Transformada de Hankel

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A transformada de Hankel pode ser usada na solução da equação de Laplace.

Em matemática, a transformada de Hankel é uma transformada integral bastante relacionada com a transformada de Fourier multidimensional, proposta pelo matemático alemão Hermann Hankel (ver também Lista de transformadas relacionadas à transformada de Fourier). Encontra aplicação na análise de problemas em que se verifica simetria em duas ou mais dimensões, permitindo a substituição de coordenadas cartesianas pelo raio polar; por exemplo, em duas dimensões, faz-se

r=x2+y2

e escreve-se f(r) em lugar de f(x,y), diminuindo-se a complexidade do problema[1]. Um bom exemplo é a equação de Laplace, geralmente uma equação diferencial parcial em x e y, e que se torna uma equação diferencial ordinária em r quando expressa em coordenadas cilíndricas[2] (ver exemplos).

Essa transformada é também conhecida como Transformada de Bessel, uma vez que o núcleo da transformação consiste em uma função de Bessel de primeira espécie[2].

A Transformada de Hankel relaciona-se de forma interessante com a Transformada de Fourier e a Transformada de Abel por meio do Teorema da projeção de fatia[1][3][2]. As transformadas de transformada de Radon e de Tchebychev também podem ser relacionadas à transformada de Hankel (ver detalhes abaixo).


Definição

O núcleo da transformada de Hankel é uma função de Bessel do primeiro tipo.

A transformada de Hankel de ordem ν de uma função f(t) é dada por:


Kν(u)=𝒦ν{f(t)}=2π0f(t)tJν(2πut)dt(1a)


onde Jν é a função de Bessel de primeira espécie de ordem ν, com ν ≥ −1/2. A transformada inversa de Hankel é dada por:


f(t)=𝒦ν1{Kν(t)}=2π0Kν(u)uJν(2πut)du(1b)


Verifica-se, assim, que a transformada é a sua própria inversa, o que se chama, em matemática, uma involução.


Em espaços multidimensionais, sob condições de simetria, a transformada de Hankel de dimensão n é dada por:


Kν(u)=2πuν0f(t)tn2Jν(2πut)dt(2a)


com

ν=n21en=1,2,3...(2b)

Em duas dimensões (n = 2), obtém-se a transformada de Hankel tradicional. Em uma dimensão (n = 1), obtém-se a Transformada de Fourier, após aplicarem-se as identidades


J12(x)=(2πx)12sin(x)eJ12(x)=(2πx)12cos(x)(2c)[1]


Definições alternativas

Definições ligeiramente diferentes podem ser encontradas na literatura especializada. Por exemplo, Howell (2000)[4] e Piessens (2000) adotam as formas seguintes para a transformada e sua inversa:


Kν(u)=0f(t)tJν(ut)dt(1c)


f(t)=0Kν(u)uJν(ut)du(1d)


Bracewell (2000)[1] e Deans (2000)[3] adotam a convenção preferida neste verbete.

Condições de existência

São condições suficientes (embora não necessárias) para a existência da integral (1a):

  • que, para valores crescentes de t, f(t) decresça conforme tk, com k>32
  • que f'(t) seja contínua por partes no intervalo [0,∞] e
  • que f(t)=f(t+)+f(t)2 para todo t.


Propriedades

Derivada

𝒦ν{f(t)}=u[ν+12νKν1(u)+ν12νKν+1(u)](3a)[2]


Dilatação do eixo

𝒦ν{f(at)}=1a2Kν(ua)(3b)[2]


Divisão por t

𝒦ν{1tf(at)}=u2ν[Kν1(u)+Kν+1(u)](3c)[2]


Multiplicação por u

𝒦ν{1t1+νddt[t1+νf(t)]}=uKν+1(u)(3d)[2]


𝒦ν{1t1νddt[t1νf(t)]}=uKν1(u)(3e)[2]


Operador diferencial de Bessel

Se limrf(r)=0, então


𝒦ν{Δνf(r)}=u2Kν(u)(3f)


onde Δν é o operador diferencial de Bessel:


Δν=[d2dr2+1rddr(νr)2]=[1rddrrddr(νr)2][2]


Teorema de Parseval

O teorema de Parseval[nota 1] tem uma fora ligeiramente alterada com relação a outras transformadas conhecidas, devido à geometria radial.


0tf(t)g(t)dt=0u𝒦ν{f(t)}𝒦ν{g(t)}du(3g)[2]


Também é relevante a propriedade


0tf(t)g*(t)dt=0u𝒦ν{f(t)}[𝒦ν{g(t)}]*du(3h)


onde o símbolo * indica o conjugado complexo[1].

𝒦ν{f(t)*g(t)}=2π𝒦ν{f(t)}𝒦ν{g(t)}(3i)


𝒦ν{f(t)g(t)}=12π𝒦ν{f(t)}*𝒦ν{g(t)}(3j)[2]


Momentos

K0(0)=2π0tf(t)dt(3k)


dduK0(u)|u=0=4π30t3f(t)dt(3l)


f(0)K0(0)=4π2[0tf(t)dt][0uF(u)du](3m)[1]


Relação com outras transformadas

A transformada de Hankel se relaciona com a transformada de Radon bidimensional por meio da seguinte expressão, em forma de operadores:


𝒦ν=(1(i)νeiνθ)(3n)


Uma expressão similar vale para a transformada de Tchebychev 𝒯


𝒦ν=(i)ν𝒯(3o)[5]


A transformada de Hankel de ordem 0 relaciona-se com as transformadas de Fourier e de Abel conforme a expressão conhecida como ciclo (ou anel) de transformadas de Abel-Fourier-Hankel:


𝒦0𝒜=(3p)


onde o operador 𝒜 denota a transformada de Abel e , a transformada identidade. Cumpre lembrar que a função bidimensional f(x,y), implícita na fórmula, precisa ser circularmente simétrica para que a transformação de Abel possa ser aplicada[5][1][2].

Outras transformações relacionadas

Transformada Finita de Hankel

A Transformada Finita de Hankel é definida como:


𝒦νF{f(t)}=KνF(α)=01f(t)tJν(αt)dt(4a)


onde α é um zero positivo da função Jν(x). Se, por outro lado, α for um zero positivo da função g(x) = hJν(x) + xJ'ν(x), onde h é uma constante qualquer não-negativa, a equação (4a) define a chamada Transformada Finita de Hankel Modificada, KνM.

Uma notação usual para o n-ésimo zero da função Jν(x) é jν,n; uma notação usual para o n-ésimo zero da função hJν(x) + xJ'ν(x) é βν,n,h (ou mesmo apenas βν,n). Para h=0, α passa a ser um zero positivo da função J'ν(x), usualmente denotado por j'ν,n.

As transformações inversas são obtidas através das fórmulas


f(t)=2n=1KνF(α)Jν(αt)Jν+12(α)=2n=1KνF(jν,n)Jν(jν,nt)Jν+12(jν,n)(4b)


e


f(t)=2n=1KνM(α)α2Jν(αt)(h2+α2ν2)Jν2(α)=2n=1KνM(βν,n,h)βν,n,h2Jν(βν,n,ht)(h2+α2ν2)Jν2(βν,n,h)(4c)


A propriedade importante dessas transformadas é a seguinte:


𝒦νF{Δνf(r)}=α2KνF(α)αf(1)Jν(α)+f(1)Jν(α)(4d)


𝒦νM{Δνf(r)}=α2KνM(α)+hf(1)Jν(α)+f(1)Jν(α)(4e)


onde Δν é o operador diferencial de Bessel[2].

Transformada de Weber

Se em lugar do núcleo Jν(ut) for usada a função


wν(u,t)=Jν(ut)Yν(u)Jν(u)Yν(ut)(4f)


onde Yν é a função de Bessel de segunda espécie de ordem ν, a equação


Wν(u)=𝒲ν{f(t)}=1f(t)twν(ut)dt(4g)


define a Transformada de Weber de ordem ν de f(t). A transformação inversa é dada por


f(t)=𝒲ν1{Wν(u)}=0Wν(u)uwν(ut)Jν2(u)+Yν2(u)du(4h)


A propriedade notável dessa transformada é a seguinte: se


f(t)=g(t)+1tg(t)(νt)2g(t)


então


𝒲ν{f(t)}=u2𝒲ν{g(t)}2πg(1)(4i)[2]


Transformada multidimensional de Hankel

Uma fórmula geral para a transformada de Hankel em n dimensões, válida para situações onde exista a devida simetria, é a seguinte:


𝒦n{f(t)}=2πun210f(t)Jn21(2πut)tn2dt(4j)


Essa fórmula pode ser usada para calcular a transformada de Hankel para n = 3. Com n = 2, a fórmula fornece a definição conhecida de 𝒦0. Com n = 1, obtém-se, após as devidas simplificações, a transformada de Fourier unidimensional[1].


Tabela de Transformadas de Hankel

Na maioria das vezes, devido ao fato de as funções de Bessel não serem expressas em forma fechada, a avaliação da Transformada de Hankel deve ser feita por métodos numéricos. Em alguns casos, entretanto, ela pode ser escrita como uma fórmula relativamente simples. As tabelas abaixo trazem alguns exemplos.

Tabela 1 - Transformadas de Hankel de ordem 0 de algumas funções f(t)[2][1]
f(t) K0(u)
1t 1u
t2a π(πu)22aΓ(1a)Γ(a)
u(bt) buJ1(2πbu)
ebt 2πb(4π2u2+b2)32
ebtt 2π4π2u2+b2
1ebtt2 2πln(a2πu+[a2πu]2+1)
sin(t)t {2π14π2u2:u<12π0:u12π
sin(t)t2 {π2:u12π2πarcsin(12πu):u>12π
sin(ct)t2+b2 π2ebcI0(2πbu)0<u<c2π
cos(ct)t2+b2 2πcosh(bc)X0(2πbu)0<u<c2π
1t2+b2 2πY0(2πbu)
eb2t2 πb2eπ2u2b2
1t(t+b) π2(H0(2πbu)Y0(2πbu))
1t2+b2 2πK0(2πbu)
1t(t2+b2) π2b[I0(2πbu)L0(2πbu)]
1t2+b2 e2πbuu
rect(t2b) buJ1(2πbu)
δ(tb) 2πbJ0(2πbu)
onde:
Tabela 2 - Transformadas de Hankel de ordem ν de algumas funções f(t)[2]
f(t) Kν(u)
1t 1u
ta π(πu)2aΓ(2+νa2)Γ(ν+a2)
tν(b2t2)du(bt) πbd+ν+1(πu)(d+1)Γ(d+1)Jν+d+1(2πbu)
sin(ct)t {2π4π2u2c2sin(νarcsin(c2πu)):u>c2π2πc24π2u2[2πuc+c24π2u2]νcos(νπ2):u<c2π
sin(ct)t2 {2πνsin(νarcsin(c2πu)):u>c2π2πν[2πuc+c24π2u2]νsin(νπ2):uc2π
ebtt 2πu2+4π2a2[4π2u2+b2b2πu]ν
ebtt2 2πν[4π2u2+b2b2πu]ν
onde:

Exemplos de aplicação

Solução de equação diferencial parcial de Laplace

Disco carregado localizado num plano perpendicular ao eixo Z e com centro na origem.

A transformada de Hankel pode auxiliar na solução da equação de Laplace


2V=0(5a)


Suponhamos que as condições de contorno sejam


V(r,θ,0)=V0|0r1zV(r,θ,0)=0|r>1(5b)


onde, devido à simetria, foram escolhidas coordenadas cilíndricas para a formulação. As equações (5a) e (5b) descrevem, por exemplo, o potencial elétrico V em um ponto qualquer (r,θ,z) do espaço tridimensional, causado por um disco eletrificado de raio unitário localizado no plano perpendicuar ao eixo Z e com centro na origem. O potencial do disco é igual a V0.

Para simplificar, novamente devido à simetria do problema, a coordenada polar θ pode ser omitida. A partir da equação do Laplaciano em coordenadas cilíndricas, (5a) se torna então


2V(r,z)=2r2V(r,z)+1rrV(r,z)+2z2V(r,z)=0(5c)


Aplicando a transformada de Hankel de ordem 0 a (5c), com relação à variável r, obtém-se


u2K0(u,z)+2z2K0(u,z)=0(5d)


onde K0(u,z) é a transformada de Hankel de ordem 0 de V(r,z). A solução óbvia de (5d) é


K0(u,z)=ϕ1(u)euz+ϕ2(u)euz(5e)


A "condição de contorno" implícita


limzV(r,z)=0


implica φ2 idênticamente nula. Assim, ao aplicar-se a transformada inversa a (5e), obtém-se


V(r,z)=2π0uϕ1(u)euzJ0(ur)du(5f)


Aplicando (5f) às condições (5b), teremos


V(r,0)=V0=2π0uϕ1(u)J0(ur)du|0r1(5g)


zV(r,0)=0=2π0u2ϕ1(u)J0(ur)du|r>1(5h)


As expressões (5g) e (5h) formam um sistema de equações integrais de Fredholm do primeiro tipo. É conhecida a solução para o caso geral


xβ=0t2αf(t)Jν(xt)dt|0x10=0f(t)Jν(xt)dt|x>11<α<0}f(x)=2αx1αΓ(α+1)01s(ν+α)Jν+α(xs)[dds0stβ+ν+1(s2t2)αdt]ds[2]


que coincide com (5g) e (5h) se fizermos ϕ1(u)=V02πu2f(u),β=0,α=12,ν=0. Assim,


f(x)=212x32Γ(12)01s12J12(xs)[dds0st(s2t2)12dt]ds=212x32π1201s12J12(xs)dds[(s2t2)12|0s]ds


f(x)=2x3π01s12J12(xs)dds[s]ds=2x3π01s12J12(xs)ds(5i)


Mas


01xν+1Jν(ax)dx=1aJν+1(a)|{ν}>1[6]


Fazendo ν = -½ na expressão acima e aplicando em (5i), temos


ϕ(u)=V02πu22u3π1uJ12(u)=V02π3u3J12(u)


Lançando mão da identidade


J12(x)=2πxsin(x)[7]


temos


ϕ(u)=V0π2u2sin(u)


E a resposta do problema é


V(r,z)=2V0π0u1sin(u)euzJ0(ur)du(5j)


A expressão (5j) deve ser integrada numericamente para se obter o valor do potencial para cada ponto do espaço.

Notas

  1. Também referido como Teorema de Plancherel.


Predefinição:Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 Bracewell, R. - The Fourier Transform And Its Applications, 3rd. Edition, New York: McGraw-Hill, 2000, ISBN 978-0-1381-4757-0, Cap. 13, pp. 335-339, 343
  2. 2,00 2,01 2,02 2,03 2,04 2,05 2,06 2,07 2,08 2,09 2,10 2,11 2,12 2,13 2,14 2,15 2,16 R. Piessens - The Hankel Transform in A. Poularikas (org) - The Transforms and Applications Handbook, 2nd. edition, Boca Raton: CRC, 2000, Cap. 9, pp. 834-977
  3. 3,0 3,1 S. R. Deans - Radon and Abel Transforms in A. Poularikas (org) - The Transforms and Applications Handbook, 2nd. edition, Boca Raton: CRC, 2000, Cap. 8, pp. 788-793
  4. K. Howell - Fourier Transforms in A. Poularikas (org) - The Transforms and Applications Handbook, 2nd. edition, Boca Raton: CRC, 2000, Cap. 2, pp. 192-195
  5. 5,0 5,1 S. Deans - op. cit., pp. 792 a 793
  6. I. Gradshteyn, I. Ryzhik - Table of Integrals, Series, and Products, 7th ed., 2007, San Diego, Academic Press, pág. 676
  7. I. Gradshteyn, I. Ryzhik - op. cit., pág. 924