)2+4+D(s2)(s2)2+4.
  8. Onde A, B, C e D são constantes que podem ser calculadas comparando as duas últimas equações, A=y(0)B=y˙(0)2y(0)+23C=13D=0.
  9. A transformada inversa de cada uma das frações parciais é facilmente identificada, usando as transformadas calculadas em seções anteriores.
  10. Assim, tem-se que y(t)=y(0)e2t2ty(0)e2t+ty˙(0)e2t+2te2t3e2tsen(2t)3.

Equações diferenciais ordinárias com coeficientes variáveis

  1. Temos o seguinte problema do valor inicial: {ty¨+y˙+9ty(t)=0y(0)=5.
  2. Primeiramente aplicamos a transformada de Laplace, {ty(t)}+{y(t)}+{ty(t)}={0}.
  3. Podemos aplicar as fórmulas obtidas a cima, ou ainda, utilizarmos a propriedade da derivada da transformada seguido da transformada da derivada. Assim, após substituirmos as condições de contorno, tem-se que dds(s2Y(s)5s)+(sY(s)5)9ddsY(s)=0.
  4. Agora derivamos e separamos as variáveis, s2Y(s)2sY(s)+sY(s)9Y(s)=0.
  5. Isto é, Y(s)Y(s)=ss2+9.
  6. Integramos ambos os lados e manipulamos a equação de forma a obtermos, Y(s)=𝕜s2+9.
  7. Agora com o auxilio da tabela das transformadas inversas e utilizando o condição de contorno y(0)=5, obtemos a função y(t)=5J0(3t).

Sistema linear de equações diferenciais ordinárias

  1. Para exemplificar, vamos resolver o seguinte problema de valor inicial, {y˙=xx˙=y {y(0)=1x(0)=0.
  2. Aplicamos a Transformada de Laplace em cada uma das equações, sY(s)y(0)=X(s)sX(s)x(0)=Y(s).
  3. Onde usamos a propriedade da derivada e a notaçãoY(s)={y(t)} e X(s)={x(t)}.
  4. Substituímos as condições iniciais para obter o seguinte sistema de equações algébricas X(s)+sY(s)=1sX(s)Y(s)=0  (1)(2).
  5. Multiplicamos a equação (1) por s, sX(s)+s2Y(s)=s, e somamos com a equação (2) para obter (s21)Y(s)=s.
  6. Portanto, Y(s)=ss21.
  7. Resolvemos X(s) usando a equação (2): X(s)=Y(s)s=1s21.
  8. As transformadas inversas de Y(s) e X(s)são y(t)=cosh(t)x(t)=senh(t).

Algumas aplicações

Circuito de duas malhas

Considere o circuito da Figura 1 ao lado, constituído de duas malhas com correntes i1 e i2, respectivamente. Vamos modelar i1 e i2 considerando i1(0)=0 e i2(0)=0.

Usando a Lei de Kirchoff para obter {di1(t)dt+5i1(t)+40i(t)=110       (1)2di2(t)dt+10i2(t)+40i(t)=110   (2).

Com i(t)=i1(t)+i2(t), temos {di1(t)dt+45i1(t)+40i2(t)=110   (1)di2(t)dt+20i2(t)+25i2(t)=55     (2).

Aplicamos a Transformada de Laplace e obtemos{sI1(s)i1(0)+45I1(s)+40I2(s)=110s    (1)sI2(s)i2(0)+20I1(s)+25I2(s)=55s     (2)

ou seja, {(s+45)I1(s)+40I2(s)=110s    (1)20I1(s)+(s+25)I2(s)=55s      (2)

ou, ainda, [(s+45)4020(s+25)][I1(s)I2(s)]=[110s55s].

A solução desse sistema é dada por [I1(s)I2(s)]=1(s+25)(s+45)800[(s+25)4020(s+45)][110s55s].

Portanto, {I1(s)=1s2+70s+325(110s(s+25)2200s)=1(s+5)(s+65)(110+550s)I2(s)=1s2+70s+325(2200s+55s(s+45))=1(s+5)(s+65)(55+275s).

Aqui percebemos que I1(s)=2I2(s) e, assim, vamos calcular apenas I2(s): I2(s)=1(s+5)(s+65)(55s+275s)=55s(s+65).

Logo, i2(t)=5565(1e65t)=1113(1e65t).

Como i1(t)=2i2(t), i1(t)=2213(1e65t).

Oscilador harmônico

Em um sistema massa-mola, a mola elástica, que obedece a Lei de Hooke e tem constante k, possui uma de suas extremidades fixa e a outra presa à um corpo de massa m. Considerando que o corpo está sujeito a uma força de atrito proporcional a velocidade com constante de amortecimento γ, que a segunda Lei de Newton descreve o movimento do corpo e y(t) o deslocamento em função do tempo, teremos que a aceleração é descrita por a=y¨(t) e as forças em função do seguinte somatório k=1ifi=ky(t)γy˙(t)+fe(t), sendo fe(t) uma força externa atuante sob o sistema.

Aplicando essas informações na segunda Lei de Newton fi=ma, teremos my¨(t)=ky(t)γy˙(t)+fe(t).

Ou seja, a equação para o deslocamento em y(t) é dada por my¨(t)+γy˙(t)+ky(t)=fe(t).

Para o modelo ficar completo precisamos de condições iniciais y(0) e y˙(0).

Agora, portanto, iremos usar o método de transformada de Laplace para resolver a equação, aplicando a transformada temos:

m{y¨(t)}+γ{y˙(t)}+k{y(t)}={fe(t)}

Aplicando a propriedade da transformada de Laplace da derivada, teremos m(s2{y(t)}sy(0)y˙(0))+γ (s{y(t)}y(0))+k{y(t)}={fe(t)}.

Sabendo que Fe(s)={fe(t)} e Y(s)={y(t)}e impondo as condições inicias:

Y(s)={fe(t)}+γy(0)+my(0)s+my˙(0)ms2+γs+k.

A solução do problema pode ser representado por y(t)=1{Y(s)}.

O sistema Oscilador Harmônico pode ser classificado em seis casos:[3]

  1. Oscilador Harmônico Forçado: caso em que fe(t)0, ou seja, Fe(s)0.
  2. Oscilador Harmônico Livre: caso em que fe(t)=0, isso implica que Fe(s)=0.
  3. Oscilador Harmônico Subamortecido: caso em que γ24mk<0 e Fe(s)=0. Dessa forma, as soluções são todas do tipo senos ou cossenos multiplicados por exponenciais.
  4. Oscilador Harmônico Superamortecido: caso em que γ24mk>0 e Fe(s)=0. Dessa forma, as soluções são todas do tipo senos ou cossenos hiperbólicos multiplicados por exponenciais, ou seja, são exponenciais puras.
  5. Oscilador Harmônico Criticamente Amortecido: caso em que γ24mk=0e Fe(s)=0. Dessa forma, as soluções são do tipo exponenciais multiplicadas por polinômios.
  6. Oscilador Harmônico Não Amortecido: caso em que γ=0 e Fe(s)=0. Dessa forma, as soluções são do tipo senos e cossenos puros.

Duplo Sistema Massa-Mola

Considere um sistema massa-mola duplo, onde as molas possuem constantes k1e k2e as massas envolvidas são m1e m2. Desconsiderando o amortecimento, temos o seguinte sistema:

{m1x¨1(t)=k1x1(t)+k2[x2(t)x1(t)]+f1(t)m2x¨2(t)=k2[x2(t)x1(t)]+f2(t).

Onde x1x2representam o deslocamento de cada uma das massas e f1e f2são as forças externas aplicadas. Usando a Transformada de Laplace, temos:

{m1(s2X1(s)x˙1(0)sx1(0))=(k1+k2)X1(s)+k2X2(s)+F1m2(s2X2(s)x˙2(0)sx2(0))=k2X2(s)+k2X1(s)+F2(s).

Isto é:

{(m1s2+k1+k2)X1(s)k2X2(s)=F1(s)+m1x˙1(0)+sm1x1(0)k2X1(s)+(m2s2+k2)X2(s)=F2(s)+m2x˙2(0)+sm2x2(0).

A representação matricial do sistema é:

[m1s2+k1+k2k2k2m2s2+k2][X1(s)X2(s)]=[F1(s)+m1x˙1(0)+sm1x1(0)F2(s)+m1x˙2(0)+sm2x2(0)],

e sua solução pode ser escrita como:

[X1(s)X2(s)]=1 P(s)[m2s2+k2k2k2m1s2+k1+k2][F1(s)+m1x˙1(0)+sm1x1(0)F2(s)+m2x˙2(0)+sm2x2(0)](α),

onde P(s)=m1m2s4+(m1k2+m2K1+m2k2)s2+k1k2.

Vamos resolver um caso particular onde m1=m2=1, f1=f2=0, k1=6e k2=4.

Temos o seguinte sistema massa-mola duplo:

{x˙1(t)=6x1(t)+4[x2(t)x1(t)]x˙2(t)=4[x2(t)x1(t)].

Usando a equação (α), temos:

[X1(s)X2(s)]=1 s4+14s2+24[s4+444s2+10][x˙1(0)+sx1(0)x˙2(0)+sx2(0)].

Para completar o sistema, impomos as seguintes condições iniciais: x1(0)=x2(0)=0, x˙1(0)=1ex˙2(0)=1.

[X1(s)X2(s)]=1 s4+14s2+24[s4+444s2+10][11].

Logo,

X(s)=1 s4+14s2+24(s2+44)=s2 s4+14s2+24,

e

X(s)=1 s4+14s2+24(4s210)=s26 s4+14s2+24.

Usamos frações parciais para escrever:

s2 s4+14s2+24=s2 (s2+2)(s2+12)=A (s2+2)+B (s2+12)

=A(s2+12)+B(s2+2) (s2+2)(s2+12)

=(A+B)s2+12A+2B (s2+2)(s2+12),

ou seja, A+B=1e 12A+2B=0

Logo, B=6Ae A6A=1, então A=15e B=6 5.

Deslocamento x(t) do sistema duplo massa mola.

Portanto,

X(s)=15(6 s2+21 s2+2)=6 51212 s2+1221 522 s2+22

e, calculando a transformada inversa, temos:

x(t)=6 512sin(12t)1 512sin(2t)

=3 5sin(23t)2 10sin(2t).

Metabolismo de um medicamento

A utilização da Transformada de Laplace, neste caso, facilita a solução do problema, pois torna o sistema de equações diferenciais em equações algébricas.

A evolução da concentração de um medicamento na corrente sanguínea é dada pelo seguinte modelo:

c˙(t)+1ξc(t)=Λ(t)t>0

Onde c(t) é a concentração do medicamento, Λ(t) é a dosagem e ξ é a taxa em que o organismo metaboliza o medicamento.

Como as dosagens normalmente são ingeridas com uma periodicidade (período T) e são liberadas instantaneamente (δ(ta) ) na corrente sanguínea, pode-se escrever:

sC(s)c(0)+1ξC(s)=Λo(1+eTs+e2Ts+e3Ts+...)n vezessC(s)c(0)+1ξC(s)=Λon=0nenTs

C(s)(s+1ξ)=Λon=0nenTs

C(s)=Λos+1ξn=0nenTs

Fazendo a Transformada de Laplace inversa:

1{C(s)}=Λon=0n1{enTss+1ξ}

c(t)=Λon=0nu(tnT) e1ξ(tnT)

Com Λo=1, ξ=1 e T=1, pode-se construir o gráfico da concentração do medicamento no organismo.

Reação química

Considerando o seguinte mecanismo simplificado de uma reação química:

RST

onde as concentrações de R, S e T são dadas em molL por x(t), y(t) e z(t), e são regidas pelo seguinte sistema de equações diferenciais ordinárias:

{x˙(t)=ζx(t)y˙(t)=ζx(t)σy(t)z˙(t)=σy(t)

e ζ e σ são constantes positivas. As concentrações iniciais são dadas por:

x(0)=1y(0)=z(0)=0

Vamos obter a solução dada pelo sistema de funções acima através da Teoria das Transformadas de Laplace. Usando a propriedade da linearidade e a propriedade da derivada,, obtemos:

sX(s)x(0)=ζX(s)

sY(s)y(0)=ζX(s)σY(s)

sZ(s)z(0)=σY(s)

Da primeira equação temos:

X(s)=x(0)s+ζ

Aplicando a Transformada Inversa de Laplace, obtemos:x(t)=1{X(s)}=x(0) eζt

Da segunda equação temos:

Y(s)=ζ X(s)s+σ=x(0)ζ(s+ζ)(s+σ)

Aplicando a Transformada Inversa de Laplace, obtemos:

y(t)=1{Y(s)}=x(0)ζσζ (eζteσt)

Da terceira equação temos:

Z(s)=σ Y(s)s

Aplicando a Transformada Inversa de Laplace e usando a propriedade da convolução, obtemos:

z(t)=1{Z(s)}=σ1{Y(s)s}z(t)=σ0ty(τ)dτ=σ0tx(0)ζσζ (eζτeστ)dτz(t)=x(0) σ ζσζ (eζ t1ζeσ t1σ)

A figura ao lado, apresenta o gráfico com as soluções para o sistema de equações ordinárias.

Predefinição:Referências

Ver também