Método de Wiener–Hopf

Fonte: testwiki
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O Método de Wiener–Hopf é uma técnica amplamente utilizada em matemática aplicada. Foi desenvolvido inicialmente por Norbert Wiener e Eberhard Hopf como um método para resolver sistemas de equações integrais, porém foi aplicado com sucesso para resolver equações diferenciais parciais bidimensionais com condições de contorno mistas sobre o mesmo contorno. Em geral, o método explora as propriedades de funções complexas mediante transformação. A transformação típica utilizada é a transformada de Fourier, porém outras transformações já foram empregadas, como a transformada de Mellin.

Em geral, o problema de valores sobre o contorno é transformado, e o sistema resultante é usado para definir um par de funções complexas (tipicamente denotado com subscritos '+' e '-'), que são respectivamente analíticas nas metades superior e inferior do plano complexo, com crescimento não mais rápido que polinômios nestas regiões. Estas duas funções coincidem em alguma região do plano complexo, tipicamente uma tira estreita contendo o eixo real. A extensão analítica garante que estas duas funções definem uma função analítica simples em todo o plano complexo, e o Teorema de Liouville implica que esta função é um polinômio incógnito, que é normalmente zero ou constante. A análise das condições nas bordas e vértices possibilita determinar o grau deste polinômio.

Decomposição de Wiener–Hopf

O ponto crucial em muitos problemas de Wiener-Hopf é decompor uma função arbitrária Φ em duas funções Φ± com as propriedades acima delineadas. Em geral, isto pode ser feito escrevendo

Φ+(α)=12πiC1Φ(z)dzzα

e

Φ(α)=12πiC2Φ(z)dzzα,

onde os contornos C1 e C2 são paralelos ao eixo real, mas passam acima e abaixo do ponto z=α, respectivamente.

Similarmente, funções escalares arbitrárias podem ser decompostas em um produto de funções +/-, isto é, K(α)=K+(α)K(α), primeiramente tomando o logarítmo, e então procedendo a decomposição de soma. Decomposição de produtos de funções matriciais (que ocorrem em sistemas multi-modais acoplados tal como em ondas elásticas) são mais problemáticos, pois o logarítmo não é bem definido, e qualquer decomposição pode ser não-comutativa. Uma pequena subclasse de decomposições comutativas foi obtida por Khrapkov, e vários métodos aproximados foram também desenvolvidos.

Exemplo

Consideremos a equação diferencial parcial linear

𝑳xyf(x,y)=0,

onde 𝑳xy é um operador linear que contém derivadas em relação a x e y, sujeita a condições mistas sobre y=0, para uma função prescrita g(x),

f=g(x) para x0,fy=0 quando x>0,

decaindo no infinito, isto é, f0 com 𝒙. Aplicando a transformada de Fourier em relação a x, resulta na seguinte equação diferencial ordinária

𝑳yf^(k,y)P(k,y)f^(k,y)=0,

onde 𝑳y é um operador linear contendo somente derivadas em y, P(k,y) é uma função de y e k conhecida e

f^(k,y)=f(x,y)eikxdx.

Se uma solução particular desta equação diferencial ordinária que satisfaz o decaimento necessário no infinito é denotada por F(k,y), uma solução geral pode ser expressa como

f^(k,y)=C(k)F(k,y),

sendo C(k) uma função incógnita a ser determinada pelas condições de contorno sobre y=0.

O ponto crucial é decompor f^ em duas funções f^+ e f^, analíticas nos semi-planos superior e inferior do plano complexo, respectivamente

f^+(k,y)=0f(x,y)eikxdx,
f^(k,y)=0f(x,y)eikxdx.

As condições de contorno fornecem então

g^(k)+f^+(k,0)=f^(k,0)+f^+(k,0)=f^(k,0)=C(k)F(k,0)

e, com derivadas parciais em relação a y,

f^'(k,0)=f^'(k,0)+f^'+(k,0)=f^(k,0)=C(k)F(k,0).

Eliminando C(k) resulta

g^(k)+f^+(k,0)=f^'(k,0)/K(k),

com

K(k)=F(k,0)F(k,0).

Agora K(k) como o produto das funções K e K+, que são analíticas nos semi-planos superior e inferior, respectivamente, ou seja, K(k)=K+(k)K(k), onde

logK=12πilog(K(z))zkdz,Imk>0,
logK+=12πilog(K(z))zkdz,Imk<0.

Consequentemente,

K+(k)g^+(k)+K+(k)f^+(k,0)=f^'(k,0)/K(k)K+(k)g^(k),

onde foi assumido que g pode ser decomposta na soma de duas funções g+ e g, que são analíticas nos semi-planos superior e inferior, respectivamente. Agora, como o lado esquerdo da equação acima é analítico no semi-plano inferior, enquanto o lado direito é analítico no semi-plano superior, a continuação analítica garante a existência de uma função em todo o plano, que coincide com o lado esquerdo ou com o lado direito em seus respectivos semi-planos. Além disso, como pode ser mostrado que as funções em cada um dos lados da equação acima decaem para grandes valores de k, a aplicação do teorema de Liouville mostra que esta única função é identicamente zero, e portanto,

f^+(k,0)=g^+(k),

e assim

C(k)=g^(k)g^+(k)F(k,0).

Ver também

Ligações externas