Transformação de Householder

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Householder reflection for QR decomposition

Em álgebra linear, uma transformação de Householder (também conhecida como uma reflexão de Householder ou refletor elementar) é uma transformação linear que descreve uma reflexão em relação a um plano ou hiperplano que contém a origem. A transformação de Householder foi introduzida em 1958 por Alston Scott Householder.[1]

O seu análogo em espaços com produto interno mais gerais é o operador de Householder.

Definição

Transformação

O hiperplano de reflexão pode ser definido por um vetor unitário v (um vetor de comprimento 1) que é ortogonal ao plano. A reflexão de um ponto x em relação a este hiperplano é a transformação linear:

x2x,vv=x2v(vHx),

em que v é dado como um vetor coluna unitário com conjugado transposto vH.

Matriz de Householder

A matriz construída a partir dessa transformação pode ser expressa em termos de um produto externo como:

P=I2(vv)=I2vvH

é conhecida como a matriz de Householder, em que I é a matriz de identidade.

Propriedades

A matriz de Householder tem as seguintes propriedades:

  • é Hermitiana: P=PH,
  • é unitária: P1=PH,
  • consequentemente, é involutiva: P2=I.
  • Uma matriz de Householder tem autovalores ±1. Para ver isto, note que se u é ortogonal ao vetor v que foi utilizado para criar o refletor, então Pu=u, ou seja, 1 é um autovalor de multiplicidade n1, uma vez que existem n1 vetores linearmente independentes ortogonais a v. Além disso, observe que Pv=ve assim 1 é um autovalor com multiplicidade 1.
  • O determinante de um refletor de Householder é 1, uma vez que o determinante de uma matriz é o produto de seus autovalores e, neste caso, um deles é 1 e o restante é 1 (como no ponto anterior).

Aplicações

Óptica geométrica

Em óptica geométrica, a reflexão especular pode ser expressa em termos da matriz de Householder (reflexão especular#Formulação vetorial).

Álgebra linear numérica

As transformações de Householder são amplamente utilizadas na álgebra linear numérica, para realizar decomposiçes QR e são o primeiro passo do algoritmo QR. Elas também são amplamente utilizadas para a tridiagonalização de matrizes simétricas e para a transformação de matrizes não-simétricas para a forma de Hessenberg.

Decomposição QR

As reflexões de Householder podem ser usadas para calcular a decomposição QR refletindo primeiramente uma coluna de uma matriz sobre um múltiplo de um vetor da base canônica, calculando a matriz de transformação, multiplicando-a com a matriz original e, então, continuando recursivamente com os menores (i,i)daquele produto.

Tridiagonalização

Este procedimento é retirado do livro de Análise Numérica, de Burden e Faires, 8ª Edição. No primeiro passo, para formar a matriz de Householder de cada etapa é preciso determinar α e r, que são:

α=sgn(a21)j=2naj12;r=12(α2a21α);

A partir de α e r, constrói-se o vetor v:

v(1)=[v1v2vn],

em que v1=0, v2=a21α2re

vk=ak12r para cada k=3,4n

Então calcula-se:

P1=I2v(1)(v(1))TA(2)=P1AP1

Tendo encontrado P1 e calculado A(2) o processo é repetido para k=2,3,,n2 como segue:

α=sgn(ak+1,kk)j=k+1n(ajkk)2r=12(α2ak+1,kkα)v1k=v2k==vkk=0vk+1k=ak+1,kkα2rvjk=ajkk2r for j=k+2, k+3, , nPk=I2v(k)(v(k))TA(k+1)=PkA(k)Pk

Continuando desta forma, forma-se a matriz tridiagonal e simétrica.

Exemplos

Este exemplo foi tirado do livro de Análise Numérica, de Richard L. Burden (Autor), J. Douglas Faires. Neste exemplo, a dada matriz é transformada em uma matriz semelhante tridiagonal A3 usando o método de Householder.

𝐀=[4122120120322121],

Seguindo-se os passos método de Householder, tem-se:

A primeira matriz de Householder:

P1=[100001/32/32/302/32/31/302/31/32/3],A2=P1AP1=[4300310/314/3015/34/304/34/31],

Usando A2 para formar

P2=[10000100003/54/5004/53/5],A3=P2A2P2=[4300310/35/3005/333/2568/750068/75149/75],

Como se pode ver, o resultado final é uma matriz tridiagonal simétrica, que é similar à original. O processo é concluído depois de duas etapas.

Relação teórica e computacional com outras transformações unitárias

A transformação de Householder é uma reflexão em relação a um hiperplano com vetor normal unitário v, como já foi dito anteriormente. Uma transformação unitária U de ordem N-por-Nsatisfaz UUH=I. O cálculo do determinante (N-ésima potência da média geométrica) e do traço (proporcional à média aritmética) de uma matriz unitária revela que seus autovalores λi tem módulo um. Isso pode ser visto de forma rápida e direta: Trace(UUH)N=j=2N|λj|2N=1,det(UUH)=j=1N|λj|2=1.

Como as médias aritmética e geométrica são iguais se as variáveis são constantes (ver a desigualdade entre as médias aritmética e geométrica), pode-se estabelecer a alegação de que o módulo é um.

Para o caso de matrizes unitárias reais obtém-se matrizes ortogonais, UUT=I. Segue-se diretamente (ver matriz ortogonal) que qualquer matriz ortogonal pode ser decomposta em um produto de rotações 2 por 2, chamadas de rotações de Givens, e reflexões de Householder. Isso tem um grande apelo intuitivo, já que a multiplicação de um vetor por uma matriz ortogonal preserva o comprimento do vetor, e as rotações e reflexões esgotam o conjunto de operações geométricas (com valores reais) que preservam o comprimento dos vetores.

Demonstrou-se que a transformação de Householder tem uma relação biunívoca com a decomposição canônica em cosets das matrizes unitárias definida em teoria de grupos, o que permite que os operadores unários sejam parametrizados de uma forma muito eficaz.[2]

Finalmente, nota-se que uma única transformação de Householder, ao contrário de uma única transformação de Givens, pode atuar em todas as colunas de uma matriz e, como tal, apresenta o menor custo computacional para a decomposição QR e a tridiagonalização. O aspecto negativo desta optimalidade computacional é, naturalmente, que as operações de Householder não podem ser paralelizadas tão profundamente ou eficientemente. Como tal, é preferível usar Householder para matrizes densas em máquinas sequenciais, enquanto que Givens é preferível em matrizes esparsas, e/ou máquinas paralelas.

Referências