Teorema de Cox

Fonte: testwiki
Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa

O teorema de Cox, que recebe este nome em homenagem ao físico norte-americano Richard Threlkeld Cox, é uma derivação das leis da teoria das probabilidades a partir de um certo conjunto de postulados. Esta derivação justifica a então chamada interpretação "lógica" da probabilidade, já que as leis de probabilidade derivadas pelo teorema de Cox são aplicáveis a qualquer proposição. A probabilidade lógica, também chamada de bayesiana objetiva, é um tipo de probabilidade bayesiana. Outras formas de bayesianismo, tais como a interpretação subjetiva, recebem outras justificações.

Pressupostos de Cox

Cox desejou que seu sistema satisfizesse as seguintes condições:

  1. Divisibilidade e comparabilidade — A plausibilidade de uma proposição é um número real e é dependente da informação que temos relacionada com a proposição.[1]
  2. Senso comum — Plausibilidades devem variar sensivelmente com a avaliação das plausibilidades no modelo.[2]
  3. Consistência – Se a plausibilidade de uma proposição pode ser derivada em muitas formas, todos os resultados devem ser iguais.[3]

"Senso comum" inclui consistência com a lógica aristotélica no sentido de que proposições logicamente equivalentes terão a mesma plausibilidade.

Os postulados como originalmente afirmados por Cox não eram matematicamente rigorosos.[4][5] No entanto, é possível aumentar estes postulados como vários pressupostos matemáticos feitos implícita ou explicitamente por Cox para produzir uma prova válida.

A notação de Cox é:

  • A plausibilidade de uma proposição A dada alguma informação relacionada X é denotada por A|X.

Os postulados de Cox e as equações funcionais são:

  • A plausibilidade da conjunção AB de duas proposições A,B, dada alguma informação relacionada X, é determinada pela plausibilidade de A dada X e pela de B dada AX. Na forma de uma equação funcional:
    AB|X=g(A|X,B|AX).
Por causa da natureza associativa da conjunção na lógica proposicional, a consistência com a lógica dá uma equação funcional que diz que a função g é uma operação binária associativa.
  • Adicionalmente, Cox postula que a função g é monótona. Todas as operações binárias associativas crescentes em números reais são isomórficas em relação à multiplicação dos números no intervalo [0,1], o que significa que há uma função w que mapeia as plausibilidades em relação a [0,1], tal que:
    w(AB|X)=w(A|X)w(B|AX).
  • A plausibilidade de uma proposição determina a plausibilidade da negação da proposição. Isto postula a existência de uma função f, tal que:
    w(na~oA|X)=f(w(A|X)).
Como "uma dupla negativa é uma afirmativa", a consistência com a lógica dá uma equação funcional:
f(f(x))=x,
o que diz que a função f é uma involução, isto é, é sua própria inversa.
  • Além disso, Cox postula que a função f é monótona. As equações funcionais acima e a consistência com a lógica implicam que:
    w(AB|X)=w(A|X)f(w(na~oB|AX))=w(A|X)f(w(Ana~oB|X)w(A|X)).
Já que AB é logicamente equivalente a BA, também temos:
w(A|X)f(w(Ana~oB|X)w(A|X))=w(B|X)f(w(Bna~oA|X)w(B|X)).
Se, em particular, B=na~o(AD), então Ana~oB=na~oB e Bna~oA=na~oA também e temos:
w(Ana~oB|X)=w(na~oB|X)=f(w(B|X))
e
w(Bna~oA|X)=w(na~oA|X)=f(w(A|X)).
Abreviando w(A|X)=x e w(B|X)=y, temos a equação funcional:
xf(f(y)x)=yf(f(x)y).

Implicações dos postulados de Cox

As leis de probabilidade deriváveis destes postulados são as seguintes.[6] Considere A|B a plausibilidade da proposição A dada B que satisfaz os postulados de Cox. Então, há uma função w que mapeia as plausibilidades em relação ao intervalo [0,1] e um número positivo m, tal que:

  1. A certeza é representada por w(A|B)=1.
  2. wm(A|B)+wm(na~oA|B)=1.
  3. w(AB|C)=w(A|C)w(B|AC)=w(B|C)w(A|BC).

É importante notar que os postulados implicam apenas estas propriedades gerais. Podemos recuperar as leis usuais de probabilidade ao configurar uma função nova, convencionalmente denotada P ou Pr, igual a wm. Então, obtêm-se as leis de probabilidade em uma forma mais familiar:

  1. A verdade certa é representada por Pr(A|B)=1 e a falsidade certa por Pr(A|B)=0.
  2. Pr(A|B)+Pr(na~oA|B)=1.
  3. Pr(AB|C)=Pr(A|C)Pr(B|AC)=Pr(B|C)Pr(A|BC).

A segunda regra é uma regra para negação e a terceira regra é uma regra para conjunção. Dado que qualquer proposição contendo conjunção, disjunção e negação pode ser equivalentemente refraseada usando conjunção e negação apenas (a forma normal conjuntiva), pode-se agora manejar qualquer proposição composta.

As leis assim derivadas produzem aditividade finita de probabilidade, mas não aditividade contável. A formulação teórica da medida de Kolmogorov assume que uma medida de probabilidade é contavelmente aditiva. Esta condição levemente mais forte é necessária para a prova de certos teoremas.

Interpretação e discussão posterior

O teorema de Cox veio a ser usado como uma das justificações para o uso da teoria da probabilidade bayesiana. A probabilidade pode ser interpretada como um sistema formal da lógica, a extensão natural da lógica aristotélica (na qual toda afirmação é verdadeira ou falsa) no domínio do raciocínio na presença de incerteza.[6]

Tem-se debatido com que intensidade o teorema exclui modelos alternativos para raciocínio sobre incerteza. Por exemplo, se certos pressupostos matemáticos "não intuitivos" fossem descartados, então, alternativas poderiam ser concebidas.[4] No entanto, foram sugeridos postulados adicionais de "senso comum" que permitiriam o relaxamento dos pressupostos em alguns casos.[1][2][3] Outras abordagens em direção semelhante já foram desenvolvidas.[7][8]

Cox formulou pela primeira vez o teorema em 1946.[9] Em 1961, estendeu o teorema com resultados adicionais e mais discussões.[10] O matemático norueguês Niels Henrik Abel foi creditado por ter usado pela primeira vez a equação funcional de associatividade.[6][11] O matemático húngaro-canadense János Aczél ofereceu uma longa prova da equação de associatividade.[12]

Ver também

Referências

Predefinição:Reflist

Predefinição:Portal3