Transformada fracional de Fourier
Em matemática a transformada fracional de Fourier (FRFT, do inglês fractional Fourier transform) é uma transformada integral que pode ser considerada uma generalização da transformada de Fourier multidimensional, baseada nas conhecidas propriedades de "rotação" desta última. Em notação de operadores, para maior concisão, pode-se escrever
onde denota a transformada de Fourier de dimensão n, onde n é um inteiro. Em duas dimensões, as equações acima possuem uma interpretação geométrica simples: a aplicação da transformada de Fourier (bidimensional) duas vezes consecutivas equivale a uma rotação de 180°. Tal interpretação permite afirmar que a aplicação da transformada de Fourier equivale a uma rotação de 90° e, além disso, permite generalizar a transformação de forma a obter-se uma rotação por um ângulo qualquer.
A transformada fracional de Fourier em uma dimensão é denotada por , onde a é um número real. Para a = 1, a FRFT se reduz à transformada de Fourier usual; para valores inteiros maiores que 1, ela equivale à aplicação sucessiva da transformada de Fourier; para a = 0, ela equivale a uma identidade; para a = -1, ela equivale à transformada de Fourier inversa, e assim por diante. A transformada será uma função não apenas da variável ω, mas também de a.
A transformação fracional não é apenas um artifício matemático. Existem situações, em Óptica, por exemplo, em que uma transformação fracional corresponde exatamente ao processo físico (ver exemplo abaixo). Uma propriedade notável da transformação é que a passagem do domínio do tempo ao domínio da frequência deixa de ser abrupta e passa a ser gradual.
A FRFT foi proposta por Victor Namias em 1980, sofreu aperfeiçoamentos durante a década e cresceu em popularidade a partir de 1990. A ideia parece ter ocorrido primeiro a Norbert Wiener, em 1929. Entre as aplicações bem sucedidas até o momento, contam-se a solução da equação de Schroedinger e de outras equações diferenciais de segunda ordem, além de problemas selecionados em Óptica e em Análise de sinais. A transformada fracional de Fourier pode também ser relacionada com a distribuição de Wigner, uma ferramenta importante na análise de sinais não-estacionários[1][2][3].
Uma versão discreta também foi definida, para uso em processamento digital, a transformada fracional discreta de Fourier.[3]
Definições
Transformada unidimensional
A transformada fracional de Fourier em uma dimensão é definida pela equação
É possível escrever uma expressão válida para qualquer a, mas é mais simples usar (2a) e aplicar as propriedades da FRFT para obter F(a, ω) para tais valores. Também é possível usar a forma alternativa da transformada, na variável angular α
A transformada inversa é obtida através das mesmas expressões, com a troca do sinal do parâmetro (a ou α) e a troca das variáveis t e ω uma pela outra (ver exemplo).
Condições de existência
Uma condição suficiente, mas não necessária, para que uma função f(t) possua transformada fracional de Fourier é que ela e suas derivadas sejam limitadas de acordo com
Propriedades
Compatibilidade com a transformada de Fourier
Aditividade
Comutatividade
Nulipotência
Deslocamento dos eixos
Derivadas
Para n inteiro positivo
Convolução
onde *a denota a convolução fracionária.[3]
Interpretação física

O fenômeno da difração de Fraunhofer propicia uma interpretação direta da transformada fracional de Fourier. Uma onda plana de luz que atravessa um orifício e em seguida é focalizada por uma lente convergente comum produz uma imagem G(ω,η), em um plano situado a uma distância f, onde f é a distância focal da lente, que é a transformada de Fourier (bidimensional) da imagem original g(x,y). Algumas situações que podem ser exploradas são as seguintes:
- Se um anteparo é colocado a uma distância menor que f, a imagem nele formada será a transformada fracional de Fourier, com a = ½;
- Se a lente única é substituída por um conjunto de lentes com diferentes distâncias focais, a transformada fracional de Fourier pode ser usada para descrever a ação separada de cada uma delas, um valor diferente de a caracterizando cada lente, e também a do conjunto;
- Se a lente única for construída com um material cujo índice de refração diminui com a distância, a transformada fracional de Fourier pode ser usada para descrever a onda resultante em cada ponto no interior da mesma, sendo a lente caracterizada por um determinado valor de a.[1][3]
Exemplos de aplicação
Solução de equação diferencial
A FRFT possui, sobre a transformada de Fourier, a vantagem do parâmetro a ou α adicional, que pode ser escolhido de forma a ajustar a transformação a um dado problema. Seja a equação não-linear de segunda ordem
Aplicando a transformada fracional de Fourier na variável α, de acordo com as propriedades (3g) e (3h), teremos
Escolhendo de forma a eliminar o primeiro termo, teremos b = cot2(α) e, simplificando, teremos
Separando variáveis e integrando, teremos
onde A1 é uma constante. Assim
onde A2 é uma constante. Aplicando a transformação inversa
onde A3 é uma outra constante. Simplificando, obtém-se
Devido ao fato de a função cos(x) ser par e sin(x), ímpar, temos
porque as funções x½ e e2 também são pares. Com uma substituição de variáveis
Transformada fracional discreta de Fourier
Notas
- ↑ Como é usual com transformadas integrais, convivem na literatura versões que diferem em algumas convenções (fatores de escalamento, sinais), mas que são equivalentes de um ponto de vista geral.
Ver também
Ligações externas
- ↑ 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 Bracewell, R. - The Fourier Transform And Its Applications, 3rd. Edition, New York: McGraw-Hill, 2000, ISBN 978-0-1381-4757-0, Cap. 13, pp. 367 a 370
- ↑ 2,00 2,01 2,02 2,03 2,04 2,05 2,06 2,07 2,08 2,09 2,10 2,11 2,12 A. McBride, F. Kerr - On Namias's Fractional Fourier Transforms in IMA Journal of Applied Mathematics, (1987) n°39, pp. 159 a 175
- ↑ 3,0 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 A. Zayed - Shift-Invariant Spaces in the Fractional Fourier Transform Domain, 2010, disponível em http://www.math.niu.edu/~krishtal/IMAHA07/FinalNIU.pdf Predefinição:Wayback, acessado em 07/01/2014