Transformada de Legendre

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A transformada de Legendre consiste em uma transformação matemática que, quando aplicada sobre uma função Y=Y(X0,X1,X2,...Xn) sabidamente diferenciável em relação às suas variáveis independentes xi , fornece como resultado uma nova equação na qual as derivadas parciais Pi=Y(X0,X1,...Xn)xi associadas, e não as variáveis xi em si, figuram como variáveis independentes. A nova equação consiste na "mesma" equação inicial, mas agora "em uma forma reescrita", Ψ=Ψ(P0,P1,P2,...Pn). A Transformada de Legendre realiza-se sempre de forma que nunca se perca qualquer informação presente na equação original, devendo as mesmas informações estarem sempre contidas na nova equação.[1]

A Transformada de Legendre e a Termodinâmica

A Transformada de Legendre encontra enorme aplicação em uma área da Física conhecida por Termodinâmica, área que tem por objetivo o estudo dos sistemas constituídos por "infinitos" entes físicos, moléculas em uma amostra confinada de gás, a exemplo.

Equação fundamental e Equação de estado

Em termodinâmica, cada sistema em estudo é descrito por uma equação matemática conhecida por equação fundamental, uma equação que retém em si todas as informações físicas associadas a este sistema. O conceito de equação fundamental reside no fato de, uma vez estabelecida a fronteira do sistema - o seu volume -, o número de entes que o compõem - o seu conteúdo material -, e a energia interna do sistema - o seu conteúdo em energia -, as condições deste sistema no equilíbrio termodinâmico encontram-se por estas grandezas (e algumas outras em sistemas mais complexos, como os magnéticos) então completamente determinadas, sendo obviamente calculáveis a partir destas.

As informações físicas, quando necessárias, podem ser extraídas da equação fundamental empregando-se um formalismo matemático inerente ao estudo da termodinâmica. A exemplo, para sistemas simples, no formalismo da entropia, a equação fundamental para a entropia S em um gás ideal será dependente das grandezas volume (V), número de partículas (e não de moles) N, e da Energia Interna U: S=S(U,V,N). No formalismo da energia, isolando-se a energia interna U em S(U,V,N) tem-se facilmente U(S,V,N), também uma equação fundamental. Qualquer informação física, incluindo-se as equações de estado, a exemplo a equação de Clapeyron PV=NRT e a equação da energia U=n2KbT (n= 3; 5; ... ) para o caso dos gases ideais, pode ser facilmente extraídas da equação fundamental.

Repare que as duas equações anteriores, a de Clapeyron P(V,T,N) e a da energia U=U(T), em função das grandezas tomadas como independentes, são equações de estado e não equações fundamentais do sistema, e portanto não retém em si, quando isoladas, todas as informações necessárias à determinação de todas as propriedades físicas do sistema. Caso conheçam-se as equações de estado de um sistema pode-se obter uma, e em consequência - mediante transformadas de Legendre - todas as equações fundamentais do sistema, mas para isto é necessário que conheçam-se de antemão todas as equações de estado do sistema, sem ausência de nenhuma delas. A título de curiosidade a equação fundamental para um sistema composto por N partículas de um gás ideal confinados em um volume V e com energia interna U é, na representação entrópica, com kB representando a constante de Boltzman e c uma constante, e a menos de constante(s) acompanhando a grandeza N com unidade(s) definida(s) de forma a tornar correta a análise dimensional, não explicitamente indicadas aqui:[2]

S(U,V,N)=32NkBln(UN)+NkBln(VN)+NkBc [3]

Isolando-se U, tem-se, na representação da energia:

U(S,V,N)=N(NV)23e23(SNkBc)

Verifica-se experimentalmente, entretanto, que as grandezas intensivas como a pressão P , temperatura T, e potencial químico μ ( onde P=U(S,V,N)V , μ=U(S,V,N)N e T=U(S,V,N)S no formalismo termodinâmico da energia) são muito mais acessíveis por medidas experimentais do que as grandezas extensivas como o volume V, entropia S e número de partículas N. Seria portanto extremamente conveniente, em acordo com a situação, principalmente em situações onde uma ou mais destas permaneçam constantes, que a equação fundamental pudesse ser reescrita, sem perda de informação, em função destas grandezas intensivas.

Representações no Formalismo da Energia

A Transformada de Legendre cumpre exatamente o papel na termodinâmica de permitir que se escreva a equação fundamental de um sistema em função das grandezas intensivas (e/ou extensivas) associadas, e não apenas em função das correspondentes extensivas. Em acordo com a grandeza extensiva "transformada" para a intensiva a ela conjugada, dentro do formalismo da energia, a exemplo, surgem várias representações possíveis para a equação fundamental, a saber:

  • A energia interna U, onde U=U(S,V,N) : a representação padrão no formalismo da energia.
  • A entalpia H, onde H=H(S,P,N): decorre da substituição da grandeza extensiva V em U=U(S,V,N) pela correspondente intensiva, P, mediante H= U+PV , sendo H=H(S,P,N) "mais adequada" para o estudo das transformações isobáricas.
  • A energia livre de Gibbs G, onde G=G(T,P,N): decorre das substituições da grandeza extensiva S pela correspondente intensiva, T, e da grandeza extensiva V pela correspondente grandeza conjugada P em U=U(S,V,N), mediante G= U-TS+PV , sendo G=G(T,P,N) "mais adequada" para o estudo de processos que ocorrem à temperatura e pressão constantes.
  • O grande potencial canônico, C=C(T,V,μ1,μ2...), decorre das substituições da grandeza extensiva S pela correspondente intensiva, T, e das grandezas extensivas Ni pelas correspondentes intensivas μi em U=U(S,V,N1,N2...), mediante C=UTSΣμiNi , sendo C=C(T,V,...,μi) "mais adequada" para o estudo de processos onde ocorrem várias substâncias misturadas (N_1, N_2,...) e, mesmo em caso de substância única, trocas de partículas à temperatura constante.

Em função da entropia S ser sempre uma função monótona crescente da energia interna U, a equação fundamental fundamental U=U(S,V,N) pode sempre ser "facilmente" reescrita, mediante troca de variáveis, para fornecer a equação, também fundamental, S=S(U,V,N), o que, de forma similar ao feito para o formalismo da energia, dá origem ao que se conhece por formalismo termodinâmico da entropia (ou entrópico), igualmente aplicável ao estudo dos sistemas termodinâmicos e capaz de fornecer os mesmos resultados e informações antes obtidos no formalismo da energia. Transformadas de Legendre podem ser igualmente aplicadas à equação fundamental S=S(U,V,N) em acordo com o caso em estudo, fornecendo equações fundamentais que nem sempre recebem nomes especiais, sendo estas genericamente conhecidas por funções de Massieu. No formalismo da energia, a energia interna U(S,V,N) e suas transformadas são geralmente conhecidas por potenciais termodinâmicos.

A transformada de Legendre

Descrição

O gráfico de uma função, e de sua reta tangente, com inclinação f'(x)=P(x)=f(x)x no ponto x.
Há duas formas de se especificar a curva vista em vermelho na figura: fornecendo-se diretamente a relação entre Y e X (a exemplo Y=X²), ou especificando-se o conjunto de retas a ela tangentes - vistas em azul na figura. Para definir-se este conjunto de retas especifica-se a relação existente entre o interceptos Ψ e as inclinações P das respectivas retas: Ψ=P2/4 no exemplo. A transformada de Legendre,quando aplicada a uma das equações, fornece a outra (ou, ao rigor da matemática, menos a outra: Ψ=+P2/4).

Para a compreensão da transformação de Legendre ir-se-á considerar aqui a interpretação geométrica da Transformada de Legendre, e por comodidade mas sem perda de generalidade, considerar-se-á também uma função Y(X) dependente de apenas uma variável independente, X.

Sendo P=Y(X)x=dY(X)dx no presente caso, à primeira vista pode parecer que para se obter uma função Y(P) onde P e não X desempenha o papel de variável independente bastaria eliminar-se X em Y(X) mediante a relação estabelecida entre P e X por P=dY(X)dx. Um reflexão um pouco mais aguçada, entretanto, mostrará que neste processo perde-se informação associada à curva inicial visto que, uma vez conhecido Y(P), não se pode inverter o processo de forma a se obter novamente de forma unívoca a função inicial Y(X). Na transformação proposta a informação relativa à inclinação associada a um dado ponto da curva inicial Y(X) é preservada para cada ponto da curva, mas a informação sobre qual é exatamente este ponto X, ou seja, a informação de onde a reta tangente em X corta o eixo Y, não. Assim, apesar de ser possível se reconstruir o "formato" da curva inicial Y(X) partindo-se de Y(P), a determinação da distância exata desta curva ao eixo coordenado Y no gráfico não será possível, podendo a curva que se obtém da reconstrução transladar livremente na horizontal; a informação da posição correta desta se perde na transformação inicial, conforme proposta.

A solução para o problema deve ser obtida partindo-se da observação de que qualquer equação Y(P) que permita construir a família de retas tangentes a uma dada curva - e não apenas conhecer a inclinação de cada reta tangente em questão - automaticamente determina a própria curva de forma tão boa quanto o faz a equação Y(X) da curva.

Para tal, considere a reta tangente à curva Y(X) no ponto específico (X,Y) cuja inclinação é P (ver figura). É possível identificar o ponto ψ onde esta reta intercepta o eixo Y e perceber que, da definição de inclinação de uma reta:

P=ΔYΔX=YψX0

donde tem-se

ψ=YPX

Como as expressões Y(X) e P=P(X) são conhecidas, uma simples álgebra matemática permite a eliminação de X e Y em favor de P e ψ na equação acima, o que fornece a procurada relação ψ=ψ(P). Esta relação claramente permite a reconstrução de cada uma das retas tangentes com precisão, pois fornecendo-se o valor da inclinação P de uma delas, sabe-se com clareza, então, o ponto ψ onde esta reta deve interceptar o eixo Y.

Para recuperar-se a equação original Y(X) partindo-se da equação ψ(P), basta considerar que a Transformada de Legendre é simétrica, exceto por um sinal de menos na equação de transformação,[4] à sua inversa. Assim, à parte um sinal de menos a se considerar, sendo T a transformação de Legendre, aplicá-la duas vezes em sequência fornecerá a mesma função inicial (T² = 1).

Em resumo tem-se:

A transformada de Legendre: Y(X)<>ψ(P)
Y=Y(X)Ψ=Ψ(P)
P=Y(X)XX=ψ(P)P
Determinar X=X(P) e Y=Y(P)Determinar P=P(X) e Ψ=Ψ(X)
Ψ=PX+YY=XP+Ψ
Eliminação de X e Y fornece Ψ=Ψ(P)Eliminação de P e Ψ fornece Y=Y(X)
Ψ=Ψ(P)Y=Y(X)

Ao rigor da Matemática [5]

Definições

Em matemática, a Transformada de Legendre, em homenagem a Adrien-Marie Legendre, é uma operação que transforma uma função real de variáveis reais em outra. A transformada de Legendre de uma função ƒ é a função ƒ definida por:

f(p)=maxx(pxf(x)).

Se ƒ é diferenciável, então ƒ(p) pode ser interpretado como o negativo [6] do intercepto em Y gerado por uma reta de inclinação particular p quando esta encontre-se tangente ao gráfico de ƒ. Em particular, para o valor de x associado ao máximo anterior tem-se a propriedade:

f(x)=p.

Isto é, a derivada da função ƒ torna-se o argumento da função ƒ. Em particular, se ƒ é convexa (ou côncava para cima), então ƒ satisfaz a definição de um funcional.

f(f(x))=xf(x)f(x).

A Transformada de Legendre é sua própria inversa. Da mesma forma que as transformadas integrais, a Transformada de Legendre pega uma função ƒ(x) e fornece uma função de uma variável diferente p. Entretanto, enquanto as transformadas integrais consistem em integrais com um núcleo, a transformada Legendre usa o processo de maximização como processo de transformação. A transformada de Legendre é especialmente "bem-comportada" se ƒ(x) é uma função convexa.

A Transformada de Legendre é uma aplicação da relação de dualidade entre pontos e linhas. A função especificada por f(x) pode ser igualmente bem representada pelo conjunto de pontos (x, y), ou pelo conjunto de retas tangentes especificadas pelos valores de suas inclinações e pelos seus correspondentes interceptos no eixo coordenado Y.

A transformada de Legendre pode ser generalizada para fornecer a Transformada de Legendre-Fenchel.

A definição de Transformada de Legendre pode ser mais explícita. Para maximizar pxf(x) em relação a x, faz-se a sua derivada igual a zero:

ddx(pxf(x))=pdf(x)dx=0.(1)

Então a expressão é maximizada quando:

p=df(x)dx. (2)

Quando f é convexa, isto é seguramente um máximo porque a segunda derivada é negativa:

d2dx2(xpf(x))=d2f(x)dx2<0,

Em um próximo passo inverte-se (2) para obter-se x como função de p e leva-se o resultado (1) , o que fornece uma forma mais prática para o uso,

f(p)=px(p)f(x(p)).

Esta definição fornece o processo convencional para se calcular a transformada de Legendre de f(x): encontre p=dfdx, inverta para x e substitua o resultado em xpf(x). Esta definição torna clara a seguinte interpretação: a Transformada de Legendre produz uma nova função, na qual a variável independente x é substituída por p=dfdx, o qual é a derivada da função original em respeito a x.

Consideração importante

Há ainda uma terceira definição para Transformada de Legendre: f e f são ditas transformadas de Legendre uma da outra se suas primeiras derivadas são funções inversas uma da outra:

Df=(Df)1.

Pode-se ver isto através do cálculo da derivada de f:

df(p)dp=ddp(xpf(x))=x+pdxdpdfdxdxdp=x.

Combinando-se esta equação com a condição de maximização ter-se-á como resultado o seguinte par de equações recíprocas:

p=dfdx(x),
x=dfdp(p).

Vê-se que Df e Df são inversas, conforme prometido. Elas são unívocas a menos de uma constante aditiva que é fixada pelo requerimento adicional de que:

f(x)+f(p)=xp.

embora em alguns casos, a exemplo explicito, na termodinâmica e mecânica clássica, um requerimento não padronizado seja utilizado:

f(x)f(p)=xp.

O último requisito foi o utilizado em todas as demais seções deste artigo, embora o rigor matemático solicite o primeiro: ao rigor da matemática a Transformada de Legendre é exatamente a sua própria inversa, e encontra-se assim diretamente relacionada à Integração por partes.

Exemplos

Com uma variável

A exemplo, aplicar-se-á a transformada de Legendre à função Y(X)=X2

Tem-se, seguindo-se os passos da tabela anterior:

Da linha 2:

P=Y(X)X=2X

Logo, para a linha 3: X=p2

e Y=X2=(p2)2

Da linha 4: Ψ=PX+Y

Eliminando-se X e Y:

Ψ=P(P2)+(P2)2

resulta em:

Ψ=P24

Assim, a Transformada de Legendre para Y(X)=X2 é Ψ(P)=P24 [7]

A transformação inversa ficará a cargo do leitor.

Com duas ou mais variáveis

A título de ilustração calcular-se-á a energia livre de Helmholtz F(T,V,N) para um gás ideal partindo-se da equação fundamental para a energia interna U(S,V,N).

Conforme antes apresentado (e mantidas as mesmas ressalvas), para um gás monoatômico ideal constituído por N partículas confinadas em um volume V e com uma entropia interna S:

U(S,V,N)=N(NV)23e23(SNkBc)

da qual busca-se a energia de Helmholtz F, a ser calculada como:

F=UTS

mediante substituição da variável S pela sua respectiva conjugada, T.

Pelo formalismo termodinâmico tem-se que:

T=(U(S,V,N)S)V,N

onde os índices V e N enfatizam que as grandezas volume V e quantidade de partículas N devem ser tratadas como constantes na derivada parcial. Procedendo-se o cálculo da derivada ter-se-á:

T=(U(S,V,N)S)V,N=23kB(NV)23e23(SNkBc)

Isolando-se a entropia como função da temperatura e demais grandezas ter-se-á:

S=3NkB2ln[32kBT(VN)23]+cNkB

a ser substituída em

F=UTS=N(NV)23e23(SNkBc)TS

o que resulta em:

F=N(NV)23e23(3NkB2ln[32kBT(VN)23]+cNkBNkBc)T(3NkB2ln[32kBT(VN)23]+cNkB)

Uma simples inspeção na equação anterior, mesmo sem simplificá-la, permite a conclusão de que a função F já encontra-se dependente apenas das variáveis T, V e N, conforme pretendido.

Procendo com os cálculos, ter-se-á:

F=N(NV)2332kBT(VN)2332NkBTln[32kBT(VN)23]cNkBT

o que, com mais algumas simplificações, resulta em:

F(T,V,N)=NkBTln(NV)32NkBTln(3kBT2)+NkBT(32c)

que é a Energia Livre de Helmholtz para um gás ideal, uma equação fundamental com exatamente as mesmas informações contidas na equação original para a energia interna.

Novamente termodinâmica, e mecânica clássica

Termodinâmica: tabelas de transformadas

No contexto da termodinâmica, dentre todas as possíveis transformadas de Legendre, as seguintes são particularmente muito frequêntes e importantes:

Transformadas de Legendre na Termodinâmica - Formalismo da Energia - Partindo-se de U(S,V,N) tem-se:
U=U(S,V,N1,N2...)U=U(S,V,N1,N2...)H=H(S,P,N1,N2...)F=F(T,V,N1,N2...)
T=U(S,V,N1,N2...)SP=U(S,V,N1,N2...)V T=H(S,P,N1,N2...)S μi=F(T,V,N1,N2...)Ni
Determinar S=S(T,V,N1,N2...) e U=U(T,V,N1,N2...)Determinar V=V(S,P,N1,N2...) e U=U(S,P,N1,N2...)Determinar S=S(T,P,N1,N2...) e H=H(T,P,N1,N2...) Determinar F=F(T,V,μ1,μ2...) e Ni=Ni(T,V,μ1,μ2...)
F=UTSH=U+PVG=HTSC=FΣμiNi
Eliminação de U e S fornece: Eliminação de U e V fornece: Eliminação de H e S fornece: Eliminação de F e Ni fornece:
Energia Livre de Helmholtz F Entalpia H Energia livre de Gibbs G Grande Potencial Canônico C
F=F(T,V,N1,N2...)H=H(S,P,N1,N2...)G=G(T,P,N1,N2...)C=C(T,V,μ1,μ2...)
Transformadas de Legendre em Termodinâmica - Formalismo da Energia - Para chegar-se a U(S,V,N) tem-se:
F=F(T,V,N1,N2...)H=H(S,P,N1,N2...)G=G(T,P,N1,N2...)C=C(T,V,μ1,μ2...)
S=F(T,V,N1,N2...)TV=H(S,P,N1,N2...)P S=G(T,P,N1,N2...)T Ni=C(T,V,μ1,μ2...)μi
Determinar T=T(S,V,N1,N2...) e F=F(S,V,N1,N2...)Determinar P=P(S,V,N1,N2...) e H=H(S,P,N1,N2...)Determinar G=G(S,P,N1,N2...) e T=T(S,P,N1,N2...) Determinar C=C(T,V,N1,N2...) e μi=μi(T,V,N1,N2...)
U=F+TSU=HPVH=G+TSF=F+ΣμNi
Eliminação de T e F fornece: Eliminação de P e H fornece: Eliminação de G e T fornece: Eliminação de C e μi fornece:
Energia Interna U Energia Interna UEntalpia H Energia Livre de Helmhotz F
U=U(S,V,N1,N2...)U=U(S,V,N1,N2...)H=H(S,P,N1,N2...)F=F(T,V,N1,N2...)

Lagrangianas e Hamiltonianos

No contexto da mecânica clássica o princípio de Lagrange[8] garante que uma função particular, a Lagrangiana do sistema, caracteriza-o completamente no que se refira à sua dinâmica. A Lagrangiana é uma função de 2r variáveis, r coordenadas generalizadas e r velocidades generalizadas, e desempenha em mecânica, de forma similar ao de S(U,V,N) na termodinâmica, o papel de equação fundamental para a dinâmica:

L=L(v1,v2,...,vr,q1,q2,...,qr)

Sendo uma equação fundamental, aplicando-se o formalismo da mecânica Lagrangiana pode-se então chegar às equações diferenciais e posteriormente às equações horárias que descrevem toda a dinâmica do sistema em questão.

A transformada de Legendre aplica-se também à Lagrangiana. Neste contexto, o momento generalizado Pk conjugado à correspondente velocidade vk é definido como a deriva parcial da lagrangiana em relação à respectiva velocidade vk (k<=r):

Pk=L(v1,v2,...,vr,q1,q2,...,qr)vk

Caso deseje-se substituir como variáveis independentes todas as velocidades pelos correspondentes momentos, devem-se fazer Transformadas de Legendre em relação a todas as velocidades. Assim, introduz-se uma nova função, chamada Hamiltoniano, definida por:

(H)=LΣ1rPkvk

Um novo formalismo dinâmico, a mecânica hamiltoniana, pode então ser empregada em termos da nova equação fundamental H(P1,P2,...Pr,q1,q2,...,qr)

As hamiltonianas são particularmente importantes no estudo da mecânica quântica.

Exemplo

Oscilador harmônico simples ideal. O estudo deste sistema pode ser feito através do conhecimento de sua Lagrangiana ou de seu Hamiltoniano. Conhecida um destas funções, obtém-se facilmente a outra através da Transformada de Legendre

Inicialmente determinar-se-á a Lagrangiana e posteriormente o Hamiltoniano para um oscilador harmônico unidimensional constituído de uma massa presa em uma das extremidades de a uma mola e apoiada em uma mesa sem atrito.

A Lagrangiana do sistema é definida no contexto da mecânica lagrangiana como a diferença entre a energia cinética T e a energia potencial U do sistema, o que para este presente caso resulta, considerado que só há energia potencial elástica no sistema:

L(x,x˙)=TU=12mx˙212kx2

Nesta equação, x˙ representa a velocidade da partícula associada à coordenada x.

A partir desta equação fundamental pode-se, de posse do formalismo da mecânica lagrangiana e do Princípio de Lagrange, determinar a equação de movimento para a massa.

Para fins de comparação das soluções, a solução no formalismo lagrangiano é apresentado abaixo, partindo-se para tal do Princípio de Lagrange que afirma, sendo

L=L(x1,x2,...,xn,x1˙,x2˙,...,xn˙) tem-se, com i=1,2,...

que:

LxiddtLxi˙=0

Para o problema em questão:

Lx=kx

Lx˙=mx˙

ddt(Lx˙)=mx¨

O que, substituído na equação para o Princípio de Lagrange, fornece:

mx¨+kx=0, que é a equação diferencial para o sistema em estudo.

A solução desta equação diferencial leva a uma função horária cossenoidal para o movimento da massa no oscilador harmônico simples considerado (para a solução, consulte o artigo dedicado).

X(t)=Acos(kxωt+ϕ)

onde ω=(km)12

Procura-se agora chegar a uma mesma solução através do formalismo da mecânica hamiltoniana.

O Hamiltoniano para o sistema pode ser obtida através da Transformada de Legendre aplicada à Lagrangiana, conforme descrito anteriormente.

Seguindo-se os passos prescritos, o momento generalizado associado à velocidade x˙ é:

P=L(x,x˙)x˙=mx˙

de onde, isolando-se x˙

x˙=Pm

Determinando-se o Hamiltoniano H através de

(H)=LPx˙

tem-se, já eliminando-se x˙ em favor de P:

(H)=12m(Pm)212kx2P(Pm)

Resolvendo, chega-se ao Hamiltoniano do sistema, uma equação fundamental que contém igualmente todas as informações necessárias sobre a dinâmica do sistema:

H(P,x)=P22m+12kx2

Aplicar-se-á agora o formalismo da mecânica hamiltoniana a fim de se comparar os resultados.

As equações diferenciais de movimento no formalismo de Hamilton são, já adaptadas ao problema unidimensional com variáveis x e P (fez-se q=x para tal):

x˙=HP=P/m

P˙=Hx=kx

Da primeira tem-se:

P=mx˙ donde

P˙=mx¨ para um sistema com massa constante.

Substituindo na segunda:

P˙=kx=mx¨

e por fim

kx+mx¨=0

que é a mesma equação diferencial antes obtida pelo formalismo lagrangiano, o que leva à mesma solução já apresentada, obviamente.

Ver também

Predefinição:Referências

  1. A redação da maior parte deste artigo dá-se em acordo com o descrito em Callen, Herbert B. - Thermodynamics and An Introduction to Thermostatics - John Wiley & Sons - ISBN 0-471-86256-8
  2. A saber, o expoente em funções exponenciais e o argumento em logaritmos devem ser adimensionais. Para maiores detalhes, consulte a versão anglófona do artigo Gases ideais.
  3. Em acordo com Salinas, Sílvio R. A. - Introdução à Física Estatística - EdUSP - 1999 - ISBN 85-314-0386-3
  4. O leitor é alertado neste ponto sobre algumas sutilezas na(s) definição(ões) de Transformada de Legendre, devendo o mesmo proceder a leitura da seção Consideração importante para maiores detalhes.
  5. Conforme tradução parcial do artigo encontrado na versão anglófona da Wikipédia em 14 de fevereiro de 2010 às 22:58 horas.
  6. Em termodinâmica e em várias outras situações não considera-se este sinal, devendo tomar-se algum cuidado quanto ao mesmo, conforme mais adiante explicado no presente texto.
  7. Ao rigor da matemática, Ψ(P)=+P24.
  8. Para maiores detalhes sobre os formalismos de Lagrange e de Hamilton consulte Thornton; Marion - Classical Dynamics of Particle and Systems Fourth Edition - Sounders College Publishing, 1995 - ISBN 0-03-097302-3