Teorema do núcleo e da imagem
Em matemática, mais especificamente em álgebra linear, o teorema do núcleo e da imagem, em sua forma mais simples, afirma que o posto e a nulidade de uma matriz têm como soma o número de colunas da matriz. Especificamente, se A é uma matriz m-por-n (com m linhas e n colunas) sobre um corpo, então: Isto também se aplica a transformações lineares. Sejam V e W espaços vetoriais sobre algum corpo e seja Predefinição:Nowrap uma transformação linear. Então o posto de T é a dimensão da imagem de T e a nulidade de T é a dimensão do núcleo de T. Tem-se: ou, equivalentemente, Pode-se refinar esta afirmação (por meio do lema de splitting ou a prova abaixo) para que seja sobre um isomorfismo de espaços, em vez de apenas sobre as respectivas dimensões.
Mais geralmente, pode-se considerar a imagem, o núcleo, a co-imagem e o co-núcleo, que estão relacionados pelo teorema fundamental da álgebra linear.
Demonstrações
Serão apresentadas duas demonstrações. A primeira utiliza a notação das transformações lineares, mas pode ser facilmente adaptada para matrizes escrevendo Predefinição:Nowrap, onde A é Predefinição:Nowrap. A segunda prova examina o sistema homogêneo Predefinição:Nowrap associado a uma matriz A Predefinição:Nowrap de posto r e mostra explicitamente que existe um conjunto de Predefinição:Nowrap soluções linearmente independentes que geram o espaço nulo de A. Essas provas também estão disponíveis no livro de Banerjee e Roy (2014)[1]
Primeira demonstração: Suponha que forma uma base de ker T. Pode-se estender esta base para formar uma base de V: Como a dimensão de ker T é m e a dimensão de V é Predefinição:Nowrap, é suficiente mostrar que a dimensão da Predefinição:Nowrap é n.
Para ver que é uma base de Predefinição:Nowrap, seja v um vetor arbitrário em V. Existe uma única sequência de escalares tais que: Assim, gera Predefinição:Nowrap.
Agora, é preciso mostrar que esta lista não tem redundâncias; isto é, que é linearmente independente. Pode-se fazer isso mostrando que uma combinação linear destes vetores é zero se, e somente se, os coeficientes de cada vetor são zero. Seja: Então, como ui geram ker T, existe um conjunto de escalares di tais que: Mas, como é uma base de V, todos os ci, di devem ser zero. Portanto, é linearmente independente e de fato uma base de Predefinição:Nowrap. Isto prova que a dimensão de Predefinição:Nowrap é n, como desejado.
Em termos mais abstratos, a aplicação Predefinição:Nowrap cinde.
Segunda demonstração: Seja A uma matriz Predefinição:Nowrap com r colunas linearmente independentes (isto é o posto de A é r). Será mostrado que: (i) existe um conjunto de Predefinição:Nowrap soluções linearmente independentes para o sistema homogêneo Predefinição:Nowrap, e (ii) que toda outra solução é uma combinação linear destas Predefinição:Nowrap soluções. Em outras palavras, será produzida uma matriz X de ordem Predefinição:Nowrap cujas colunas formam uma base do espaço nulo de A.
Sem perda de generalidade, assuma que as primeiras r colunas de A são linearmente independentes. Então, pode-se escrever Predefinição:Nowrap, em que A1 é Predefinição:Nowrap com r vetores colunas linearmente independentes e A2 é Predefinição:Nowrap, sendo cada uma de suas Predefinição:Nowrap colunas combinações lineares das colunas de A1. Isto significa que Predefinição:Nowrap para alguma matriz B (ver fatoração de posto) e, assim, Predefinição:Nowrap. Seja em que é a matriz matriz identidade (n − r) × (n − r). Note que X é uma matriz Predefinição:Nowrap que satisfaz Portanto, cada uma das Predefinição:Nowrap colunas de X são soluções particulares de Predefinição:Nowrap. Além disso, as Predefinição:Nowrap colunas de X são linearmente independentes, pois Predefinição:Nowrap implica Predefinição:Nowrap: Portanto, os vetores coluna de X constituem um conjunto de n − r soluções linearmente independentes de Ax = 0.
A seguir será provado que qualquer solução de Predefinição:Nowrap tem de ser uma combinação linear das colunas de X. Para isso, seja qualquer vetor tal que Predefinição:Nowrap. Note que como as colunas de A1 são linearmente independentes, Predefinição:Nowrap implica Predefinição:Nowrap. Portanto, Isso prova que qualquer vetor u que é uma solução de Predefinição:Nowrap tem de ser uma combinação linear das Predefinição:Nowrap soluções especiais dadas pelas colunas de X. E já foi mostrado que as colunas de X são linearmente independentes. Assim, as colunas de X constituem uma base para o espaço nulo de A. Por conseguinte, a nulidade de A é Predefinição:Nowrap. Como r é igual ao posto de A, segue-se que Predefinição:Nowrap. QED.
Reformulações e generalizações
Este teorema é uma instância do primeiro teorema de isomorfismo da álgebra para o caso de espaços vetoriais; ele se generaliza para o splitting lemma.
Em uma linguagem mais moderna, o teorema também pode ser expresso como segue:
- 0 → U → V → R → 0
é uma sequência exata curta de espaços vetoriais, então
- dim(U) + dim(R) = dim(V).
Aqui R desempenha o papel de im T e U é o ker T, isto é No caso de dimensão finita, esta formulação é suscetível a uma generalização: se
- 0 → V1 → V2 → ... → Vr → 0
é uma sequência exata de espaços vetoriais de dimensão finita, então [2] O teorema do núcleo e da imagem para espaços vetoriais de dimensão finita também podem ser formulado em termos do índice de uma transformação linear. O índice de uma transformação linear Predefinição:Nowrap, em que V e W têm dimensão finita, é definido por
- índice T = dim(ker T) − dim(coker T).
Intuitivamente, dim(ker T) é o número de soluções independentes x da equação Predefinição:Nowrap e dim(coker T) é o número de restrições independentes que devem ser impostas sobre y que Predefinição:Nowrap tenha solução. O teorema do núcleo e da imagem para espaços vetoriais de dimensão finita é equivalente à afirmação de que
- índice T = dim(V) − dim(W).
Pode-se obter o índice da transformação linear T a partir dos espaços envolvidos, sem a necessidade de se analisar T em detalhe. Este efeito também ocorre em um resultado muito mais profundo: o teorema do índice de Atiyah–Singer afirma que o índice de certos operadores diferenciais pode ser obtido da geometria dos espaços envolvidos.